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Ana Toni, CEO da COP30, e André Corrêa do Lago, presidente da Conferência: Organização enfrenta crise sobre hospedagem em Belém, enquanto tenta avança na estruturação do "mutirão global" para ação climática. (Isabela Castilho/ COP30 Amazônia/Flickr)
Editora ESG
Publicado em 12 de agosto de 2025 às 10h20.
Última atualização em 12 de agosto de 2025 às 10h27.
Na manhã desta terça-feira, 12 de agosto, o embaixador André Corrêa do Lago divulgou a quinta comunicação oficial da presidência da COP30, direcionando o foco das discussões climáticas diretamente para as pessoas como protagonistas centrais da resposta global às mudanças do clima.
A nova carta marca uma mudança significativa na narrativa da conferência, posicionando as populações como agentes fundamentais da transformação necessária.
Conforme comunicado oficial da COP30, o documento estabelece uma visão abrangente para a conferência que acontecerá em Belém em novembro, estimulando que a COP30 seja compreendida como um momento de transição histórica.
"A Presidência da COP30 convida a comunidade internacional a fazer de Belém um ritual de passagem para marcar e celebrar com sobriedade a nossa transição para um futuro mais promissor e próspero", afirma Corrêa do Lago na carta.
A comunicação apresenta uma perspectiva transformadora sobre o papel das comunidades na resposta climática, reconhecendo especialmente populações historicamente marginalizadas.
O documento defende ainda que a conferência represente uma mudança de paradigma, onde "pessoas historicamente marginalizadas, deslocadas ou silenciadas sejam reconhecidas tanto como atores essenciais quanto como detentoras de direitos na resposta à crise do clima".
O texto detalha como a presidência brasileira estruturará a participação popular através de seus quatro pilares fundamentais.
Destaca também a criação de um modelo de governança compartilhada que reforça a conexão com as realidades cotidianas através dos Enviados Especiais, da Campeã da Juventude e do Círculo dos Povos.
Na dimensão das negociações formais, a carta posiciona as populações como elementos centrais em debates sobre a Meta Global de Adaptação, o Diálogo sobre Implementação dos Resultados do Balanço Global e o Programa de Transição Justa.
O texto também menciona outros tópicos fundamentais, incluindo o novo Plano de Ação de Gênero, a Plataforma das Comunidades Locais e dos Povos Indígenas, além de questões relacionadas a perdas e danos.
"Podemos usar a COP30 para processar coletivamente o luto por um modelo de desenvolvimento que prometeu prosperidade no passado, mas que já não oferece esperança para o futuro", declarou o embaixador, sinalizando a necessidade de uma ruptura com paradigmas econômicos insustentáveis.
Um dos aspectos mais novos da quinta carta é o reconhecimento explícito de que a ação climática deve abordar questões sociais profundas.
Corrêa do Lago argumenta que as respostas às mudanças climáticas devem estar intrinsecamente conectadas ao combate às desigualdades.
"Mitigação, adaptação, financiamento, tecnologia e capacitação implicam, antes de tudo, enfrentar desigualdades estruturais, acabar com a fome e combater a pobreza, promovendo o desenvolvimento sustentável, os direitos humanos e a igualdade, inclusive racial e de gênero", afirma o presidente designado da COP30.
Esta abordagem representa uma expansão significativa do escopo tradicional das negociações climáticas, integrando justiça social e ambiental de forma mais direta do que em conferências anteriores.
Segundo o documento, as populações devem influenciar diretamente as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e os Relatórios de Transparência Bienal (BTRs).
O embaixador também destaca que as comunidades devem ter voz ativa em decisões relacionadas ao financiamento climático, comércio e transição energética, entre outras áreas consideradas vitais para a resposta global às mudanças do clima.
A carta encerra com uma visão prospectiva que conecta ação climática com dignidade humana: "A ação climática deve ser reivindicada como um ato humano, dada nossa responsabilidade comum no combate à mudança do clima", conclui Corrêa do Lago.
As cinco cartas da presidência da COP30 revelam uma estratégia de comunicação progressiva que foi se desenvolvendo ao longo dos meses.
A primeira carta, divulgada em março, introduziu o conceito do "mutirão global" como forma de mobilização ampla para a ação climática, estabelecendo as bases para uma abordagem participativa da conferência.
A segunda comunicação, publicada em maio, avançou na estruturação da governança climática global proposta pelo Brasil, detalhando o formato operacional do mutirão e apresentando os quatro pilares fundamentais da conferência.
Este documento também introduziu a proposta de criação de contribuições autodeterminadas para entidades não-estatais, expandindo o modelo das NDCs para além dos governos nacionais.
As cartas intermediárias foram consolidando os mecanismos de participação e definindo estruturas como os Círculos de Liderança e a arquitetura operacional da conferência.
Um ponto de atenção identificado por analistas foi a abordagem moderada em relação à transição energética, com referências discretas aos combustíveis fósseis em comparação com outras prioridades.
O conjunto das comunicações mostra como a organização brasileira da COP30 busca ampliar significativamente o escopo de participação nas discussões climáticas, indo além das negociações tradicionais entre governos para incluir uma mobilização social mais ampla e diversificada.
Contudo, a ambição transformadora tem esbarrado em questões que deveriam ser periféricas, como a crise desencadeada pela especulação hoteleira na capital paraense.
No próximo dia 14, deve acontecer a reunião entre o Secretariado da ONU e o governo brasileiro, solicitada pela ONU, a partir da demanda de negociadores das nações africanas e o manifesto de 25 países pela mudança de sede da conferência em função dos altos custos para hospedagem.