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Beto Veríssimo, cofundador do Imazon: "Assim como temos um seguro e um serviço para manter estradas, precisamos pagar pela floresta em pé" (Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 12h45.
"A emergência climática vai forçar o mundo a buscar soluções baratas e escaláveis — e, nos próximos 10 anos, só teremos a natureza", destacou Beto Veríssimo, cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e enviado climático para florestas da Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP30), em entrevista à EXAME.
Um entusiasta do bioma, Beto se dedica há mais de 35 anos ao estudo da região e está á frente do projeto Amazônia 2030 junto com outros 120 especialistas de todo Brasil.
Sua missão? Focar em problemas reais e complexos e aliar a ciência para desenvolver um plano de desenvolvimento sustentável. Nesta jornada de décadas, ele se define com um "espírito empírico":
"Eu quero estar em contato direto com os agentes em campo. Quando vou ao Pará, eu não quero estar em Belém, mas sim no interior, vivendo as realidades", exemplificou.
Em busca de soluções para a crise climática, o pesquisador só tem uma certeza: sem as florestas tropicais, não há como cumprir as metas do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1.5ºC de temperatura até 2030.
“Existem duas maneiras de capturar carbono. Uma é com tecnologia caríssima e é improvável nos próximos 30 anos. A outra é com o que temos há meio bilhão de anos: o processo de fotossíntese", contextualizou.
Isto porque, este ecossistema desempenha um papel vital na regulação climática global, estocando grandes quantidades de gases estufa, produzindo umidade e influenciando os padrões de chuvas. Sua preservação e restauração é peça-chave para mitigar as emissões e garantir a resiliência climática do planeta.
Para o Brasil, o pesquisador a considera o "calcanhar e o trunfo climático" e reforça a urgência de se acabar com o desmatamento para que o país cumpre sua meta climática (NDC) de reduzir em 67% as emissões até 2035.
"A Amazônia regula os rios voadores, joga umidade para atmosfera, estoca carbono. Isso tem impacto direto na economia", enfatizou ao lembrar que sem ela acontece a inviabilidade de setores produtivos como a própria agricultura e geração de energia.
A aposta de Beto está no pagamento por serviços ecossistêmicos, um mecanismo que o Brasil deve levar como proposta central para a COP30 em Belém do Pará, em novembro deste ano. O modelo prevê o pagamento pela conservação de florestas em pé, as reconhecendo como uma "infraestrutura essencial" para a regulação climática global.
"Assim como temos um seguro e um serviço para manter estradas, precisamos pagar pela floresta em pé", defendeu.
Natural da Paraíba, Beto se mudou para o Pará em 1985, ainda na graduação, com o desejo de estudar e se aprofundar na Amazônia.
Após toda proximidade com a realidade local e suas soluções verdes, ele enxerga de forma clara todo o potencial transformador da região, tanto na conservação quanto na restauração florestal.
"O Brasil tem um terço de todas as reservas de carbono florestal tropical do mundo. E ao mesmo tempo, por termos desmatado muito, há muitas áreas aptas a serem restauradas. Logo, somos uma mega potência", sustentou.
Os números impressionam: na Amazônia existem 84 milhões de hectares de áreas desmatadas -- uma extensão maior que França e Itália juntas e que estão subutilizadas ou abandonadas.
A maior parte destas áreas foi desmatada para pecuária de baixa produtividade que, após alguns anos, se tornaram inviáveis economicamente.
Diferentemente de outros biomas brasileiros, Beto explica que a Amazônia tem uma capacidade natural de regeneração que facilita os projetos de restauração.
"A floresta foi alterada lá atrás pela presença dos povos indígenas. Ou seja, ela não é frágil, é resiliente", destacou. Para o pesquisador, investir na restauração é o mais vantajoso. "A atividade gera mais emprego e renda e mais benefícios ambientais e sociais", acrescentou.
Seu potencial vai além e Beto destaca que o Brasil tem condições únicas para liderar a transição para uma economia de baixo carbono. "Somos ricos em soluções: matriz energética limpa, com grande parte vindo de hidrelétricas e abundância em água, recursos naturais, floresta em pé e todo esse potencial de restaurar", complementou.
Segundo ele, somos um dos poucos países entre as grandes economias que consegue reduzir as emissões absolutas. A "mágica" para isso acontecer é justamente reduzir o desmatamento.
"Podemos ir além da neutralidade de carbono, podemos ser 'carbono positivo', com a agricultura e com a floresta", disse.
Como enviado climático para florestas da COP30, Beto expressa otimismo em relação à liderança brasileira, destacando o trabalho do embaixador André do Lago, da CEO executiva Ana Toni e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que atuam para destravar as negociações climáticas globais.
Para o pesquisador, a conferência em Belém será importante especialmente para mobilizar o setor privado brasileiro e ampliar o diálogo entre ciência, iniciativa privada e governo. "É um catalisador para o país se transformar em baixo carbono", concluiu.