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Relatório do IPCC: como interpretar os dados climáticos do fim do mundo

O cenário é de emergência climática, mas há tempo para virar o jogo. O desafio é pagar uma conta de trilhões de dólares

Wave breaking over the jetty at Newhaven during a storm (Steve Stringer Photography/Getty Images)

Wave breaking over the jetty at Newhaven during a storm (Steve Stringer Photography/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 6 de abril de 2022 às 11h37.

As fortes palavras usadas pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para descrever o novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) dão o tom do seu conteúdo. “O júri chegou a um veredito: culpado”, afirmou Guterres, na segunda-feira, 3, quando foi divulgado o terceiro e último tomo do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC. “Esse relatório mostra uma ladainha de promessas climáticas quebradas. É um documento vexatório, catalogando os compromissos vazios que nos coloca firmemente na direção de um mundo inviável. Estamos caminhando rapidamente para um desastre climático.”

Não é novidade que o mundo está atrasado no combate às mudanças climáticas. A última década teve o maior crescimento de emissões da história. Desde a era pré-industrial, a humanidade emitiu 2,4 trilhões de toneladas de CO2. Desse total, 1,4 trilhão de toneladas foram emitidas nos 139 anos entre 1850 e 1989. Nos 29 anos entre 1990 e 2019, as emissões somaram 1 trilhão de toneladas, um ritmo bem mais acelerado.

“Algumas pessoas alegam que mudanças como essa no clima já aconteceram no passado. Mas levaram milhares de anos. Nunca houve um volume tão grande de emissões como agora”, afirma Thelma Krug, vice-presidente do IPCC e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “O relatório do IPCC é claro ao apontar a ação humana como a causa dessa emergência climática.”

O que é o IPCC

Uma coisa é certa sobre o relatório: ele é conclusivo. Para entender o motivo, é preciso compreender o que é o IPCC.

Em 1988, no âmbito da ONU, 195 governos chegaram à conclusão que precisavam de uma fonte confiável de informações sobre as mudanças climáticas. Sua primeira tarefa foi preparar um relatório abrangente sobre o que se sabia, até então, a respeito do assunto, e recomendar algumas ações.

Desde então, o IPCC reúne, a cada seis anos, absolutamente toda a literatura científica existente no campo do clima e publica um documento que apresenta o consenso global a respeito dos efeitos da ação humana no aquecimento global.

Como evitar um desastre climático

Se a humanidade continuar a emitir gases de efeito estufa como agora, o planeta irá aquecer 3,2°C até 2050, mais do que o dobro do recomendado no Acordo de Paris, que estabeleceu o limite seguro de 1,5°C. Para ter 50% de chances de atingir esse número, será preciso reduzir as emissões em 43% até o final da década, ou seja, em oito anos. Atualmente, no entanto, elas estão crescendo.

Há condições de cortar pela metade as emissões, até 2030. Para isso, é preciso adotar estratégias e tecnologias de mitigação, que já existem. O problema é que isso custaria até 100 dólares por tonelada evitada, uma conta que ultrapassa os trilhões de dólares por ano. “O mercado financeiro precisa entrar nessa agenda fortemente”, afirma Ian Thompson, diretor executivo da The Nature Conservancy (TNC), maior ONG de conservação ambiental do mundo.

Ian Thompson e Thelma Krug participam do SuperAgro 2022, um evento EXAME que discute o futuro do agronegócio. Participe!

Em teoria, e apesar do alarmismo do secretário-geral da ONU, há tempo e as soluções estão postas. Na prática, há a política.

“O relatório de mitigação do IPCC mostra que já temos os caminhos para o combate à crise climática e que eles passam, para além de soluções tecnológicas, por soluções políticas”, afirma Marcelo Laterman, porta-voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil. “Ainda, aponta que a descarbonização do sistema de produção e consumo global depende de um conceito fundamental: Justiça Climática. Sem o enfrentamento e correção das desigualdades históricas, tanto entre países quanto entre povos, classes, raças, gêneros, territórios, entre outras, não haverá saída efetiva para essa crise.”

Confira também o novo relatório IPCC que foca em tecnologias para mitigar as mudanças do clima

O que diz o relatório do IPCC

  • Os cientistas estão certos de que há uma breve e rápida janela de oportunidade para limitar o aquecimento a 1,5°C até 2100 (com pouca ou nenhuma ultrapassagem).
  • A infraestrutura de combustível fóssil existente poderia, por si só, esgotar o orçamento de carbono restante, (emitindo 660GtCO2 em comparação com o orçamento de 510GtCO2 restante para limitar o aquecimento a 1,5°C, sem ou com pouco ou nenhum excesso).
  • Para atingir 1,5°C, o mundo deve reduzir as emissões anuais de CO2 em 48% até 2030, e atingir o zero líquido até 2050, enquanto reduz as emissões de metano em um terço até 2030 e quase pela metade até 2050.
  • Isto exige uma mudança transformadora e sustentada em todo o sistema energético, com reduções profundas no uso de combustíveis fósseis, deixando um sistema elétrico alimentado principalmente por energias renováveis, e uma eletrificação generalizada.
  • O uso de carvão, petróleo e gás (sem CAC) é reduzido em 100%, 60% e 70% respectivamente até 2050 em caminhos que limitam com sucesso o aquecimento a 1,5°C, sem ou com excesso limitado.
  • As Contribuições Nacionais Determinadas (NDCs) atuais provavelmente ultrapassarão 1,5°C, colocando-nos em um caminho que nos levará a 2,8°C de aquecimento até 2100.

Fonte: Climainfo

Acompanhe tudo sobre:IPCCMudanças climáticas

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