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Roberto Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú: "Não é uma COP de 10 dias, é do ano da presidência do Brasil" (Leo Lara/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 15 de novembro de 2025 às 17h51.
Belém - O setor privado brasileiro conserva 200 milhões de hectares de florestas — metade de toda a área do país. Mas esse imenso patrimônio natural ainda é visto como custo — não como oportunidade. Há, no entanto, um potencial inexplorado para torná-lo ator-chave da agenda climática.
A avaliação é de Roberto Waack, cofundador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e presidente do Conselho do Instituto Arapyaú.
"O agronegócio detém um potencial e capital natural imenso, mas ainda não usufrui e o enxerga como um passivo de cuidar de uma área improdutiva", destacou em entrevista exclusiva à EXAME.
Para o executivo, existe um "potencial enorme para que todas as florestas tenham uma política convergente".
As conclusões vêm de um documento inédito entregue à presidência da COP30 na quarta-feira, 12, sobre o potencial da agenda florestal e protagonismo do Brasil.O relatório, produzido pelo Instituto Arapyaú com apoio da Itaúsa e em parceria com organizações como Amazônia 2030, Imazon, CEBDS, Coalizão Brasil e Concertação pela Amazônia, foi encomendado pelo embaixador André do Lago para mapear ao longo deste ano todas as diferentes frentes florestais do país.
O Brasil é reconhecido como potência florestal, mas sofre com as altas taxas de desmatamento. O que faltava, segundo Waack, era consolidar as diferentes dimensões da economia e mostrar como o setor privado já desempenha papel central na conservação.
Ao todo, são 500 milhões de hectares, sendo que quase metade estão sob responsabilidade privada — ou seja, donos de terras, fazendeiros e empresas.
"Algumas áreas são de produção, outras com objetivo de conservação. Mas todas oferecem serviços ecossistêmicos. Essas conexões de tudo que fazemos economicamente em âmbito nacional precisava ser estabelecida de forma mais clara", explicou Waack.
Um dos destaques é que o Brasil se apresenta como o mais competitivo do mundo em setores como celulose, em projetos robustos de restauração com grandes investidores entrando no jogo e a liderança brasileira e de povos indígenas na conservação.
Entre as expectativas do Instituto Arapyaú para a COP30 está o Fundo de Florestas Tropicais (TFFF, na sigla em inglês).
Apesar do desafio de levantar recursos, Waack vê no mecanismo uma mudança inovadora importante e espera por novos aportes na COP30 e ao longo da presidência brasileira, que se estende até novembro de 2026.
Na Cúpula dos Líderes, o fundo já ganhou US$ 5,5 bi e apoio de 53 nações.
"O conceito que está por trás é 'floresta tem valor'. Não precisa fazer conta de quanto carbono está estocado. Independentemente de todos os desafios de métricas e mercados, o instrumento é fundamental para remunerar quem preserva", disse.
Para o presidente, é um movimento bastante interessante do Brasil "em um momento em que o mundo diz que não tem dinheiro para nada".
Waack reforça que a agenda climática não se encerra com os dez dias de conferência em Belém, está apenas começando. "Eu diria que 2026 vai ser um grande ano, com a presidência brasileira focando na implementação", ressaltou.
A ideia, segundo ele, é que a importância transversal das florestas seja reconhecida pela sociedade e pelas empresas, "colocando-as como protagonistas" de uma agenda que o setor privado já lidera na prática, mas ainda precisa assumir de forma estratégica e econômica.
Em um Brasil onde mais da metade das emissões vêm do uso da terra e do agronegócio, este setor não pode ficar de fora das discussões do futuro climático.
O protagonismo defendido por Waack já se materializa em iniciativas como a C.A.S.E. (Climate Action Solutions & Engagement), coalizão de gigantes como Bradesco, Itaúsa, Itaú Unibanco, Natura, Nestlé e Vale e que tem sete pilares alinhados às prioridades da presidência da COP: financiamento climático, bioeconomia, transição energética, sistemas alimentares, economia circular, infraestrutura e transição justa.
A bioeconomia é um dos grandes impulsionadores para um novo modelo de baixo carbono e que encontra justamente na Amazônia, sede da COP30, seu maior potencial.
Marcelo Furtado, Diretor Executivo do Instituto Itaúsa, disse à EXAME que grandes empresas do setor financeiro, infraestrutura, cosméticos já fazem parte da construção desta economia real brasileira.
"É um ecossistema que vai gerar emprego, renda e uma benefícios econômicos positivos para o clima, natureza e pessoas", destacou.
Agricultura regenerativa, biocombustíveis e restauração são exemplos da bioeconomia em escala. O desafio, segundo Furtado, está em melhorar marcos regulatórios e ampliar crédito e financiamento, "olhando para o futuro com o nexo de natureza e tecnologia".
Durante a COP30, a iniciativa tem um propósito claro: provar que o Brasil está pronto para contribuir com o enfrentamento da crise climática e liderar soluções.
Tradicionalmente, o setor privado não sentava 'a mesa' do clima. Ricardo Mussa, Chair da SB COP, disse à EXAME que se trata de um esforço coletivo desta COP30.
"Ao final, teremos um processo e legado para todos os próximos países que irão sediar a COP. É um incentivo para traduzir a discussão e acelerar a implementação", disse.
Dan Ioschpe, campeão climático da COP30 designado para fazer uma ponte de diálogo entre o setor privado e a diplomacia, acrescentou que "organizar essa arquitetura é um motor de implementação".
"O que sentimos de sinalização de todos os atores [empresas, academia, governos] é que veio numa hora muito boa, e pode fazer parte de um ciclo anual das próximas COPs", concluiu.