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Retrospectiva ESG 2022: Na primeira COP da África, países criam fundo e adiam decisões

Sharm el-Sheik foi o palco para um dos eventos mais importantes da agenda climática em 2022; conheça os principais pontos discutidos na conferência

COP27: Saiba o que foi decidido em um dos eventos mais relevantes de 2022 sobre o clima (Leandro Fonseca/Exame)

COP27: Saiba o que foi decidido em um dos eventos mais relevantes de 2022 sobre o clima (Leandro Fonseca/Exame)

A 27ª edição da Conferência do Clima (COP27), realizada neste mês de novembro na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, foi marcada pela participação de figurões governamentais, ativistas e grandes empresas. Apesar do evento se propor a unir diversos participantes para discussões essenciais como, por exemplo, os próximos passos em questões relacionadas às mudanças climáticas, muitas das decisões foram adiadas. 

Com tom mais conciliador, essa COP teve um papel de intermediário e de preparação para próximas reuniões importantes na agenda climática. Tanto é que muitas deliberações previstas aconteceram somente nos últimos dias do evento. Mas, há quem diga que essa edição da Conferência foi a ‘COP da implementação’, onde representantes internacionais e ativistas em manifestações e protestos pressionaram os governos no quesito apresentação de metas, métricas e planos com impacto positivo no campo da sustentabilidade para o futuro próximo. 

Um exemplo disso foi o tom nada otimista do próprio Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, durante seu discurso nos períodos finais das negociações. “As Partes permanecem divididas em uma série de questões importantes", afirmou Guterres, “O relógio do clima está correndo e a confiança continua se desgastando. As partes na COP27 têm a chance de fazer a diferença – aqui e agora. Eu os estimulo a agir – e agir rapidamente”.  

“O progresso é lento, mas ele acontece. A COP é o momento em que as discussões, que acontecem o ano todo, chegam ao ápice, e muita coisa é decidida nos bastidores”, afirmou Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, braço das Nações Unidas. 

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Fundo de perdas e danos definido

O evento que reuniu mais de 45 mil participantes, segundo a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), definiu um fundo de perdas e danos. Essa foi uma das saídas de maior repercussão durante a Conferência pois, através deste combinado, os países-membros se comprometem com a criação de um fundo global de perdas e danos de 100 bilhões de dólares ao ano para auxílio em caso de desastres naturais causados pelas mudanças climáticas, ou seja, como uma forma de investir em infraestrutura climática nos países pobres.

O feito vem sendo discutido desde a COP15 de Copenhagen. O Ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry, disse que este fundo é uma maneira de manter a esperança acesa de que os sofrimentos serão resolvidos de forma mais rápida e apropriada. “Hoje, aqui em Sharm El-Sheikh, estabelecemos o primeiro fundo dedicado a perdas e danos, um fundo que está em construção há tanto tempo. Era apropriado que esta COP, a COP de implementação na África, fosse onde esse mecanismo fosse finalmente estabelecido”, disse.  

Apesar de demonstrar avanços importantes por meio dessa decisão do fundo, o futuro é incerto pois muito se discute sobre a possibilidade (ou a falta dela) dos países arcarem com os gastos necessários para a manutenção do fundo.  

Porém, o acordo foi aceito a contra gosto por alguns representantes, principalmente da União Europeia (UE). Para eles, um fundo de perdas e danos não é o suficiente para lidar com todas as consequências das mudanças climáticas. "O que temos diante de nós não é um passo à frente suficiente para as pessoas e o planeta", disse o vice-presidente executivo da União Europeia, Frans Timmermans. "Não traz esforços adicionais suficientes dos principais emissores para aumentar e acelerar seus cortes de emissões", acrescentou. 

Além do acordo de perdas e danos, foi definida a meta para aumento de temperatura global como sendo de 1,5ºC – além de discussões sobre economia de baixo carbono, tecnologia climática e mitigação. Também tiveram atualizações nos sobre adaptação climática e desmatamento florestal.  

