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A capital da Etiópia, Adis Abeba, é berço de discussões da Semana do Clima da ONU e da Cúpula da África até 10 de setembro (Getty Images/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 1 de setembro de 2025 às 16h30.
Última atualização em 1 de setembro de 2025 às 16h44.
A menos de 80 dias da COP30 em Belém do Pará, a capital da Etiópia, Adis Abeba, é berço de discussões da Semana do Clima da ONU e consolida o papel da África no desenvolvimento de soluções verdes para uma economia de baixo carbono.
"Daqui até Belém precisamos ampliar vozes, alinhar prioridades e mostrar que o Sul Global não é coadjuvante: é protagonista na resposta à crise climática", disse à EXAME Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
O evento, que começou nesta segunda-feira e vai até 6 de setembro, antecede a segunda Cúpula do Clima da África (ACS2), marcada para os dias 8 a 10 de setembro e deve reunir mais de 45 chefes de Estado com foco em financiamento justo para que países mais vulneráveis driblem os efeitos mais severos do clima.
"Este não é o momento para retórica, mas para ação ousada. Não somos vítimas de uma crise que não criamos, mas arquitetos de um futuro justo, verde e resiliente", disse Abiy Ahmed, Primeiro-Ministro da Etiópia.
No encerramento da Cúpula, a expectativa é que seja adotada a Declaração de Adis Abeba, documento que deve unificar as demandas africanas por uma "nova ordem financeira" que reconheça a dívida climática e reforme o sistema global.
Na última COP29 em Baku, no Azerbaijão, o acordo de financiamento de 300 bilhões de dólares anuais ficou muito aquém da necessidade africana de US$ 3 trilhões para alcançar suas metas climáticas.
Com alto potencial em renováveis, a transição energética está no centro da agenda. A África quer ampliar sua capacidade de fontes limpas dos atuais 56 GW para pelo menos 300 GW até 2030, com horizonte de alcançar um sistema 100% renovável no continente até 2050.
O continente concentra 60% do potencial solar mundial e tem reservas abundantes de minerais críticos, mas recebe apenas 2% do investimento mundial no setor e segue cronicamente subatendida em energia.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), seria possível quadruplicar o tamanho de sua economia até 2040 consumindo apenas 50% a mais de energia e aproveitando seus vastos recursos naturais. A transição também poderia gerar 2,2 milhões de novos empregos no setor.
Embora seja responsável por menos de 4% das emissões globais de gases de efeito estufa, a África sofre alguns dos piores impactos das mudanças climáticas. Pelo menos 5% do seu PIB é perdido por conta de eventos extremos, desviando recursos de saúde, educação e outros serviços básicos.
A adaptação climática se torna uma agenda urgente e a África necessita de US$ 579 bilhões entre 2020 e 2030, enquanto os fluxos atuais são de cinco a dez vezes inferiores ao necessário. Um relatório de 2025 do World Resources Institute (WRI) indica que a cada dólar investido em adaptação pode gerar mais de US$ 10 em benefícios.
"Estar aqui, a caminho da COP30, é reconhecer que não existe saída global sem justiça climática africana e que nos brasileiros queremos construir soluções em conjunto", destacou Natalie.
Em 8 de setembro, o Quênia deve apresentar um balanço da Declaração de Nairóbi, documento de 11 pontos aprovado na primeira Cúpula do Clima da África em 2023, avaliando quanto da ambição se traduziu em implementação. Uma das metas era alcançar 300 gigawatts de energia renovável até 2030.
"Este não é o momento para retórica, mas para ação ousada", afirmou o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, anfitrião do evento.
Para Ali Mohamed, enviado especial do Quênia para o Clima, a missão é "transformar a ambição de 2023 em ação", ampliando o capital, destravando cadeias de valor e forjando alianças que sustentem a competitividade da África na economia verde.
"Um resultado bem-sucedido seria aquele em que as prioridades africanas sobre adaptação, resiliência, perdas e danos, e soluções comunitárias não apenas sejam reconhecidas, mas incorporadas às decisões, estruturas de financiamento e mensagens diplomáticas que sairão de Adis Abeba", destacou Mohamed.
Embora os países africanos tenham confirmado presença na COP30 em Belém do Pará, o preço alto das hospedagens afasta negociadores e um grupo chegou a solicitar que o maior encontro climático do mundo mudasse de cidade sede.
Em reunião emergencial com a presidência brasileira da COP, o embaixador André do Lago rejeitou qualquer plano B e afirmou que o governo irá atuar em uma força-tarefa para garantir a acomodação das delegações dos 72 países mais vulneráveis. Agora, a capital do Pará corre contra o tempo para resolver os gargalos que comprometem a participação de líderes mundiais.