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Queimadas: alta de 54% antecipa período crítico, alerta pesquisa

Estudo da consultoria Nottus, divulgado com exclusividade à EXAME, mostra que 39% do que foi constatado (cerca de 17 mil focos) são do Cerrado; 37%, da Amazônia, e 9% do Pantanal, com 4 mil focos desde o começo do ano

Até 17 de julho, o Brasil atingiu 43.100 focos de incêndio, contra 28.500 no mesmo período de 2023 (Joédson Alves/Agência Brasil)

Até 17 de julho, o Brasil atingiu 43.100 focos de incêndio, contra 28.500 no mesmo período de 2023 (Joédson Alves/Agência Brasil)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 19 de julho de 2024 às 15h12.

Última atualização em 24 de julho de 2024 às 14h09.

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Entre janeiro e junho de 2024, o Brasil registrou 35.938 focos de incêndio – alta de 54% na comparação com o mesmo período de 2023. Só em junho foram 12.432 queimadas registradas, número que supera a média histórica para o mês desde 2003. Os dados são da consultoria Nottus, especializada em meteorologia para negócios.

Os números, por si sós assustadores, trazem ainda outra preocupação: a temporada com maior incidência de queimadas, de agosto a outubro, ainda não começou. Considerando até 17 de julho, o Brasil atingiu 43,1 mil focos de incêndio, ante 28,5 mil no mesmo período de 2023

Dados divulgados com exclusividade à EXAME contam que 39% do que foi constatado (cerca de 17 mil focos) são do Cerrado; 37%, da Amazônia, e 9% do Pantanal, com 4 mil focos desde o começo do ano. 

De acordo com Guilherme Martins, meteorologista responsável pela pesquisa da Nottus, o aumento das queimadas mesmo antes da época prevista é causada por fatores como a falta de chuvas e a elevação das temperaturas. “A situação hídrica do Brasil está sensível há um ano e meio, com taxas abaixo da média mesmo durante as estações chuvosas. No período seco, com o aumento das temperaturas, árvores e folhas se tornam materiais combustíveis”, explica.

Impacto na economia

Os efeitos dessa alta de queimadas atingem diversas áreas da economia, como a energiaagronegócio, saúde e infraestrutura. Segundo o sócio-diretor da Nottus, Alexandre Nascimento, os incêndios nos biomas afetam a quantidade de energia distribuída, problema agravado em épocas de alta demanda. “A segunda maior causa de desligamentos de energia são as queimadas, responsáveis por 12% dos casos. O prejuízo material na energia não é direto, mas se há a interrupção na linha de transmissão, vai gerar um prejuízo grande a longo prazo”, explica.

Além de dificultar o uso de energia elétrica, a questão também prejudica a captação de energia solar, uma vez que as placas solares enfrentam desafios para absorver os raios do sol. 

Na agricultura, os especialistas explicam que o mito de que queimar o solo ajudaria a adubar o próximo plantio ainda é feito em fazendas de muitas regiões, o que pode alastrar o fogo e aumentar o prejuízo. “Ao longo prazo, a qualidade dos plantios piora, porque a queima empobrece os nutrientes daquela terra. Quem coloca fogo na mata enfrenta dois desafios: além de perder a safra ou ter prejuízo nela, tem o empobrecimento do solo e prejuízo nas safras seguintes”, explica Nascimento.

Na área de saúde, o principal impacto é a pressão em cima do Sistema Único de Saúde (SUS) nas épocas com maior concentração de queimadas. “As fuligens da Amazônia são transportadas até o outro lado do país, no Sudeste. Problemas respiratórios, principalmente entre crianças e idosos, são agravados pela fuligem das queimadas, e o aumento dos casos pressiona os serviços de saúde pública”, conta Martins.

O efeito também é visto na infraestrutura, explica o meteorologista. “Os focos de incêndio causam o fechamento de aeroportos e a interrupção ou atraso de voos. O fogo não respeita barreiras: acerta galpões, linhas de transmissão e até mesmo mata animais”, conta.

Segundo a pesquisa, a ação humana também tem um papel importante nas queimadas. Considerando que as mudanças climáticas vão ser cada vez mais comuns, o papel de conscientização e aprendizado é essencial para evitar a alta desenfreada dos focos de incêndio. 

“Temos de antecipar a possibilidade do problema, ter resiliência e reaprender a viver em harmonia com a natureza. Faltam operações para impedir ações criminosas, que são uma questão de consciência ambiental”, afirma Nascimento.

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