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Protestos na COP28, em Dubai (Leandro Fonseca/Exame)
Colunista
Publicado em 16 de dezembro de 2023 às 10h33.
O acordo firmado na COP28 sinaliza o “princípio do fim” da era dos combustíveis fósseis, nas palavras de Simon Stiell, secretário-executivo da ONU para as Alterações Climáticas. Ainda que não tenha adotado termos mais fortes, como eliminação do petróleo, como queriam ambientalistas e cientistas, o documento final fala em uma “transição nos combustíveis fósseis”. É a primeira vez que isso ocorre numa conferência global do clima.
É sem dúvida um avanço. Agora, a expectativa é que isso possa servir de impulso, por exemplo, para o desenvolvimento de tecnologias climáticas, ajudando a tornar muitas delas viáveis economicamente ou até mesmo facilitar o surgimento de novas soluções.
A COP28 aborda, entre outros pontos, a operacionalização do fundo de adaptação climática e transferência de recursos entre países ricos e pobres, propõe triplicar a geração de energias renováveis e duplicar a eficiência energética até 2030. A cúpula também teve compromissos de investimentos, como US$ 150 milhões para o Fundo dos Países Menos Desenvolvidos e o Fundo Especial para Mudanças Climáticas, além de um aumento anual de US$ 9 bilhões por parte do Banco Mundial para financiar projetos voltados ao clima em 2024 e 2025.
As tecnologias climáticas são essenciais na luta para frear o aquecimento global. Sobre esse assunto, a prévia de um relatório da McKinsey mostra o atual estágio dessas soluções e os desafios enfrentados. Segundo o estudo “What would it take to scale critical climate tecnologies”, divulgado este mês, muitas das tecnologias climáticas necessárias para alcançar a descarbonização já existem – o desafio agora é incentivar a inovação e o crescimento dessas áreas para que seja possível dar um novo salto técnico e comercial.
A análise da McKinsey aponta 12 tecnologias que poderiam, se implementadas em larga escala, reduzir em até 90% o total de emissões de gases de efeito estufa até 2050. “Essas tecnologias necessitarão não só serem comprovadas tecnicamente (como muitas já o fizeram), mas também se tornarem comercialmente viáveis”, diz o documento. “E, fundamentalmente, a procura por soluções tecnológicas sustentáveis para impulsionar a descarbonização terá de ser realizada em paralelo como outros objetivos, como a acessibilidade e a segurança energética.”
Um dos grandes desafios, porém, é que elas têm níveis diferentes de maturidade. Apenas 10% são competitivas do ponto de vista econômico, enquanto 45% estão comercialmente disponíveis, mas precisam passar por redução de custos por meio de inovação e ganho de escala. “O restante é muito promissor, mas está em estágios iniciais. A prioridade é, portanto, identificar, compreender e priorizar os mecanismos de expansão técnica e comercial”.
No grupo das soluções bem encaminhadas estão as energias renováveis, como a eólica e a solar, que em alguns países já são competitivas em termos de custos com os combustíveis fósseis. Já as tecnologias de remoção de carbono e proteínas alternativas estão em fases iniciais.
E o que é necessário para dar um empurrão nessas soluções, especialmente aquelas que ainda engatinham? Em uma palavra, dinheiro. Pelos cálculos da McKinsey, os investimentos em tecnologia climática precisam crescer 10% ao ano e chegar a cerca de US$ 2 bilhões até 2030, o que representaria de 1% a 2% do PIB global.
Os recursos têm chegado ao setor, com a presença de mais investidores, mas ainda é preciso pisar fundo no acelerador para dar conta do desafio, principalmente porque fatores externos enxugaram os investimentos neste ano.
Segundo o relatório State of Climate Tech 2023, da consultoria PwC, o total de recursos de venture capital e capital privado no mundo caiu 50% neste ano em relação a 2022, ficando em US$ 638 bilhões. Se observado apenas o segmento de startups de tecnologias climáticas, a queda foi menor: 40%. Como consequência, a participação desse segmento aumentou, passando de 7% para 10% dos investimentos totais em startups em 2023.
Ainda que os valores tenham diminuído, a situação não é de todo ruim, porque a redução é creditada não a dificuldades do setor ou ao desinteresse de investidores, mas a fatores conjunturais, como turbulência geopolítica, inflação e aumento das taxas de juros, o que atrapalhou a todos os mercados.
Uma mudança importante identificada pelo estudo se deu na indústria, o mercado campeão em emissões (34%). Entre 2013 e o terceiro trimestre de 2022, os investidores despejaram menos de 8% das verbas em tecnologias climáticas para o setor industrial. A boa notícia é que o índice dobrou em menos de um ano (14%), entre o quarto trimestre de 2022 e terceiro trimestre deste ano.
Outro dado significativo foi o aumento de 24% na participação da energia solar nos investimentos e de 64% de hidrogênio verde. A área de captura, utilização e armazenamento de carbono, por sua vez, cresceu 39% desde 2022. “Embora haja um longo caminho a percorrer, os investidores estão cada vez mais investindo capital em tecnologias com maior potencial para reduzir as emissões, com uma mudança para tecnologias como hidrogênio verde e a captura, utilização e armazenamento de carbono”, diz o relatório.
Os dados são animadores, especialmente porque indicam uma tendência. Há um longo caminho a percorrer, sem dúvida, e o tempo é curto. É preciso correr. E para tornar a história ainda mais dramática, os desafios políticos e econômicos na luta para eliminar os combustíveis fósseis são gigantescos, como se pôde acompanhar nas tensas negociações da COP28. Mas não temos escapatória. Descarbonizar é preciso, e a tecnologia está aí para nos ajudar.