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Redatora na Exame
Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 09h39.
O consumo global de carvão não será eliminado tão cedo. A capacidade mundial de geração de energia a carvão atingiu um novo recorde de quase 2.175 gigawatts em 2024, segundo dados do Global Energy Monitor divulgados em 6 de fevereiro.
As exportações americanas do combustível fóssil também têm aumentado para atender à crescente demanda externa, apesar da queda no consumo doméstico, segundo reportagem da CNBC. “Nada pode destruir o carvão”, disse o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no recente Fórum Econômico Mundial. “Nem o clima, nem uma bomba.”
A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que a demanda global por carvão no ano passado deve ter atingido um novo recorde de 8,77 bilhões de toneladas — volume que deve permanecer neste patamar até 2027.
O fim do uso do carvão é desafiador, especialmente com a crescente demanda da Ásia. Segundo a CNBC, a China informou recentemente que suas importações de carvão subiram 14,4% para um recorde em 2024, totalizando 542,7 milhões de toneladas, contra 474,42 milhões no ano anterior.
A China é o país que mais consome carvão no mundo. Em 2023, segundo os dados mais recentes da IEA, o país foi responsável por mais de 56% da demanda global.
Cerca de 30% da matriz elétrica chinesa é composta por energia eólica e solar, de acordo com o think tank Ember Energy. No entanto, para evitar crises energéticas causadas por eventos climáticos extremos, o governo chinês compra e estoca carvão.
Em entrevista à CNBC, Dorothy Mei, gerente de projetos do Rastreador Global de Minas de Carvão do Global Energy Monitor, disse que outro obstáculo para a redução no consumo de carvão na China é a infraestrutura de energia do país.
Segundo Mei, o carvão continuará sendo a “espinha dorsal” da rede elétrica chinesa enquanto ainda houver dificuldade de transmissão de energia solar e eólica entre as províncias do país.
Na Índia, o problema é outro. As ondas de calor extremo impulsionam a demanda por eletricidade para refrigeração, mas a velocidade de instalação de fontes de energia limpa não está sendo suficiente para dar conta do aumento do consumo.
Em dezembro do ano passado, o país estendeu até o dia 28 de fevereiro sua diretriz para que usinas movidas a carvão importado operem em capacidade máxima.
Especialistas ouvidos pela CNBC apontam que o desenvolvimento econômico indiano, com grandes investimentos em infraestrutura, também tem aumentado o consumo de cimento e aço — indústrias altamente dependentes do carvão. A consultoria Crisil projeta que a demanda indiana por aço aumente entre 8% e 9% em 2025.
Isso não significa que a Índia tenha abandonado sua meta de utilizar energia elétrica renovável para atender pelo menos 50% de suas necessidades elétricas até 2030. O país tem avançado nessa direção: em outubro de 2023, as renováveis já representavam mais de 46,3% da capacidade instalada de geração de eletricidade, segundo o Ministério de Energia Nova e Renovável da Índia.
Fora China e Índia, os países que mais estão construindo novas usinas a carvão incluem Bangladesh, Indonésia e Vietnã, segundo o Global Energy Monitor.
O Vietnã teve um recorde de importações de carvão no ano passado.
Na Indonésia, a produção de carvão bateu um novo recorde em 2023, com 831 milhões de toneladas, conforme dados do Ministério de Energia e Recursos Minerais do país.
Já nas Filipinas, a participação do carvão na matriz elétrica superou a da China em 2023, tornando o país o mais dependente desse combustível no Sudeste Asiático, segundo dados do Ember Energy.
O consumo global de eletricidade deve continuar crescendo em 2025, segundo a IEA, especialmente com a corrida pelo desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial.
Relatórios mostram que a necessidade de energia dos data centers ao redor do mundo vão prolongar a dependência global do carvão.
Até 2030, a demanda elétrica dos data centers pode ultrapassar 35 GW, mais do que o dobro dos 17 GW registrados em 2022, segundo um relatório da Moody’s Ratings.