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Mirian Wrublevski, criadora do app de compra e venda de orgânicos, estima alcançar 50.000 pessoas em 2021 (Divulgação/Exame)
Em São Bento do Sul, município de Santa Catarina com pouco mais de 80.00 habitantes, o acesso a alimentos orgânicos e livres de agrotóxicos parecia uma realidade distante. “Por aqui, só temos dois vendedores de produtos orgânicos, que se deslocam semanalmente para a feira. Nenhum deles é desta cidade”, conta Mirian Wrublevski, criadora do Quintal, aplicativo que permite a venda de produtos naturais cultivados em casa.
Democratizar o acesso a produtos sem o uso de agrotóxicos e facilitar o dia a dia de produtores familiares que precisam lidar com o excedente nos seus cultivos são os objetivos da plataforma desenvolvida por Mirian. Com o Quintal, produtores podem anunciar os alimentos cultivados em casa, ao mesmo tempo em que consumidores podem pesquisar, com a ajuda do localizador do aplicativo, vendedores próximos à sua região. Em pouco mais de três meses de funcionamento, o Quintal já contabiliza mais de 2.500 downloads, 623 usuários ativos - entre compradores e produtores - e já intermediou cerca de 400 compras.
Para a empreendedora, a produção de alimentos está em conflito constante com a busca por produtividade e preocupação com o meio ambiente. “Percebi que uma plantação em escala comercial, muitas vezes, é a única fonte de renda para muitos produtores, e é por isso que eles erram tanto quando falamos em agrotóxicos. O medo de perder é muito grande”, diz. “Para uma produção em larga escala, só o que preocupa é o lucro. Não há tempo para pensar, por exemplo, na regeneração do solo”.
Para poder utilizar a plataforma, os usuários devem se cadastrar e apresentar o certificado de produtor orgânico. Para os vendedores não certificados, o aplicativo exige a assinatura de um termo digital de declaração sobre o uso de agrotóxicos, fungicidas ou inseticidas a cada novo produto anunciado. “Estamos pautados no fato de podermos dar opção às pessoas. Dar maior poder de escolha quando falamos em saúde”, diz Mirian. São mais de 5.000 itens diferentes anunciados, entre plantas, frutas, ervas medicinais e flores, em todos os estados do país”. A negociação de pagamentos, entregas e retiradas são feitas fora do aplicativo, diretamente entre anunciante e comprador.
Para os compradores, basta acessar o aplicativo e ativar a localização do celular para ter acesso aos anúncios mais próximos e um mapa que mostra, em tempo real, os produtores e vendedores de alimentos orgânicos da cidade e da região.
O aplicativo também é um facilitador para pessoas que possuem dietas restritivas e que não podem consumir alimentos que tiveram contato com produtos químicos. “Muitas vezes, temos um vizinho que teve uma produção extra, e ainda assim esperamos pelo dia da feira”, diz. “Queremos possibilitar o barateamento, partindo do princípio de que vou comprar de quem está perto de mim, eliminando o frete e acabando com a ideia de que orgânico é algo caro e inacessível”, diz.
Para o futuro do aplicativo, Mirian diz que há o desejo de formalizar a parte financeira e de pagamentos do negócio, além de realizar um trabalho de conscientização com os vendedores: nos próximos meses, o Quintal deve incentivar os produtores a usarem links para venda de produtos e a utilizarem o Pix, novo método de pagamento do Banco Central. “Hoje, não somos um marketplace, então não oferecemos uma solução de pagamentos. Mas, quando falamos em vendas de alimentos, as taxas de uso para essas ferramentas pode representar um valor alto. O nosso intuito é justamente reduzir o preço dos orgânicos”, diz.
O período de digitalização de vendas ocasionado pela pandemia serviu de impulso para que o Quintal prosperasse. “A necessidade de comprar pela internet é algo recente. O Quintal surgiu nesse cenário e esperamos que continue crescendo - em presença e em variedade de produtos”.
Com a consolidação dos hábitos de compra digitais e migração de feirantes e produtores rurais até então avessos ao uso de tecnologias de venda na internet, Mirian estima que a base de usuários do aplicativo alcance mais de 50.000 pessoas ainda no primeiro semestre de 2021 e, até o final do próximo ano, fature em torno de 1 milhão de reais. "Há ainda todo o potencial do mercado ainda não explorado de rentabilização de quintais, jardins e pomares domésticos, produções urbanas, incluindo até sacadas e micro produções em apartamentos, um dos principais fatores de inovação do aplicativo", diz.