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Reservas Votorantim e CNPEM estudam uso de fungos e microrganismos na produção de biocombustíveis

Parceria entre Centro de Pesquisas em Energia e empresa de gestão de biomas avalia como a biodiversidade da Mata Atlântica pode auxiliar na transição por energias, combustíveis e insumos limpos

Companhia estuda fungos e microrganismos para produzir fontes de energia limpa (Votorantim/Divulgação)

Companhia estuda fungos e microrganismos para produzir fontes de energia limpa (Votorantim/Divulgação)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 4 de novembro de 2024 às 08h00.

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De Cali, Colômbia*

O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e a Reservas Votorantim, empresa de gestão de biomas e projetos da economia verde da Votorantim, acabam de assinar um acordo pelo estudo de herbívoros e microrganismos da Mata Atlântica.

O objetivo é encontrar oportunidades econômicas ainda não descobertas na biodiversidade brasileira – sem acarretar a destruição da floresta. A divulgação foi feita durante a COP16, a Conferência da ONU pela proteção dos ecossistemas.

Chamado de bioprospecção, o estudo genético sobre as bactérias, leveduras e fungos contribui para a conservação das espécies de microfauna. O próprio Marco Global da Biodiversidade determina que todas as espécies devem ser mapeadas geneticamente até 2030, evitando sua extinção.

Além disso, o potencial biotecnológico da parceria ainda analisa se as espécies podem ter um uso na produção de insumos da economia verde, como biocombustíveis e bioquímicos, além de medicamentos e benefícios naturais para a saúde e meio ambiente.

Em entrevista exclusiva à EXAME, o CEO da Reservas Votorantim, David Canassa, contou que a parceria se conecta com a estratégia de inovação e desenvolvimento de produtos da companhia. “O trabalho da bioprospecção se baseia muito em descobrir as possibilidades de mercado a partir da biodiversidade. Como vamos identificar as oportunidades de negócios se nem soubermos se elas existem?”, disse.

Canassa explica que a linha de pesquisa utilizada trata da geração de energia a partir da decomposição da celulose, por isso, os herbívoros e os fungos – que fazem essa digestão e são tão pouco conhecidos – são objeto de estudo.

Biodiversidade desconhecida

O desconhecimento sobre o potencial dos ecossistemas brasileiros é um dos fatores que justificam o interesse e o investimento na pesquisa. “Se quase 80% da biodiversidade global é desconhecida, estamos falando também dos microrganismos, dos herbívoros e dos fungos”, explica Canassa.

Entre a vida microbiana, a falta de conhecimento é ainda maior. De acordo com Mário Murakami, pesquisador do Laboratório Nacional de Biorrenováveis do CNPEM, 99% da biodiversidade dos microrganismos é desconhecida. “Se 1% da vida microbiana que conhecemos hoje for cultivada em laboratório, já nos fornece um leque enorme de opções para biotecnologia”, explica.

Segundo Murakami, a busca por fontes da bioeconomia é uma solução sustentável para quase todos os setores que ainda são muito dependentes de combustíveis fósseis.

A iniciativa, que já contou com a primeira coleta, é realizada no território das Reservas Votorantim no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. Chamada Legado das Águas, a área tem 31 mil hectares preservados da Mata Atlântica, sendo a maior reserva privada deste bioma no país.

Canassa conta que o objetivo inicialmente era coletar ao longo de uma trilha de três quilômetros a maior quantidade possível de espécies de fungos e herbívoros. A equipe de pesquisadores não precisou andar muito: foi preciso caminhar apenas 50 metros para encontrar o número máximo de espécies da primeira fase do estudo.

Desde 2008, a Votorantim trata da conservação das áreas que possui, buscando o potencial econômico. “Olhamos para o território pensando nos múltiplos usos que essa floresta, preservada, pode gerar receita”, explica Canassa. O projeto foi apresentado aos acionistas e aprovado em 2015, fundando a Reservas Votorantim. Iniciativas de bioprospecção em parceria com centros de estudos e laboratórios são realizados desde 2019.

Além da primeira coleta de material, realizada em julho, a iniciativa prevê a segunda ainda em novembro.

Legado das Águas, reserva natural mantida e protegida pela Votorantim

COP16: paz com a natureza

Canassa explica que o lançamento foi realizado na COP16 para exemplificar como instituições privadas e centros de estudos podem se unir para o melhor atingimento das metas do acordo de Kunming-Montreal.

“Aqui precisamos dar o exemplo de que é possível. Lá fora já temos muitos dos exemplos do que está destruindo a biodiversidade e o clima”, explica. Ao longo da Conferência, o representante da Reservas Votorantim palestrou sobre os mecanismos para a interconexão entre clima e natureza na manutenção dos recursos da biodiversidade.

Murakami ainda complementa que estudar o meio ambiente fornece dados poderosos sobre a preservação e a recuperação das áreas degradadas pela força do homem.

*A jornalista viajou a convite.

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