Mobilidade urbana: o aplicativo Bynd já mediou 300 mil caronas corporativas (Divulgação/Exame)
Cerca de 76% dos deslocamentos motorizados na cidade de São Paulo são consequência direta do caminho para o trabalho, de acordo com a última pesquisa Origem e Destino do Metrô paulista. Nesse contexto, é de responsabilidade das empresas pensar em alternativas para a redução do impacto ambiental causado pelas emissões de carbono.
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Essa é a crença dos fundadores da Bynd, startup de mobilidade com foco em caronas corporativas. Para mitigar o impacto das emissões de poluentes, a startup conecta funcionários de uma mesma empresa e com o mesmo trajeto diário para que eles compartilhem o caminho para o trabalho. Há cinco anos em funcionamento, o sistema da Bynd já permitiu mais de 300 mil caronas.
A ideia para a criação da startup veio após uma viagem de carro dos fundadores Gustavo Gracitelli, Leonardo Libório e Abraão Lacerda pelas Américas que durou 13 meses e 72 mil quilômetros. Ao retornar para São Paulo, os fundadores ficaram incomodados ao perceber o uso individual dos carros. “Até hoje acredito que isso deve ser visto como um absurdo coletivo”, diz Gustavo Gracitelli, um dos fundadores da Bynd. “Chegamos à conclusão de que era um problema que poderia ser resolvido com tecnologia”, diz.
Hoje, a principal solução da Bynd é voltada ao B2B, ou seja, exclusivamente para empresas. Por meio de um algoritmo, o aplicativo aproxima pessoas com rotas compatíveis, fazendo sugestões de motoristas próximos. Das 30 empresas cadastradas, 10 são pagantes e desembolsam um valor mensal - que varia de acordo com o número de colaboradores da empresa. Quando cobrado, o plano de assinatura dá acesso a relatórios sobre as rotas percorridas e volume de carbono que a empresa deixou de emitir ao usar a Bynd.
Para sobreviver à temporada de home office - que tirou grande parte da população das ruas - o Bynd passou a olhar para outras soluções de mobilidade corporativa. Nos últimos meses, lançou um serviço de avaliação da situação de mobilidade empresarial que oferece às empresas um panorama geral dos gastos de transporte de cada funcionário e benefícios mais utilizados. Apesar de estar em fase de desenvolvimento, o projeto piloto já possui empresas interessadas, segundo a startup.
Com isso, a startup faz um diagnóstico de viabilidade de compartilhamento e possível redução de custos para as empresas que, de acordo com a Bynd, variam entre 250 mil e 4 milhões de reais. A economia acontece, por exemplo, na reavaliação dos benefícios ofertados aos colaboradores e na reavaliação do uso de transportes fretados. "A ideia é fazer com que a empresa tome a melhor decisão, seja oferecendo um ônibus ou reavendo as despesas ao oferecer carros de aplicativos de transporte", diz Gracitelli.
Em 2019, ano em que afirma ter evitado a emissão de 260 toneladas de carbono, o faturamento do Bynd foi de 800.000 reais. Também no último ano, a empresa captou um aporte de 1,2 milhão de reais, feito a partir da plataforma online de investimentos Eqseed. Os recursos têm sido usados para a criação de novas funcionalidades no aplicativo e que também valorizou a empresa em 6,7 milhões pelos investidores.
O contexto de isolamento social também incentivou a empresa a criar soluções para ajudar a evitar o risco de contágio. Uma delas consiste na substituição de transporte fretado por carros particulares compartilhados. "Percebemos que era o momento certo para sugerir às empresas a substituição dos ônibus, devido ao medo do contágio", diz. Segundo Gracitelli, a resposta também impacta o caixa das empresas, que tiveram de gastar mais com fretamento - que se tornou mais dispendioso graças as exigências de distanciamento social nos ônibus.
Mesmo com a pandemia, Gracitelli diz que a startup tem apresentado um crescimento recorrente de 12% ao mês nas receitas. "Com o menor fluxo no transporte nas cidades, não vamos bater nenhum recorde, mas a sustentabilidade continua sendo a prioridade para a empresa", diz.
Como signatária do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), Gracitelli explica que a Bynd tem sua estratégia pautada no desenvolvimento sustentável. “Somos uma startup, mas nos posicionamos como grandes empresas como Natura, Magazine Luiza na busca por um desenvolvimento sustentável e levamos isso em consideração em todas as nossas decisões”, diz. "Não estamos interessados em trazer apenas retorno financeiro, mas construir um mundo melhor. Esse é o nosso propósito.”, diz.
Para ele, o engajamento das empresas para oferecer serviços de transporte compartilhado e a percepção das pessoas sobre os benefícios financeiros e ambientais são os pontos de partida para a revolução na mobilidade urbana. “Se as pessoas passarem a enxergar isso como uma questão coletiva, e agirem de uma forma compartilhada no dia a dia, a mudança pode vir de hoje para amanhã”, diz.