Apoio:
Parceiro institucional:
Instituições globais alertam contra uma recuperação econômica movida a combustível fóssil (Alexandros Maragos/Getty Images)
AFP
Publicado em 10 de março de 2021 às 12h25.
Última atualização em 10 de março de 2021 às 12h54.
A recuperação econômica pós-covid não é verde. Menos de 20% dos recursos aprovados em 2020 para a recuperação favorecem o meio ambiente e o combate às mudanças climáticas, segundo a ONU, que destacou, porém, a ação de alguns países.
"Neste momento, os gastos verdes globais estão aquém da gravidade das três crises planetárias que são as mudanças climáticas, o desaparecimento da natureza e a poluição", disse Inger Andersen, diretora executiva do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma), no preâmbulo do relatório publicado nesta quarta-feira, 10, em colaboração com a Universidade de Oxford.
De acordo com o novo Observatório Global de Reativação, também apoiado pelo FMI, em 2020 apenas 18% dos montantes dos planos de relançamento pós-covid foram "verdes", ou seja, com ações contempladas capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, limitar a poluição e/ou melhorar o capital natural.
Este valor pode estar subestimado, no entanto, uma vez que os investigadores excluíram os fundos da Comissão Europeia para evitar a contabilização também a nível nacional. Se esses valores forem adicionados, o total representaria 23,4%.
Os números compilados por especialistas da Universidade de Oxford levam em consideração os programas das 50 maiores economias do planeta.
De acordo com sua análise, os 341 bilhões de dólares destinados a uma reativação verde (18% dos 1,9 trilhão de dólares aprovados, o que exclui as medidas de resgate avaliadas em 11,1 trilhões) se concentraram em um punhado de países desenvolvidos.
São principalmente Coreia do Sul, Espanha e Alemanha, de acordo com o relatório, que também cita Dinamarca, Finlândia, França, Noruega e Polônia, entre outros países.
"Claramente, há países que levam a reativação verde a sério. Esse não é o caso da maioria, infelizmente", disse à AFP Brian O'Callaghan, pesquisador da Universidade de Oxford e principal autor do relatório. Mas "há esperança".
Enquanto a economia mundial registrou uma contração histórica em 2020 (-3,5%), a maioria dos governos até agora se concentrou em medidas de resgate para "manter as empresas e as pessoas vivas", segundo o economista.
É o caso dos Estados Unidos, cujas medidas de reativação foram estimadas em apenas 0,2% do PIB (40 bilhões de dólares ante 3,4 trilhões em medidas emergenciais). Mas o novo presidente Joe Biden "abre caminho para uma aceleração significativa dos gastos verdes em 2021", segundo o texto.
"Agora que as economias se reativam e a vacinação está começando a fazer efeito, os governos podem pensar seriamente em como fortalecer sua economia. É uma grande oportunidade", segundo O'Callaghan.
O relatório analisa vários setores-chave. Por exemplo, destaca os investimentos maciços em energias renováveis na Espanha e o plano de hidrogênio na Alemanha.
Para os transportes, a Polônia destaca-se pela sua política de carros elétricos e a França saúda a renovação de edifícios para evitar o desperdício de energia.
Esses dados mostram a diferença entre o Norte e o Sul. "Estamos preocupados que essa divergência aumente ainda mais a lacuna entre os países ricos e pobres", explicou O'Callaghan, pedindo aos países desenvolvidos que mostrem solidariedade.
"Sem um esforço concentrado para relançar as economias" dos países menos ricos, "os especialistas preveem que podem retroceder dez anos em termos de desenvolvimento", alertou.