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Tensão na fronteira entre o México e os Estados Unidos é agravada por crise hídrica

As consequências das mudanças climáticas em uma região semiárida com tratado de compartilhamento de recursos hídricos ultrapassado

Crise hídrica: tensão entre México e EUA põe em xeque tratado binacional de compartilhamento de água. (Lucas Jackson/Reuters)

Crise hídrica: tensão entre México e EUA põe em xeque tratado binacional de compartilhamento de água. (Lucas Jackson/Reuters)

Publicado em 20 de agosto de 2025 às 15h00.

Última atualização em 20 de agosto de 2025 às 15h36.

Após o trigésimo mês consecutivo sem chuva, a situação dos moradores de San Francisco de Conchos, no Estado de Chihuahua, no México, expõe mais uma vez a questão da disputa pela água em bacias compartilhadas por mais de um país. Além de crucial para o desenvolvimento econômico do México, a região situada na fronteira com os Estados Unidos se configura como um microcosmo da competição por recursos que vai influenciar a transição energética global

No norte do México, a interdependência entre água e energia é crítica, uma vez que a produção energética exige volumes significativos de água, enquanto o fornecimento hídrico, seja para irrigação ou abastecimento de água, depende da produção de energia. Nesse cenário, em uma região em que as médias de precipitação estão entre as mais baixas do país, a infraestrutura envelheceu e as mudanças climáticas têm intensificado a frequência e a gravidade das secas. 

Nos últimos 25 anos, o suprimento de água na região vem sendo garantido por um acordo de compartilhamento de água dos rios que se estendem ao longo da fronteira com os EUA. Em vigor desde 1944, esse tratado define que o México deve desviar 430 milhões de metros cúbicos de água por ano do Rio Grande para os EUA, que devem enviar, por sua vez, quase 1,85 bilhão de metros cúbicos do rio Colorado para o entorno das cidades de Tijuana e Mexicali.

Com supervisão da Comissão Internacional de Fronteiras e Água, os volumes transpostos de água são verificados em ciclos de cinco anos, sendo que o atual termina em outubro próximo. No último ciclo, terminado em 2020, o México apresentou dificuldades para cumprir com sua parte do tratado. 

Com a mudança de governo no início de 2025, os EUA adotaram uma postura menos amistosa para lidar com as dívidas hídricas mexicanas. Pela primeira vez em mais de 50 anos, em março passado, os EUA se recusaram a enviar água do rio Colorado para Tijuana. O México respondeu de forma parcial a essa pressão e continua com 1,5 bilhão de metros cúbicos em dívida.

Nogueiras e alfafa são duas das principais culturas no vale do rio Conchos, em Chihuahua. Como ambas exigem muita irrigação, os agricultores locais costumam inundar seus campos, prática que aumenta o desperdício de água e depende de investimento em equipamentos adequados. Em consequência, a falta de disponibilidade de água para os agricultores texanos se agrava. 

Levando em conta o crescimento populacional e as mudanças climáticas, o tratado assinado em 1944 já não atende às necessidades atuais. O cenário de escassez deve ser encarado como mais uma oportunidade de cooperação regional envolvendo o nexo água, alimentos e energia, por meio de discussões participativas que envolvam a revisão desse acordo. 

A alternativa de enfrentamento, por sua vez, pode trazer graves consequências para a segurança hídrica, alimentar e energética das populações fronteiriças em ambos os países.

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