Grande presença das empresas

As empresas estão cada vez mais presentes na Conferência do Clima, isso poderia ser observado nos corredores do evento, onde CEOs, empresários e funcionários de diversas companhias trocavam insights sobre cases de sucesso ligados à sustentabilidade. Então, o que pode faltar no quesito de presença governamental na COP, não deixa a desejar quando o assunto é o setor privado. Muitas empresas compartilharam suas experiências e planos futuros para a equipe EXAME ESG, que marcou presença no evento. 

Dentre as companhias presentes com quem a EXAME conversou, estavam apresentando seus cases: a Fundação Grupo Boticário, com o projeto do rio Miringuava, Biofílica Ambipar, apresentando um projeto sobre créditos de carbono, Sigma Lithium, com uma iniciativa de para mitigar a seca no vale do Jequitinhonha, Ambipar, falando sobre redução de emissões e economia circular, e Raízen, com um projeto de descarbonização pela utilização do etanol. 

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Lula na COP27

O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, marcou presença na segunda semana da Conferência do Clima. A recepção foi alvoroçada e o presidente foi recebido com grande expectativa internacional sobre os discursos e movimentações do petista no evento – visto que essa era a oportunidade para o Brasil se recolocar em discussões climáticas, algo que estava em segundo plano durante a gestão atual. 

Enquanto estava presente no evento, o presidente eleito se encontrou com autoridades, brasileiras e estrangeiras, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o secretário geral da ONU, Antonio Guterres, John Kerry, enviado especial da Casa Branca para o clima – além de lideranças civis e povos indígenas.

Dentre tudo o que foi dito, Lula levou o ativismo brasileiro ao evento com promessas e cobranças. Muito foi dito do protagonismo internacional por parte do Brasil, uma tecla bastante usada pelo presidente eleito. Lula falou que irá cobrar os países ricos sobre acordos firmados e não cumpridos, como o combinado da transferência de 100 bilhões de dólares ao ano para países em desenvolvimento no combate a mudanças climáticas.Além disso, muito foi dito sobre a criação de alianças regionais e internacionais, exemplo disso foi a coalizão com Congo e Indonésia pela proteção das florestas. Lula também prometeu incluir os povos indígenas no orçamento nacional, com a criação do Ministério dos Povos Originários.  

Janja Lula, esposa do presidente eleito, também marcou presença no evento mas na sua agenda estava um encontro informal com o Grupo Mulheres Sustentáveis, que aconteceu dentro da COP27. A presença de Janja reforça seu papel de auxílio na agenda de Lula quando o assunto é pauta socioambiental. No encontro, Janja compartilhou que pretende trabalhar de maneira “menos cerimonial” com pautas como violência contra a mulher, abuso sexual de crianças e sustentabilidade em geral. 

“Ela quer tocar uma agenda diferente do papel tradicional da primeira-dama e ser mais atuante nas prioridades sociais do país. O conhecimento profissional dela é, neste sentido, indispensável", afirmou uma das organizadoras do Grupo Mulheres Sustentáveis, com cerca de 250 mulheres. A ex-ministra Marina Silva também marcou presença no evento e conversou com a EXAME sobre sua visão sobre política ambiental, desmatamento, potência agrícola e proativa – além do protagonismo brasileiro.

A relevância dos povos originários

Outra pauta trazida ao longo do evento, e reforçada até pelo próprio presidente eleito Lula, foi a importância dos povos indígenas. Algumas frentes estavam presentes na COP27 e participaram das discussões. É evidente a importância dos povos originários para contenção dos efeitos negativos das mudanças climáticas, e o tema deve estar em voga  durante o ano de 2023

Segundo levantamento da MapBiomas, a partir de imagens de satélite e inteligência artificial (AI),  entre 1985 e 2020, as áreas mais preservadas do Brasil foram as indígenas, com desmatamento de só 1,6%. Mas, o caminho para a inclusão nas discussões ainda é longo e tortuoso, muitas frentes indígenas reivindicam maior participação em momentos decisórios. 

“Entre as muitas atividades sustentáveis que praticamos, o povo Paité Suruí é o primeiro do Brasil a trabalhar com crédito de carbono [desde 2012] e tem o quarto maior projeto do mundo desenvolvido por povos originários nessa frente. Esse é só um exemplo de como já sabemos das soluções que interessam a todos”, concluiu a líder indígena Txaí Suruí 

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