(Thithawat_s/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2021 às 08h32.
Última atualização em 13 de setembro de 2021 às 08h32.
Renata Faber e Juliana Machado
Tower Three é o nome de uma das pistas mais difíceis do resort de ski de Jackson Hole, nos Estados Unidos. Para enfrentá-la, é preciso técnica, perseverança, disciplina e experiência. Tower Three é também o nome de uma gestora nascida em 2021 e com foco no mercado de renda variável – em que técnica, perseverança, disciplina e experiência também são elementos básicos de quem quer se lançar no desafio.
Para os dois sócios fundadores e gestores da Tower Three, Ricardo Almeida e Marcelo Nantes de Souza, o nome não remete apenas a esforço, mas também é sinônimo de momentos de diversão com a família. “Foi por isso que escolhemos esse nome quando definimos fundar nossa gestora de recursos. Acreditamos que a técnica, perseverança e disciplina trarão resultados nos investimentos, mas esperamos que isso aconteça em uma atmosfera de união, parceria e momentos agradáveis”, explica Almeida.
Os dois gestores trabalham juntos há 15 anos, passando por instituições como Blackriver, Ventor e, mais recentemente, Bradesco Asset Management, onde Almeida era o CEO e Nantes o CIO. A Tower Three (ou T3) já tem dois fundos, um long only e outro long biased. Mas como o ESG é incorporado ao processo decisório?
Governança sempre foi um fator “caro” para os dois, que acreditam que essa deveria ser a base de qualquer empresa. Mas, ao longo dos últimos anos, começaram também a incorporar aspectos sociais e ambientais no processo decisório. “ESG começou a ser incorporado na tese de investimento como uma forma de gestão de risco, mas agora o apetite para investir em um papel despende do ESG”, explica Nantes.
Esse processo inclui olhar não apenas os indicadores publicados pelas empresas — “que precisam ser padronizados”, segundo Nantes —, mas também dados menos ortodoxos, como a avaliação das empresas no “Reclame Aqui”. “E também muita conversa. Precisamos do ‘olho no olho’ com o top management e o conselho, queremos entender qual o comprometimento deles com essa agenda”, diz Almeida. Próximo passo é auxiliar as empresas a avançar nessa agenda. “Tem muita gente bem-intencionada nas empresas, e precisamos engajar e ajuda-los”, diz Nantes.
Dentre as métricas ESG que consideram, Nantes cita a emissão de carbono. “Tentamos traçar dois cenários: se as empresas tiverem de comprar créditos de carbono para compensar suas emissões, ou se tiver algum imposto sobre carbono. Não dá mais para ignorar a questão do carbono, e trabalhamos inclusive com cenário no qual as exportações podem ser taxadas em razão de suas emissões. Quando pensamos o impacto de precificar as emissões de carbono, percebemos que alguns setores terão de se reinventar”.
O crescimento rápido do tema ESG trouxe alguns questionamentos. “Primeiro, vemos várias empresas anunciarem metas net zero para 2050, mas sem metas intermediárias. Quem vai estar na empresa em 2050 para responder por essas metas? Como investidores, temos de saber como acompanhar os compromissos que estão sendo cumpridos, precisamos exigir metas intermediárias”, explica Nantes.
Outro ponto que incomoda é o fato de o mercado, de repente, focar exclusivamente na parte ambiental, deixando de lado social e governança, que não são menos importantes. Além disso, na T3 os sócios começaram o negócio já organizando o próprio quintal, incorporando os critérios ESG que exigem das empresas. “Estamos tentando construir um negócio já com esses conceitos. Na parte social, estamos construindo um ambiente diverso e também incentivando causas sociais, principalmente relacionadas à educação.”
Entre as iniciativas apoiadas pela T3, é possível citar o Curso Alberto Santos Dumont (Casd), Passos Mágicos e Fundação Estudar, iniciativas voltadas para ensino e qualificação de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade socioeconômica e que desejam acessar o ensino superior de ponta, por meio de incentivos e bolsas sociais.
A isso se soma também o fato de a T3 já ter nascido com mulheres representando um terço do quadro de funcionários e 40% do comitê executivo. Na governança, os dois gestores e fundadores entendem que o maior capital de uma gestora é humano. Para trazer gente boa, sênior e comprometida com o negócio, com visão de longo prazo, colocaram regras desde o início, de modo que os dois fundadores não concentram as decisões nem a distribuição dos resultados. “Temos um time com sete analistas sêniores, o que não é usual para uma gestora que está começando, mas as práticas ESG nos ajudaram a formar esse time”, diz Almeida.