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Por que o Tietê segue em risco mesmo após R$ 22 bilhões em investimentos na despoluição

Estudo da SOS Mata Atlântica revela que a água permanece imprópria em 54 dos 55 pontos analisados; Especialistas propõem soluções integradas e resilientes além do saneamento

Fundação destaca necessidade de ações integradas além do saneamento básico para recuperação efetiva do maior rio paulista (Alexandre Battibugli/Arquivo Abril)

Fundação destaca necessidade de ações integradas além do saneamento básico para recuperação efetiva do maior rio paulista (Alexandre Battibugli/Arquivo Abril)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 19 de setembro de 2025 às 11h00.

Última atualização em 19 de setembro de 2025 às 11h31.

Importante símbolo cultural e econômico de São Paulo, o Tietê enfrenta um paradoxo que coloca em risco sua saúde como patrimônio histórico.

Mesmo com investimentos recordes de R$ 22 bilhões em ações de despoluição desde 2023 e uma redução de 15,9% na extensão da mancha de poluição (de 207 km em 2024 para 174 km), a qualidade da água do maior rio paulista segue altamente vulnerável e sem sinais consistentes de recuperação.

É o que revela um novo estudo divulgado na quinta-feira, 18, pela Fundação SOS Mata Atlântica, às vésperas do Dia do Rio Tietê, comemorado em 22 de setembro.

Dos 55 pontos monitorados na análise, apenas 1 apresentou condições boas -- uma queda em relação aos três pontos registrados em 2024.

Após a desestatização da companhia de saneamento Sabesp, o Governo de São Paulo celebrou avanços em recursos voltados para conexões de esgoto saltando de R$ 1,1 bilhão em 2023 para R$ 20 bilhões entre 2024 e 2026.

Uma das frentes é a eliminação progressiva do lançamento de rejeitos no rio e o atendimento a mais de 800 mil domicílios com tratamento. 

"Quando olhamos para a série histórica, percebemos que a piora em 2024 não foi um ponto isolado, mas o agravamento de uma tendência de retrocessos iniciada em 2022", destacou Gustavo Veronesi, coordenador do projeto Observando os Rios na SOS Mata Atlântica.

Um dos pontos mais críticos elencado pelos pesquisadores diz respeito a classificação legal dos trechos mais degradados do rio. Grande parte dos rios e córregos urbanos, incluindo o Tamanduateí, o Pinheiros e o próprio Tietê no trecho de Guarulhos a Pirapora do Bom Jesus, estão enquadrados na "Classe 4" -- a mais permissiva em relação ao recebimento de poluentes.

"O mais alarmante é que esses trechos permanecem com qualidade péssima mesmo após décadas de recursos investidos em sua recuperação. Se quisermos, de fato, recuperar esses rios, a manutenção da classe referência precisa ser revista", defendeu Gustavo.

Para Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, a solução transcende o aumento dos investimentos em saneamento e inclui a criação de parques lineares, recuperação de nascentes, recomposição de matas ciliares, proteção das corredeiras, além de infraestrutura verde.

"Não basta ampliar a coleta e o tratamento de esgoto. Para que o Tietê avance de forma consistente, é fundamental adotar planos integrados de gestão da bacia", afirma.

Herança cultural e histórica sob ameaça

À EXAME, o especialista destacou que o Tietê continua sendo um eixo fundamental de história, cultura e desenvolvimento econômico, mesmo com os problemas ambientais.

Por seus caminhos, conhecidos pelos povos originários, os europeus avançaram no século passado para o interior do continente. A metrópole paulistana foi construída com areia de seu leito e tijolos das olarias de suas margens. O rio também sustentava a alimentação através da pesca e moldou a transformação cultural das cidades.

"Até hoje, o rio abastece o cinturão verde da Região Metropolitana de São Paulo, irrigando plantações que alimentam milhões de pessoas. Mais abaixo, no Médio Tietê, cumpre papel vital no abastecimento público, funcionamento de indústrias, turismo e lazer, movimentando a economia", disse.

Um pacto pela recuperação

A vulnerabilidade do rio vai muito além das obras de saneamento e sofre com os efeitos das mudanças climáticas. A redução significativa das chuvas (de 2.050 mm em 2010 para 1.072 mm em 2024) compromete a diluição natural de poluentes.

Além disso, outros incidentes graves, como o rompimento de um interceptor de esgoto na Marginal Tietê em julho e despejos irregulares no Pinheiros e no próprio Tietê em junho e agosto.

"A qualidade permanece altamente suscetível a variações do clima, descargas e remanescentes de esgoto tratados e não tratados, operações de barragens, efeitos de eventos extremos e acidentes ambientais", alertou Gustavo.

A secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, Natália Resende, mantém o otimismo em meio aos desafios. "Estamos confiantes de que teremos até 2029 um rio mais límpido e com menos odor, com o qual vamos poder interagir e do qual teremos orgulho", escreveu em nota. 

Mas especialistas da organização ambiental reforçam que é preciso uma ação coletiva e de soluções baseadas na natureza e adaptação resiliente. 

"Rios limpos são uma conquista de todos. É preciso um pacto entre governos, empresas e cidadãos para que o Tietê volte a ser símbolo de vida, cultura e pertencimento", concluiu a diretora de políticas públicas.

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