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Saville Alves, fundadora da SOLOS: "Nossa proposta é investir nas cooperativas tudo que é economizado com a destinação correta dos resíduos" (Tayse Argôlo/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 19 de agosto de 2025 às 14h00.
A primeira capital do Brasil, Salvador, conta com mais de 2,5 milhões de habitantes e o maior PIB da Região Nordeste. O seu Carnaval é um dos maiores do mundo e suas praias recebem milhões de turistas todos os anos. Muito por conta disso, a cidade enfrenta graves problemas sobre a gestão do lixo: a quantidade de resíduos gerados a cada ano é muito superior ao que é reciclado. Ainda hoje, menos de 10% de todo o lixo produzido diariamente na capital baiana chega a centros de reaproveitamento.
O trabalho de uma startup quer mudar esse cenário: a SOLOS, focada em economia circular, acaba de implementar o programa “Roda – a reciclagem na sua porta”, que realiza a coleta seletiva de maneira inovadora: a população agenda a retirada dos resíduos recicláveis e no dia e horário marcados, um veículo elétrico similar a um tuk-tuk busca os materiais nas residências e estabelecimentos. O trabalho ainda envolve uma cooperativa de catadores responsável pela operação dos veículos, o encaminhamento para a triagem e a separação dos materiais.
Assim, o programa se certifica de que os materiais sejam efetivamente reciclados, garante o pagamento justo dos catadores e torna o processo da coleta de reciclagem mais eficiente e produtivo — tudo isso sem a emissão de CO₂.
Programa Roda, da startup SOLOS, faz a coleta seletiva a partir de agendamento em Salvador, e já conta com 37% de adesão
O projeto-piloto é realizado em parceria com a Prefeitura de Salvador e deve ter duração de cinco meses. O grande objetivo da iniciativa é validar esse modelo de coleta porta a porta e garantir dados reais que norteiem os investimentos em reciclagem em grandes cidades do Brasil. Os primeiros resultados, de acordo com Saville Alves, líder de negócios da SOLOS, são promissores. “O projeto começou em 28 de julho e, nesse pouco tempo, já conseguimos mobilizar uma boa parcela da população”, explica.
A iniciativa foca inicialmente no centro histórico de Salvador. Segundo Ivan Euler, secretário da Secretaria Municipal de Sustentabilidade e Resiliência de Salvador, a área foi escolhida pela forte atuação dos catadores autônomos e a diversidade de imóveis (residenciais e comerciais). “A Prefeitura tem feito uma série de investimentos na requalificação do centro histórico, e o Roda vem como mais uma iniciativa para valorizar essa importante área da cidade”, explica Euler. Até o momento, o Roda já conta com 37% de adesão, taxa dentro do esperado.
O apoio ao trabalho dos catadores é uma das prioridades do Roda. O projeto trouxe a remuneração acima do mercado para os profissionais, oferecendo ainda suporte técnicos e de gestão. O objetivo é manter os padrões de saúde, segurança e ergonomia, além de aumentar o valor de venda dos materiais junto às indústrias recicladoras. “Nossa proposta é investir nas cooperativas tudo que é economizado com a destinação correta dos resíduos: poupar em uma ponta e investir na outra”, afirma.
SOLOS quer investir em cooperativas de catadores tudo que é poupado com a gestão correta dos resíduos
Em todo o Brasil, o mercado da reciclagem é um dos maiores informais do país. “Esses profissionais levam os materiais para um sucateiro, não existe um pagamento de IPTU nem nota fiscal pelos produtos. Toda essa cadeia está às escuras”, conta a líder. Por isso, a SOLOS trabalha a formalização do catador como uma solução para melhorar as carências do setor, apesar de enfrentar resistência de parte do setor. “Isso garante a geração de renda digna para essas famílias, afinal, sustentabilidade é para todos”, explica Saville.
O trabalho com a economia circular já é o foco de Saville Alves há cerca de 7 anos. Foi após trabalhar com uma fabricante de plásticos e petroquímicos que ela passou a observar o impacto do lixo em um planeta que não está preparado para gerir tudo que é consumido, especialmente em áreas de maior vulnerabilidade. “Quando falamos que o plástico polui, que é um problema, é nas favelas e periferias que isso fica muito claro. É cruel perceber que as pessoas se acostumam com a presença dos resíduos próximos às suas casas e a falta de saneamento”, explica.
Assim, decidiu abrir uma empresa que pudesse resolver o problema dos resíduos. Hoje, a startup foca no descarte correto, operando em parceria com gestões públicas ou empresas que buscam se adequar à critérios ESG e obrigatoriedades legais. “Embora a reciclagem esteja presente no dia a dia, muitas vezes não é percebida ou intencional. O mundo já se movimenta para trazer à tona a obviedade de que o lixo é um problema”, conta.
Hoje, a SOLOS se concentra em três frentes de atuação: criação de conteúdos de letramento ambiental, especialmente por jovens e linguagens artísticas e culturas; reciclagem em grandes eventos, como as festas de Carnaval em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo; e sistemas inteligentes de coleta, levando soluções adaptativas para cidades que têm déficit neste serviço.
Não é a primeira vez que a SOLOS trabalha a coleta por agendamento. Desde 2022, a startup conta com um programa similar em Fortaleza, também realizado em parceria com a gestão municipal. A partir de triciclos, a startup incorporou a reciclagem de baixa capacidade em quatro bairros da capital cearense. Em pouco tempo de operação, a SOLOS estava atuando em 15 bairros de Fortaleza, explica Alves. “Inevitavelmente lidamos com problemas de uma cidade grande: ruas esburacadas, furtos e violência urbana. Esperávamos entender mais sobre a coleta, mas os principais aprendizados foram em logística e transporte de materiais como metal”, afirma.
O trabalho é realizado até hoje, sendo incorporado à política pública de gestão de resíduos do município. Os conhecimentos ajudaram a nortear muitas das operações que hoje são feitas em Salvador, segundo a líder. O objetivo principal da SOLOS é levar mais programas para diferentes capitais e estados, trabalhando para que as iniciativas integrem os planos municipais de gestão de resíduos e possam endereçar cada vez mais a problemática do lixo.
Em Salvador, o agendamento da coleta pode ser feito a partir deste link.