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Tecnologia, diversidade e guerra: quais são os debates na ONU em busca da equidade de gênero

EXAME acompanhou in loco a Comissão sobre a Situação das Mulheres, na ONU, onde debates abordaram etarismo, mudanças climáticas, digitalização, zonas de conflito e mais

67ª Comissão sobre a Situação das Mulheres, na ONU (UN Women/Ryan Brown/Divulgação)

67ª Comissão sobre a Situação das Mulheres, na ONU (UN Women/Ryan Brown/Divulgação)

Marina Filippe
Marina Filippe

Repórter de ESG

Publicado em 18 de março de 2023 às 10h10.

De Nova York

Nos últimos dias, os corredores do escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) foram ocupados por pessoas que debateram a situação da mulher no mundo e as necessidades de avanço para a equidade de gênero durante a 67ª Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW, sigla em inglês).

O tema, que tem um enorme desafio de modo geral, uma vez que a equidade de gênero é estimada para acontecer daqui a 130 anos, é ainda mais complexo quando se aborda crise climática, pobreza e zonas de conflito. Em um dos painéis no qual a EXAME esteve presente, por exemplo, falou-se da necessidade de que os países se unam para promover avanço em locais onde há poucos direitos das mulheres, ou a violação dos mesmos.

"Na Ucrânia, por exemplo, muitas mulheres deixaram suas posições de trabalho, suas casas e até as famílias por conta da guerra. Quando se pensa num contexto como esse, é comum se lembrar dos homens que estão nas lutas, mas as mulheres também são diretamente bastante afetadas", disse uma pessoa que não pode ser identificada por questões de segurança. Segundo fontes oficiais da ONU, 90%  dos refugiados da guerra na Ucrânia são mulheres e seus filhos.  

Já em outro evento, a interseccionalidade foi bastante comentada, de modo a considerar todas as características das mulheres. Um exemplo, é o do etarismo. "Percebemos que as mulheres com 50 anos ou mais sofrem mais economicamente do que os homens, especialmente por terem passado grande parte da vida realizando o trabalho não remunerado de cuidar dar casa e da família. Agora, precisamos garantir que as políticas públicas evitem prejuízos maiores", disse Monica Roque, secretaria de direitos humanos, gênero e gerontologia na Argentina. 

O evento também contou pela primeira vez com a inclusão de lideranças juvenis nas negociações oficiais. A partir disto, muito foi dito sobre a tecnologia e a necessidade de que oferecer mais acesso para que meninas e mulheres não sejam ainda mais excluídas. 

Aisha Mehmood, cujo trabalho gira em torno de meninas e mulheres em comunidades rurais, enfatizou a importância de expandir o acesso à tecnologia. “Há uma enorme necessidade de investimentos em políticas e soluções que possam localizar a tecnologia, que possam estar disponíveis em idiomas que as pessoas entendam, que possam aproveitar áudio e imagens para usuários com baixo nível de alfabetização e que possam tornar os modelos tecnológicos inclusivos para meninas e mulheres que estão nessas comunidades marginalizadas”.  

A ideia segue parte do discurso de abertura do secretário-geral da ONU, António Guterres. “A Inteligência Artificial estará moldando o mundo do futuro. Sem a participação igual das mulheres, este continuará a ser um mundo masculino. A divisão digital de gênero está rapidamente se tornando a nova face da desigualdade de gênero. Em vez de elevar mulheres e meninas, fornecendo acesso à educação, saúde e serviços financeiros, a tecnologia é frequentemente usada para prejudicá-las e controlá-las por meio de vigilância e tráfico", disse ele, propondo mudança. 

Este debate permeou também os eventos paralelos. Um exemplo é o Digital Financial and Inclusion in Brazil (inclusão financeira e digital, em tradução livre), promovido pelo Pacto Global da ONU no Brazil, com apoio do Grupo Boticário e a EXAME como parceira de mídia oficial. Durante toda a tarde da quinta-feira, 16, pessoas empreendedores, cientistas, consultoras e executivas debateram caminhos para o avanço no Brasil.

O país conta, inclusive, com representantes como Ana Fontes, CEO da Rede Mulher Empreendedora e delegada líder do Brasil no W20, grupo de engajamento do G20 para a pauta de mulheres. "Acredito que ações como a CSW nos ajudam a avançar na diversidade e inclusão ao promover a conexão das discussões em diferentes grupos de trabalho, o que ajuda a fortalecer o entendimento do que podemos fazer para mover os ponteiros", diz.

Nas salas de Conferência foi possível perceber a presença majoritária de mulheres. Contudo, as falas reforçaram a necessidade de haver homens nas discussões. "Estamos começando algumas conversas, especialmente quando falamos de homens aliados", disse Cynthia Muffuh, head de direitos humanos e gênero do Pacto Global, em entrevista exclusiva à EXAME.  Isto porque, muitas vezes são eles os líderes nas empresas e nos governos, que assinam as decisões para a promoção e ascensão das mulheres.

Gênero também é sobre os homens e estamos falando sobre a diferença do tratamento entre as pessoas por conta do gênero, uma ideia construída socialmente do que é ser homem e o que ser mulher. Da mesma forma que aprendemos um novo idioma, precisamos estar aptos a aprender novas formas de viver que permita a equidade”, afirmou Michael Kaufman, ativista e educador sobre equidade de gênero, em especial, a partir de como envolver homens e meninos nesta jornada. 

 

 

 

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