ESG

Quer investir em ESG? Olhe para os setores de alta emissão, diz BlackRock

Para a maior gestora do mundo, há oportunidades subestimadas em empresas intensivas em carbono que estão em processo de transformação

 (Feifei Cui-Paoluzzo/Getty Images)

(Feifei Cui-Paoluzzo/Getty Images)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 3 de fevereiro de 2022 às 02h00.

A tradicional carta anual de Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora do mundo com 10 trilhões de dólares em ativos, trouxe, este ano, um dos aspectos mais polêmicos do ESG: o desinvestimento em setores de carbono intensivo. Fink é contra. “Desinvestimento de setores inteiros – ou simplesmente a passagem de ativos com uso intenso de carbono de mercados públicos para mercados privados – não fará com que o mundo tenha uma emissão zero”, escreveu Fink.

Nesta quinta-feira, 2, a BlackRock jogou mais lenha nessa fogueira. Em carta assinada por Philipp Hildebrand, vice-presidente do conselho, e mais cinco diretores, a gestora apresentou detalhes de sua estratégia de transição para a economia de emissão zero. “Hoje existe um grau significativo de incerteza sobre a transição. A questão, entretanto, não é mais se a transição para emissão zero vai acontecer, mas como - e o que isso significa para sua carteira”, justificou a BlackRock.

A gestora segue com uma recomendação: há uma oportunidade subestimada para os investidores, que está, justamente, nos setores de alta emissão -- sim, a BlackRock está falando de empresas de petróleo, cimento, aço e outros segmentos da economia baseados na extração de recursos naturais. Mas, não é qualquer empresa. A oportunidade está naquelas posicionadas para conduzir a descarbonização em seus setores.

Como se daria essa descarbonização? “Para uma empresa de serviços públicos, isso pode significar a negociação do fechamento antecipado de uma usina de energia alimentada por carvão”, diz a gestora. “Para um produtor de aço, isso pode significar a substituição de altos-fornos tradicionais por fornos elétricos a arco. Para um fabricante de automóveis, ele pode estar se comprometendo com designs de veículos totalmente elétricos mais rapidamente do que seus concorrentes.”

Em sua carta, Fink questiona se as empresas conduzirão ou serão conduzidas nessa transição. “Acreditamos que essa transição de energia global criará oportunidades extraordinárias de investimento nos próximos anos”, afirma Karina Saade, head da BlackRock no Brasil. “Estamos trabalhando com nossos clientes para ajudá-los a entender, navegar e conduzir, se assim desejarem, essa transição.”

A ajuda vem em forma de uma estrutura de análise e informações sobre como investir na transição, e como incorporar seus riscos e oportunidades nas metas de investimento. “A transição é um processo que se desenrolará ao longo de muitos anos. Ela exigirá um planejamento cuidadoso e uma ação coordenada entre o governo, as empresas e os investidores”, aponta a gestora.

Bancos contra o desinvestimento

A BlackRock não está sozinha nessa luta contra o desinvestimento. Jane Fraser, CEO do Citi, divulgou, recentemente, seus planos para chegar à neutralidade em carbono. Os combustíveis fósseis estão contemplados. “Chegar ao net-zero significa que precisamos dar suporte aos nossos clientes em suas próprias transições para a economia de baixo carbono”, afirmou a CEO. “Nossa intenção é trabalhar com todos, inclusive os clientes do setor de petróleo.”

Os maiores bancos brasileiros têm uma posição similar. Bradesco e Itaú, que entraram para a Net-Zero Banking Alliance e se comprometeram a descarbonizar suas carteiras, afirmam que a única forma de atingir o objetivo é engajando seus clientes. “Só seremos carbono zero se os nossos clientes também forem”, afirma Luciana Nicola, diretora de relações institucionais e sustentabilidade do banco. “Precisamos ser propositivos.”

Para o Bradesco, que foi o primeiro a aderir à Net-Zero Banking Alliance, o intuito por trás da iniciativa é auxiliar os clientes a fazer a transição. “Não vamos atingir o objetivo, que é comum a todos, excluindo empresas”, diz Pasquini.

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