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Sem financiamento, acordos climáticos serão apenas promessas

Na Conferência Internacional para o Desenvolvimento da ONU, em Sevilha, um consenso: para atingir as metas de financiamento de trilhões será necessário mudar a arquitetura financeira global

O financiamento climático exige mais de é de 1,3 trilhão de dólares anuais para países em desenvolvimento lidarem com os efeitos mais severos do clima (Freepik)

O financiamento climático exige mais de é de 1,3 trilhão de dólares anuais para países em desenvolvimento lidarem com os efeitos mais severos do clima (Freepik)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 13 de setembro de 2025 às 15h00.

*Por Carlos Abras e Afra Balazina, da Fundação SOS Mata Atlântica

“Sem financiamento, os acordos não passarão de declarações de boas intenções.”

O posicionamento do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, durante a 4° Conferência Internacional para o Desenvolvimento da ONU, em Sevilha, na Espanha, reflete a percepção de toda a comunidade internacional sensível às mudanças climáticas e suas consequências: já temos conhecimento, tecnologia, acordos e metas o suficiente para reverter esse quadro. Sem recursos, no entanto, nada disso se sustenta.

A conferência contou com a participação de mais de 50 líderes mundiais e 15 mil participantes de 150 países, resultando no Compromisso de Sevilha.

O documento aponta um consenso: para atingir as metas de financiamento da Agenda 2030, de 4 trilhões de dólares anuais, será necessário mudar as regras do jogo da arquitetura financeira global. Ou seja, o problema não é a falta de recursos, mas de vontade política.

Como exemplo, a ajuda ao desenvolvimento caiu cerca de 7% em 2024, enquanto os gastos militares cresceram 9,4%, alcançando 2,7 trilhões de dólares. Esse valor corresponde ao dobro da meta anual de financiamento climático, que é de 1,3 trilhão de dólares – montante, por sua vez, semelhante ao que ainda é destinado a subsídios a combustíveis fósseis e outros setores poluentes.

Outro ponto é que o financiamento não vem sendo planejado de maneira integrada. Além da meta climática, os países também se comprometeram a mobilizar 200 bilhões de dólares por ano para proteger a biodiversidade com o Global Biodiversity Framework.

A partir de um desenho inteligente seria possível usar um mesmo recurso para atender simultaneamente as metas do clima e da biodiversidade, tornando o uso do capital mais eficiente.

É importante lembrar ainda que os impactos da crise climática e da perda de biodiversidade recaem com maior peso sobre os países mais pobres e populações vulneráveis, ampliando desigualdades sociais e econômicas.

Como ressalta o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, é imprescindível preencher a lacuna de financiamento ao desenvolvimento sustentável e reforçar apoio ao Sul Global, responsável por menos emissões, mas mais afetado pelas mudanças climáticas. Atualmente, mais de 3 bilhões de pessoas vivem em países onde os governos gastam mais com pagamento de juros da dívida do que com saúde ou educação.

A conferência em Sevilha debateu ainda mecanismos como redução das taxas de juros e perdão de dívidas, desde que os recursos sejam destinados à mitigação, resiliência e adaptação climática.

O papel do multilateralismo e do ambiente geopolítico atual (que se encontram numa grande encruzilhada, uma vez que estamos testemunhando o aumento de conflitos armamentistas entre vários países), bem como a escalada da tensão de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e diversas nações, também ocuparam grande parte do debate.

No meio de tudo isso, o Brasil tem um papel central: como sabemos, Belém sediará, em novembro, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30.

A comunidade internacional voltará ao Brasil carregando o peso de uma grande responsabilidade”, destacou o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, em carta à comunidade internacional.

O desafio é ainda maior porque apenas 20% dos países apresentaram suas metas nacionais de redução de emissões atualizadas – as chamadas NDCs. E, como lembrou Corrêa do Lago, mais do que simples metas, elas são guias de cooperação para a construção de um futuro coletivo.

“É nossa responsabilidade assegurar um planeta habitável e deixar nossos filhos orgulhosos, aliviados e esperançosos quanto ao seu próprio futuro”, afirmou.

Essa reflexão reforça que não basta ambição: é preciso traduzir compromissos em ações concretas e sustentadas por financiamento.

É nesse ponto que a sociedade civil – que, aliás, esteve pouco representada em Sevilha – tem o papel fundamental de cobrar, propor soluções e dar visibilidade às contribuições dos diferentes biomas brasileiros.

A Mata Atlântica, por exemplo, é estratégica para combater e mitigar as mudanças climáticas. Reconhecida como prioritária pela Década de Restauração da ONU, garante a segurança alimentar e a oferta de usos múltiplos da água para mais de 145 milhões de pessoas e atividades econômicas – já que 80% do PIB, entre bens e serviços, é gerado na área do bioma.

Há muito capital circulando no mundo, porém é preciso direcioná-lo para caminhos que descentralizem o poder em vez de concentrá-lo.

O sistema financeiro não deve servir apenas à prosperidade dos negócios, mas, sobretudo, à das pessoas e do planeta. Sem financiamento, acordos climáticos serão apenas promessa

*Carlos Abras e Afra Balazina são, respectivamente, gerente de negócios e mobilização e diretora de mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica

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