Apoio:
Parceiro institucional:
Segundo o Climatempo, onda de calor pode se estender até 24 de fevereiro no Brasil (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Repórter de ESG
Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 18h13.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2025 às 10h45.
Cones de trânsito derretendo no asfalto e termômetros batendo os 50ºC: este foi o retrato da onda de calor no Rio Grande do Sul na última semana. Pela terceira vez em 2025, o município gaúcho de Quaraí bateu o recorde de maior temperatura do Brasil e registrou 44ºC.
O evento extremo não é um caso isolado: a alta nos termômetros se espalha para outras regiões e deve persistir até 24 de fevereiro com temperaturas até 7ºC acima da média, segundo alertou o Climatempo.Nesta segunda-feira (16), uma nova onda de calor no país e a terceira deste ano afeta os estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, com a possibilidade de se estender para Goiás e Bahia.
Em São Paulo, a Defesa Civil emitiu um alerta para a alta nas temperaturas que podem chegar até 38° em algumas localidades. Na capital paulista, há uma tendência de ocorrência de um fenômeno conhecido como “ilha de calor”, agravado em grandes centros urbanos abundantes em concreto e com pouca arborização.
No Rio de Janeiro, a previsão acima dos 40 Cº também nesta semana pode colocar a cidade em um índice nível 4 de calor.
Mas afinal, por que está tão quente a ponto de se falar em uma sensação térmica de 70 graus? Já é unanimidade na ciência que as mudanças climáticas tem relação com o aumento das temperaturas e maior frequência e intensidade de eventos extremos -- como é o caso de ondas de calor.
Willians Bini, Climate Business Strategist e metereologista há mais de 25 anos, destacou à EXAME que os últimos dois anos têm sido de 'anomalias positivas' (altas nos termômetros) em praticamente todo o planeta.
"Nós já ultrapassamos os 1,5ºC estipulados pelo Acordo de Paris. Quando vemos as projeções, estas tendências devem persistir. Não podemos mais apenas falar de mitigação dos riscos e sim de adaptação às novas condições impostas pelo clima", disse.
Pela primeira vez na história, 2024 bateu o marco limítrofe e o mundo registrou a média mais alta em um período de 12 meses: 1,52ºC. Janeiro deste ano também foi o mês mais quente registrado até então.
O especialista ressalta que o fenômeno se caracteriza por uma conjuntura climática de pelo menos 5ºC acima da média por no mínimo cinco dias consecutivos.Além da mudança climática, outro fenômeno que influencia é o La Niña, caracterizado pelas temperaturas mais frias do que o normal na superfície do Oceano Pacífico e que reflete de diferentes formas no Brasil. Enquanto no Sul há uma redução na precipitação e risco de estiagem, no Nordeste acontece o oposto.
"No início do verão, as chuvas estavam amenizando um pouco o calor e os extremos de temperatura. Agora, estamos vivendo irregularidades, o que acaba levando ao pico de altas por vários dias seguidos", explicou Willians.
Em relação à região Sudeste mais especificamente, o ano de 2025 está sendo marcado pela pouca frequência de frentes frias -- diferente do usual no verão. "Elas ajudam a regular o clima, trazendo chuvas mais generalizadas, nebulosidade e umidade, reduzindo, assim, o excesso de radiação e calor", complementou o metereologista.
Ondas de calor são um 'desastre negligenciado' e diferente do que muitos pensam, matam mais que tempestades e deslizamentos. Um estudo recente divulgado pela organização ambiental Germanwatch revelou que o clima extremo causou 800 mil mortes e prejuízo de US$ 4,2 trilhões em 30 anos.
Visto o cenário atual de alta nos termômetros, a defesa civil emitiu um alerta: redobrar a atenção com idosos e crianças, que devem ingerir bastante água para se manterem hidratados e protegidos do sol.A médica Emergencista e Chefe do Serviço de Emergência do Hospital Moinhos de Vento, Alessandra Wanderley Tobaru, explicou à EXAME, que naturalmente o corpo humano mantém uma temperatura média de 36,5°C. Quando exposto a um calor acima do normal, ocorre o aumento da sudorese, a fim de levar ao resfriamento e dilatação dos vasos sanguíneos.
"Então há um risco maior de desidratação e queda da pressão arterial, levando aos sintomas de mal estar, tonturas, dor de cabeça, fraqueza e até desmaios", destacou.
Entre suas recomendações, estão: usar roupas leves e fatores de proteção solar tanto químicos (filtro solar) como físicos (óculos, chapéus) e evitar exposição direta ao sol -- principalmente entre o período de 10h às 16h. As crianças e idosos são grupos de maior risco, devido ao mecanismo de regulação da temperatura corporal funcionar de forma diferente nos extremos das idades, explicou Alessandra. Além disso, pacientes com doenças crônicas também são mais vulneráveis.