ESG

Retrospectiva ESG 2022: a guerra na Ucrânia fez a Europa voltar para o petróleo

Com cortes no abastecimento de gás natural por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, Europa desacelerou a transição energética para buscar fontes alternativas do combustível fóssil

Guerra na Ucrânia: invasão russa marca quase um ano de conflito com bombardeios, protestos e oposição de órgãos internacionais (Umit Bektas/Reuters)

Guerra na Ucrânia: invasão russa marca quase um ano de conflito com bombardeios, protestos e oposição de órgãos internacionais (Umit Bektas/Reuters)

Apesar do ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, declarar em janeiro que não haveria guerra, em 24 de fevereiro deste ano, uma série de cidades ucranianas – incluindo a capital Kiev – foram invadidas por ataques aéreos russos. O acontecimento marcou o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que vem causando repercussões em diversos setores geopolíticos e econômicos neste quase um ano de conflito. Uma das áreas mais impactadas foi o abastecimento europeu, que dependia dos gasodutos russos para fornecimento de gás natural, muitos deles atravessando o território ucraniano. 

A invasão russa corresponde a um dos piores conflitos europeus em anos, com inúmeros bombardeios, protestos e mortes. Segundo dados fornecidos pelo Energy International Administration (EIA), a Rússia, que é membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), constava, em 2021, como o 3º maior produtor de petróleo do mundo, produzindo 10.777.000 barris de petróleo por dia (bpd) – atrás somente dos EUA e da Arabia Saudita. Por esse motivo, logo no início das tensões entre os dois países, já havia preocupação sobre a oferta da commodity. Mas, além das grandes taxas de produção petrolífera, a Rússia é um dos grandes fornecedores europeus de gás natural, um dos insumos oriundos do petróleo.

Assine a newsletter EXAME ESG, com os conteúdos mais relevantes sobre diversidade e sustentabilidade nos negócios

Como consequência à guerra, existia um clima tenso com relação à redução de oferta russa e possíveis sanções, ou seja, uma espécie de pena, aos produtos russos como parte de um posicionamento político avesso ao conflito. Dito isso, nos dias subsequentes às primeiras invasões, o petróleo disparou mais de 7%, precificado a US$ 105 por barril pela primeira vez desde 2014. 

Existem estudiosos que acreditam que a produção petrolífera russa seria, supostamente, um dos grandes financiadores de todo o poderio do Kremlin para o conflito. Pensando nisso, muitos países se organizaram para desvalorizar a produção russa. Porém, com o abastecimento de gás natural descontinuado, desenhou-se um verdadeiro jogo complexo, dividindo investidores. 

Uma das expectativas era que a Líbia voltasse a exportar petróleo pela primeira vez em meses, após um longo período de disputa entre o governo da Líbia e as ocupações rebeldes nos terminais de petróleo no leste do país desde o ano passado. De acordo com analistas da JBC Energy, o primeiro embarque da commodity poderia ocorrer em abril.

Mas, foi em junho deste ano que a estatal russa Gazprom tomou iniciativas mais intensas com relação ao fornecimento de gás para a Alemanha e outros países europeus, cortando parte ou totalmente o abastecimento. Países como França e Itália relataram dificuldade no recebimento do gás russo. A decisão foi consequência do amadurecimento do conflito, que entrava no seu quarto mês, além de uma forma de protesto russo para declarações de líderes europeus que apoiavam a entrada da Ucrânia na UE. A França não estava recebendo o fornecimento devido e recorreu a uma produção local chamada GRTgaz, enquanto a Itália teve redução do fornecimento e recorreu à empresa Eni. 

Já no mês seguinte, o corte imediato de entregas de gás à Ucrânia, um dia após tentativas falhas de negociação entre a tríplice russa, ucraniana e europeia sobre o preço do gás russo. Neste ponto, o conflito se tornava, além de bélico, uma “guerra energética” com todo um plano de fundo de preocupação por parte da União Europeia. A Gazprom, empresa russa, anunciou na véspera a suspensão de todas as compras de gás russo como resposta ao fracasso.

"A Ucrânia não pagou o gás para julho. A partir das dez da manhã de 1 de julho, o abastecimento de gás da Gazprom à Ucrânia será cortado. A Gazprom não entregará mais gás à Ucrânia -seja qual for seu preço- sem pagamento antecipado", declarou em comunicado o presidente da Gazprom, Alexei Miller.

Tensões no contexto internacional 

Muitos países e organizações mundiais se prontificaram a ter um posicionamento avesso ao conflito. O G7, por exemplo, que é formado pelos EUA, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Japão, afirmou que pretendia "evitar que a Rússia lucre com sua guerra agressiva contra a Ucrânia e apoiar a estabilidade nos mercados mundiais de energia" para que as consequências no contexto macroeconômico gerados pela guerra fossem controlados, além de expressar um boicote ao governo russo. 

No último dia 2 de dezembro, sexta-feira, os 27 países-membros da União Europeia (UE), juntamente com o G7 e a Austrália, firmaram um acordo para impor um preço máximo ao petróleo russo de 60 dólares o barril, com o objetivo de privar Moscou de uma grande fonte de financiamento para a invasão da Ucrânia. Porém, o gabinete do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, pediu um teto contra o petróleo russo mais baixo do que o acordado por membros do G7, União Europeia (UE) e outros países. Passando de 60 dólares para 30 dólares.

"Seria necessário baixá-lo para US$ 30 para destruir a economia do inimigo mais rapidamente", escreveu Andriy Yermak, chefe do gabinete de Zelensky, em sua conta no aplicativo de comunicação Telegram.

Além disso, no meio das reuniões e discussões diplomáticas, foi considerada a entrada da Ucrânia na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como forma de apoio ao local invadido. O assunto, visto como um verdadeiro barril prestes a explodir, veio à tona após uma reunião entre o presidente ucraniano, Zelensky, e o presidente norte-americano, Joe Biden. "Dificilmente países como a Alemanha e França concordariam com a adesão da Ucrânia ao bloco militar, por temer reações da Rússia", afirmou o cientista político americano Ariel Cohen.

Consequências sentidas pelo Brasil 

Além de todo o contexto russo de produtor e exportador de commodities importantes, tanto a Rússia como a Ucrânia são grandes produtores mundiais de grãos. Por esse motivo, produtos, como pão e massas, também poderiam ter seus valores afetados pela tensão. Além de impactos que foram sentidos pelas oscilações na bolsa de valores, internacional e brasileira. 

O fim da guerra está próximo? 

O presidente russo, Vladimir Putin, disse na última quinta-feira, 22 de dezembro, que a Rússia quer o fim da guerra na Ucrânia e que isso envolveria uma solução diplomática. "Nosso objetivo não é girar o volante do conflito militar, mas, ao contrário, acabar com esta guerra", explicou o presidente. "Vamos nos esforçar para acabar com isso, e quanto mais cedo melhor, é claro."

A fala veio um dia depois que o presidente dos Estados Unidos, Biden, recebeu o presidente ucraniano, Zelenskiy, na Casa Branca e prometeu apoio contínuo e “inabalável” dos EUA. Biden anunciou um novo pacote de ajuda militar de US$ 1,85 bilhão, incluindo um sistema de defesa antimísseis Patriot. 

LEIA TAMBÉM: 

Acompanhe tudo sobre:GuerrasPetróleoRússiaSustentabilidadeUcrânia

Mais de ESG

"O melhor legado que podemos deixar para as próximas gerações é uma governança efetiva", diz Lula

ONU aprova pacto para fortalecer o multilateralismo e combater ameaças online à democracia

Mega-sena não tem ganhadores e prêmio vai para R$ 10 milhões