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Sustentabilidade pode 'pegar carona' na presidência brasileira do G20

Em um momento de urgência no debate sobre a desigualdade e o aquecimento do planeta, governo e setor privado devem acelerar iniciativas de combate às desigualdades e às mudanças climáticas

Pecuária: projeto de rastreabilidade da Marfrig recebeu mais aporte de R$ 100 milhões durante a COP28 (Marfrig/Divulgação)

Pecuária: projeto de rastreabilidade da Marfrig recebeu mais aporte de R$ 100 milhões durante a COP28 (Marfrig/Divulgação)

Paula Pacheco
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 8 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 8 de dezembro de 2023 às 07h52.

Desde 1º de dezembro, o Brasil preside o G20. A nova posição coincide com a COP28, em Dubai. A maior conferência sobre o clima do mundo abriu espaço para discutir as perspectivas em relação aos trabalhos de articulação do fórum informal de promoção ao debate entre países industrializados e emergentes sobre assuntos relacionados à estabilidade econômica global e o Brasil.

Em um dos discursos na COP28, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora no comando do G20, ressaltou que o combate às desigualdades e às mudanças climáticas serão a prioridade da gestão brasileira. Além do esforço governamental, que vai depender de financiamentos de organismos multilaterais, os avanços deverão contar com as iniciativas de empresas, como já tem acontecido.

Pacto entre sociedade e política

Em um dos painéis da Apex, especialistas debateram o G20 e a agenda da sustentabilidade. Provocada pelo moderador Carlo Pereira, CEO do Pacto Global, Izabella Teixeira, conselheira emérita do CEBRI e co-chair do Painel Internacional de Recursos Naturais da ONU Meio Ambiente, lembrou da necessidade de o Brasil reforçar sua atuação para acabar com a fome – não apenas com a atuação do governo, mas com a sociedade assumindo um papel de pressão.

“É preciso um grande pacto da sociedade e político para que, com a erradicação da fome, o Brasil não volte atrás”, sugeriu a ex-ministra do Meio Ambiente. Izabella citou outros momentos da história do país em que pactos como esse levaram o país a soluções importantes, como a aposta na matriz de energia limpa como forma de depender menor do petróleo.

Izabella apontou ainda outras iniciativas, como a inclusão da universalização da saúde por meio do SUS e os investimentos em pesquisa para o desenvolvimento da agricultura, inserindo o campo brasileiro no mapa dos maiores produtores de alimentos do mundo. “Um dos maiores produtores de alimento do mundo não pode ter gente passando fome. Este é um compromisso ético nosso. A estrutura do país tem de viabilizar isso”, apontou.

A iniciativa de algumas empresas, como explicou Pereira, possibilita ao Brasil ter uma série de avanços, em particular quando se trata do setor de alimentos.

No entanto, o representante do Pacto Global lembra que, ao mesmo tempo que o Brasil é reconhecido como grande produtor de alimentos, recebe críticas.

“Sabemos que diferente da matriz de emissões da média global, com 80% gerado pela produção de energia, no Brasil, 40% das emissões vêm da alteração no uso do solo, mais uns 30% de agropecuária, aproximadamente. Há uma critica quanto as empresas de proteína animal. Temos muita tecnologia para fazer uma produção cada vez mais sustentável”, avaliou Pereira.

Envolvimento da cadeia da pecuária

Integrante do Comitê de Sustentabilidade da Marfrig, Marcella Molina destacou que, como uma das líderes de produção de proteína, a empresa tem se dedicado ao desenvolvimento de uma cadeia de pecuária sustentável. Os desafios são grandes pela complexidade da atividade, com muitos fornecedores diretos e indiretos.

Como lembrou Marcella, avançar com a atividade sustentável só será possível com a inclusão dos produtores. A companhia tem apostado no Programa Marfrig Verde, criado há três anos com o objetivo de ter toda a produção rastreada e livre de áreas de desmatamento. Nos primeiros dias da COP28, foi anunciado o aporte de R$ 100 milhões para intensificar as atividades.

Hoje, cerca de 3.800 fornecedores estão incluídos na cadeia de fornecimento de proteína animal. Em termos percentuais, a empresa diz ter atingido por meio do programa de produção rastreada 100% de seus fornecedores diretos, 85% dos indiretos na Amazônia e 71% no Cerrado.

A Marfrig investe ainda na restauração de pastagem. Até agora, 100 mil hectares de pastagens degradadas, que não tem mais produção, foram recuperados. Há uma parceria de restaurar mais 6 mil hectares, além do apoio à atividade de agropecuária regenerativa e ações dedicadas à carne de baixo carbono e carbono neutro, em parceria com a Embrapa.

“Queremos disseminar o entendimento do valor da natureza, devolvendo (recursos que foram extraídos) para ter uma pecuária sustentável, transformando a cadeia”, explicou a executiva.

Campo e qualificação profissional

A Ambev decidiu atuar em diferentes frentes para potencializar seu trabalho sob o guarda-chuva da sustentabilidade. Karen Tanaka, gerente de Sustentabilidade da companhia, cita alguns projetos.

A empresa a empresa tem investido em programas para reduzir as emissões indiretas. No ano passado, a companhia atuou em um projeto de agricultura regenerativa de 8.000 hectares.

“Não é um trabalho fácil, porque inclui muitos parceiros, como os que produzem o guaraná, a cevada, o milho e o açúcar”, disse a gerente. A Ambev tem ainda um trabalho de contabilização do carbono no solo, com o apoio da Embrapa, universidades e fornecedores.

Segundo a executiva, os fatores de emissões brasileiros têm mostrado que a empresa é mais competitiva do que muitos países. Em outra frente, a empresa vem trabalhando na inclusão produtiva. No ano passado, foi lançado o programa Bora, que tem como meta levar 5 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema para uma capacidade produtividade até 2032. Por exemplo, com o relacionamento junto aos parceiros para oferecer treinamento a quem não tem qualificação e quer trabalhar em bares e restaurantes.

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