(RoadLight/Pixabay/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 21 de setembro de 2021 às 17h34.
Última atualização em 21 de setembro de 2021 às 17h35.
Houve uma época em que emitir um título atrelado a metas socioambientais representava um custo. Afinal, era preciso investir em consultorias, certificações e se adequar a padrões internacionais de divulgação de dados, o que não é barato. A vantagem desse tipo de dívida, conhecida como green bonds ou sustainability-linked bonds bonds, era a possibilidade de acessar recursos exclusivos, não disponíveis a empresas que não seguem o ESG.
Esses tempos ficaram para trás. Segundo Luiza Vasconcellos, líder de negócios ESG do Itaú BBA, o mercado acaba de entrar na era dos títulos ESG com desconto. E esse processo só vai se intensificar. “Chegará um momento em que o ESG estará para o mercado financeiro como o inglês está para o mercado de trabalho”, diz Vasconcellos.
No mês de setembro, houve uma onda de emissões de títulos atrelados a metas de sustentabilidade. A fabricante de papel e celulose Suzano, a locadora de carros Movida, a bolsa B3 e a empresa de logística Rumo captaram, juntas, 2 bilhões de dólares nesse mercado. A demanda pelos sustainability-linked bonds foi quatro vezes superior à oferta.
A Suzano, primeira empresa a emitir um green bond no Brasil, na realidade, vem obtendo desconto desde o final do ano passado. Em novembro de 2020, a empresa fez a captação com a menor taxa da história no Brasil para títulos com prazo de 10 anos. A operação, de 500 milhões de dólares, atraiu 2 bilhões e foi finalizada com yield de 3,1%.
Em junho, a empresa encerrou outra rodada, de 1 bilhão de dólares, que teve um desconto de 13 pontos base ao ano, em comparação a títulos tradicionais. Quase 40% do total devido pela Suzano está atrelado a metas sociais e ambientais.
Para Vasconcellos, o ESG evolui tão rapidamente que já está entrando em um processo de amadurecimento. “A barra está subindo”, diz ela. “Se você é o primeiro a atingir determinada meta, óbvio que tem um custo. Porém, se é o quinto, essa meta não é mais tão importante. As empresas que entraram primeiro passam a ter maior facilidade, enquanto quem ficou por último terá de acelerar para alcançar os demais e gastará mais dinheiro.”
No Itaú BBA, o ESG ganhou uma transversalidade inédita. O tema deixou de ser adicional à estratégia de negócios e virou uma parte do core business. É um movimento que todas as empresas terão de fazer se quiserem se adequar ao novo normal. “Isso afeta, também, o investidor, que não pode colocar dinheiro em uma empresa de energia renovável se ela está envolvida em trabalho escravo, por exemplo”, diz a executiva.
Na semana passada, o Banco de Compensações Internacional (BIS), considerado o banco central dos bancos centrais, alertou para um efeito colateral dessa onda de títulos ESG: o risco crescente de uma bolha de preços nos mercados favoráveis ao meio ambiente.
Segundo a agência de notícias Bloomberg, Algumas estimativas indicam que os ativos focados em ESG dispararam para um valor de 35 trilhões de dólares e agora respondem por mais de um terço de todos os ativos gerenciados profissionalmente por bancos e fundos de investimento.
"Há sinais de que as valores dos ativos ESG podem estar alongados", disse o BIS, que realiza reuniões regulares para os bancos centrais do mundo, como parte de seu último relatório trimestral.
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