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The image is a 'digital enhancement' recreating the artist view. The bland original image from NASA was transformed using digital software. Focus, texture, details were added. Also the white and black points were determined. In addition, creative color interpretation of the scene was applied. Elements of this image furnished by NASA (Roberto Machado Noa/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de abril de 2022 às 07h28.
Última atualização em 11 de abril de 2022 às 12h23.
A Conferência Berlin Energy Transition Dialogue, encontro realizado em março que reúne lideranças governamentais de todo o mundo, executivos, economistas e outros grandes nomes do setor para debater ações em prol da transição energética, reforçou conceitos que têm adquirido relevância crescente no contexto atual. O panorama da transição energética, que já era decisivo globalmente, ganhou contornos de urgência, especialmente no que tange à concretização de investimentos em energias renováveis de forma mais ágil.
O encontro mostrou-se altamente produtivo por vários aspectos. Ministros de energia do mundo inteiro, incluindo o de algumas nações da América Latina, debateram o tema à luz de informações contundentes e de um cenário preocupante.
A despeito dos esforços e avanços em direção à descarbonização, o fato é que a humanidade caminhou no sentido oposto ao do desenvolvimento sustentável nos últimos anos. Para se ter uma ideia, de acordo com informações da Agência Internacional de Energia, ao invés de reduzirmos o consumo global de energia proveniente de fontes fósseis, no ano passado aumentou-se em 9% a geração de eletricidade por meio de usinas à carvão. Com dados tão alarmantes, não apenas ficamos mais distantes da meta de reduzir 1,5ºC na temperatura atmosférica, como já se questiona se esse objetivo é factível.
Apesar da transição energética, principalmente no mundo pós-Covid, ter sido encarada como um tema de profunda relevância, a conflagração de um conflito na Europa, agora traz um senso de emergência a essa questão. Somado a esta questão, o desafio geopolítico criado pela guerra na Ucrânia já estabeleceu e tem potencial para intensificar ainda mais dificuldades e desigualdades globais no setor de energia. Isto porque, afastando-se do petróleo e do gás russo, os países ricos tendem a suprir suas necessidades em outros mercados. Com isso, uma consequente escalada dos preços desses insumos fatalmente acarretará uma espiral inflacionária, impactando especialmente os países mais vulneráveis e sacrificando a população com menos recursos.
Para solucionarmos essas questões, as energias renováveis globais devem ser expandidas em um ritmo muito mais rápido do que o que estamos vendo nesse momento. É evidente que suprir a demanda de energia com fontes renováveis é um processo de longo prazo, contudo, a transição para esta nova fase será tão bem-sucedida quanto for o seu planejamento. Nesse caminho, o papel do gás natural surge como um elemento-chave. Países ao redor do mundo, especialmente na Europa, precisarão diversificar seu suprimento de energia e intensificar o uso do gás natural.
Neste panorama, inclusive, abre-se uma valiosa janela de oportunidades para a América Latina. No curto prazo, como fornecedora de petróleo e gás para suprir a lacuna criada pelas sanções à Rússia. No médio e no longo prazo, com o potencial de ser um dos maiores produtores de energia a partir de fontes renováveis e hidrogênio verde.
Seja para diversificar suas fontes de energia ou para aumentar a eficiência de seus sistemas, os países precisarão escalonar seus investimentos em novas tecnologias e em modelos de negócios inovadores. Neste ponto entra um fator essencial nessa equação: a participação do estado no aspecto fundamental da infraestrutura, da segurança e da soberania de um país. Tem ficado cada vez mais clara a necessidade de ações efetivas dos governos na definição dos modelos energéticos, na remoção de obstáculos e criação de regulamentações que facilitem investimentos no setor.
Mas não é só isso. Como apontou durante a conferência Mariana Mazzucato, economista e professora da University College London, os governos precisam adotar abordagens novas e mais holísticas da política econômica para impulsionar a ação climática e a transição energética. Em sua apresentação, ela defendeu que os governos deixem de ser apenas reativos, limitando-se a corrigir as falhas do mercado, mas adotem medidas que garantam uma governança diferente dos bens públicos, incluindo a facilitação a processos de inovação que são fundamentais para o enfrentamento da questão climática.
Dito isso, vale pontuar que a rapidez com que a transição acontece não é apenas uma questão de economia e estado, mas também de cooperação global. Isso quer dizer que a transição energética precisa ser vista não só por meio da perspectiva do setor de energia, mas também de outros grandes mercados, como o de aço, transporte e tantos outros. O setor privado desempenha um papel fundamental no avanço dessa transformação, especialmente no que diz respeito à implementação de ações efetivas que visem a promoção de soluções para o cumprimento das metas colocadas por governos e entidades. Afinal, uma transição energética bem-sucedida não é apenas do interesse de todos, mas também uma questão de responsabilidade compartilhada.
André Clark Juliano é Vice-presidente Sênior para a Siemens Energy na América Latina e Diretor Geral da Siemens Energy no Brasil