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Anik Suzuki: "Organizações que não integram ESG à estratégia central estarão vulneráveis a crises e perda de valor". (Gladstone Campos/Divulgação)
Editora ESG
Publicado em 6 de abril de 2025 às 12h06.
Última atualização em 6 de abril de 2025 às 12h15.
Em um ano que promete intensas transformações tecnológicas e de cenário político e econômico, as maiores empresas brasileiras elegeram como prioridade máxima para 2025 o desenvolvimento humano e a atualização de processos.
Enquanto a inteligência artificial redesenha o panorama corporativo, o estudo "As prioridades da alta liderança para 2025", da consultoria de gestão de reputação e crises ANK Reputation, com 117 empresários, conselheiros e executivos C-Level, aponta para uma realidade onde a governança ganha protagonismo, impulsionada por crises recentes.
No entanto, as iniciativas ESG completas ainda lutam por espaço estratégico, mesmo no ano em que o Brasil sediará a COP30.
A pesquisa abrangeu organizações de diversos portes — 42% com faturamento acima de R$ 1 bilhão e 36,8% com receitas de até R$ 300 milhões — e mostra que as lideranças reconhecem a importância do capital humano para navegar pelas mudanças tecnológicas atuais.
"A atualização tecnológica será cada vez mais um imperativo de sobrevivência do negócio. E a liderança reconhece a urgência de ter as pessoas certas, nos lugares certos, para fazer a transformação acontecer", afirma Anik Suzuki, fundadora e CEO da ANK Reputation.
Um aspecto bastante revelador do estudo é o foco intenso na governança corporativa, com "má conduta e comportamento antiético de lideranças e colaboradores" figurando como o segundo maior risco na visão dos executivos, atrás apenas de "insegurança cibernética e tratamento de dados".
Este resultado reflete um ambiente empresarial profundamente afetado por recentes crises reputacionais de grande repercussão, que elevaram questões de governança ao topo das preocupações executivas.
"Os últimos dois anos foram marcados por crises de imagem e reputação em empresas de médio e grande portes, bastante ruidosas na imprensa e nas redes sociais, muitas delas provocadas por má conduta, omissão, equívocos na tomada de decisão ou deslizes de comunicação e posicionamento de lideranças C-level", lembrou Anik em entrevista à EXAME.
Esta realidade evidencia uma aparente contradição: enquanto o "G" do ESG (Governança) ganha centralidade estratégica, as iniciativas ESG como um todo não recebem a mesma prioridade.
A aparente desconexão entre a crescente preocupação com governança corporativa e a baixa priorização das iniciativas ESG completas, especialmente no ano da COP no Brasil, é interpretada por Anik como algo pontual.
"Não acredito que haja uma dissociação entre governança e ESG, pelo contrário. Apenas, o holofote está momentaneamente direcionado para um outro tema que requer máxima urgência e tem gerado bastante dor de cabeça às empresas", avalia a executiva.
Uma perspectiva sugere que as organizações estão respondendo a pressões imediatas relacionadas à ética e transparência, enquanto aspectos ambientais e sociais podem permanecer em segundo plano temporariamente.
Um dado preocupante revelado pelo levantamento é que a maioria das organizações admite estar apenas "parcialmente preparada" para uma adequada gestão de riscos e crises.
"Em gestão de crise não existe meio termo. Ou você está preparado para evitar e/ou mitigar os prejuízos de uma crise ou você não está . E aí, está tomando um risco que pode custar caríssimo para a sua organização", alerta a CEO.
O estudo confirma a percepção generalizada entre executivos de que uma reputação corporativa sólida impacta positivamente áreas vitais dos negócios. "Recompra e atração de clientes são as áreas mais impactadas. Os líderes também destacam o papel da imagem reputacional na gestão de temas sensíveis e crises", aponta Anik.
Os dados mostram ainda que a reputação positiva contribui significativamente para atrair talentos, fortalecer relações institucionais e com a imprensa, formar parcerias estratégicas e aprimorar o gerenciamento dos stakeholders.
"Notamos um maior entendimento do mercado, especialmente por parte dos CEOs, que uma reputação forte garante a lealdade de clientes, eleva a produtividade e estimula a inovação. Além de contribuir para a manutenção dos melhores profissionais e reduzir custos", ressalta a CEO da ANK.
"Além de ativo de valor com impacto nos resultados, a reputação garante maior resiliência em momentos de dificuldade e de crise, colaborando para a longevidade da empresa", completa.
Apesar da menor priorização estratégica imediata das iniciativas ESG completas, as questões socioambientais e desastres climáticos também figuram entre os principais riscos apontados pelos executivos, indicando uma consciência crescente sobre estes temas.
Paralelamente, estudos complementares revelam um aumento expressivo nas menções a ESG e sustentabilidade nas descrições de cargos executivos nos últimos anos, demonstrando que, embora não esteja no topo das prioridades de investimento imediato, o tema tem relevância estrutural nas organizações.
As diferenças por porte de empresa também são significativas quando se trata de prioridades ESG. Enquanto nas grandes corporações (faturamento acima de R$ 1 bilhão) o desenvolvimento de pessoas lidera com folga (78% das menções), nas empresas menores (até R$ 300 milhões) a preocupação com reputação e marca assume protagonismo (53% das citações).
Esta variação sugere que empresas maiores possuem mais recursos para investir em iniciativas de sustentabilidade, enquanto organizações menores necessitam focar em construir credibilidade e confiança como prioridade.
O panorama apresentado evidencia um momento de transformação profunda no mundo corporativo brasileiro, onde comunicação e gestão de reputação evoluem de funções táticas para elementos estratégicos intrinsecamente vinculados à governança corporativa e, progressivamente, à agenda ESG mais ampla.
O desafio futuro, conforme sugerido pela pesquisa da ANK, será justamente integrar estas dimensões em uma visão holística, onde transformação tecnológica, desenvolvimento de talentos, governança corporativa e sustentabilidade se reforcem mutuamente como pilares de uma estratégia unificada.