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Mekala Krishnan, sócia do McKinsey Global Institute: "A engenharia do futuro energético é a engenharia do futuro do trabalho." (Leo Queiroz/Divulgação)
Editora ESG
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 12h01.
*De Nova York
Transformar em décadas um sistema energético construído e otimizado ao longo de séculos. Esta é a síntese do maior desafio civilizatório contemporâneo, segundo Mekala Krishnan, engenheira e sócia do McKinsey Global Institute.
Em uma apresentação exclusiva durante o evento SDGs in Brazil 2025, evento promovido pelo Pacto Global da ONU, durante a Brazil Climate Week, em Nova York, Krishnan apresentou dados sobre a intersecção entre trabalho, clima e equidade, que revelam os reais desafios da transição para emissões líquidas zero.
Para ilustrar a dimensão do sistema atual, a executiva mostrou que os oleodutos e gasodutos de petróleo e gás hoje cobrem a distância equivalente a duas viagens de ida e volta entre a Terra e a Lua.
O planeta conta ainda com 60.000 usinas de energia, principalmente movidas a gás e carvão, "em um mundo onde ainda não temos acesso suficiente à eletricidade em todo o globo".
Nas estradas, circulam 1,5 bilhão de veículos, majoritariamente equipados com motores de combustão interna.
A produção industrial global atinge 7 bilhões de toneladas anuais de materiais como aço, cimento, plásticos e amônia, "em grande parte com processos de altas emissões".
O paradoxo reside no fato de que a infraestrutura energética atual, apesar dos problemas ambientais, "funciona extremamente bem", reconhece Krishnan.
A energia fóssil é "fácil de transportar, fácil de aumentar e diminuir, pode produzir calor alto" - características fundamentais para processos industriais como a produção de aço.
Contudo, as falhas do sistema atual são incontornáveis. "Cerca de 85% das emissões de dióxido de carbono vêm do sistema energético, seja da produção ou do consumo de energia", explica a pesquisadora.
Isso significa que quase toda a poluição climática global tem origem tanto na geração de eletricidade em usinas movidas a carvão e gás quanto no uso cotidiano de combustíveis fósseis, desde carros nas ruas até fornos industriais para produzir aço e cimento.
O desperdício também é substancial: "cerca de dois terços da energia são perdidos em todas as transformações ou etapas pelas quais passamos ao produzir e usar energia".
Segundo Krishnan, essa ineficiência ocorre em múltiplos pontos - na conversão do carvão em eletricidade, no transporte pela rede elétrica, na transformação de petróleo em combustível e até no motor dos veículos, onde grande parte da energia vira calor perdido em vez de movimento.
Para a engenheira, a solução passa necessariamente pela construção de alternativas que mantenham a eficácia do sistema atual enquanto reduzem drasticamente as emissões. O que parece uma obviedade, mas não é.
"Precisamos substituir todas as coisas que construímos no passado por novas formas de produção de energia, e precisamos garantir que funcionem", destaca Krishnan.
E o desafio não está apenas em criar tecnologias limpas, mas em assegurar que elas repliquem todas as vantagens do sistema fóssil.
A eletrificação surge, neste contexto, como resposta central. "No coração da transição energética está o sistema elétrico", afirma a executiva.
Contudo, eletrificar uma economia inteira significa redesenhar desde redes de distribuição até processos industriais centenários.
A complexidade se multiplica quando se considera que essa transformação tecnológica não ocorre no vácuo. Implica repensar diversos setores simultaneamente, gerando impactos diretos na criação, modificação e extinção de postos de trabalho em escala global. Assim, também a agenda de empregos se torna inseparável da agenda climática.
Para Krishnan, compreender essa intersecção é fundamental para navegar a mudança de forma que seja não apenas ambientalmente sustentável, mas também socialmente equitativa. A engenharia do futuro energético é, inevitavelmente, a engenharia do futuro do trabalho.