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O objetivo é desenvolver uma cadeia de suprimentos mais sustentável, permitindo que a demanda energética por fontes limpas seja atendida (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 14 de novembro de 2025 às 17h58.
Belém - A COP30 chegou ao quinto dia com a pressão característica do fim da etapa técnica e tensão adicional em função de uma manifestação pacífica do grupo indígena Munduruku que impediu temporariamente o acesso à área oficial de negociações nesta manhã.
Idealmente, até sábado à noite os grupos de negociação precisariam fechar os textos que seriam encaminhados aos ministros na próxima semana.
O avanço, contudo, esbarra em impasses políticos - especialmente no Objetivo Global de Adaptação - e em tensões que extrapolam as salas refrigeradas da Blue Zone.
O protesto Munduruku monopolizou a agenda da coletiva de imprensa que representantes da equipe de negociadores brasileiros concedem diariamente para atualizações - e cujo tema nesta tarde seria transição energética.
Ana Toni, CEO da COP30, e Bruna Cerqueira, diretora da Agenda de Ação, passaram boa parte do encontro respondendo questões sobre segurança, protocolos e o direito de manifestação.
Toni defendeu a presença indígena como motivação central para sediar a conferência na Amazônia. "O Brasil e o presidente Lula poderiam ter escolhido realizar a COP em São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília. Mas, nesses lugares, não veríamos os povos indígenas", afirmou.
Esta é a conferência do clima com maior presença indígena da história: 900 grupos, contra o recorde anterior de 300.
A CEO ressaltou que protocolos internacionais precisam ser respeitados. Mas minimizou os impactos da carta enviada pela ONU ao presidente Lula na quarta-feira, 12, cobrando reforço na segurança após protestos de terça-feira, 11.
"Estamos discutindo com a ONU durante toda a COP. Há uma comunicação bastante fluida, com cartas indo e voltando sobre os desafios."
O protesto desta sexta-feira tinha uma pauta específica: projetos de infraestrutura como a ferrovia Ferrogrão, que ligaria Mato Grosso ao Pará para escoamento de grãos, com potenciais impactos sobre territórios tradicionais.
Como parte da solução para administrar os ânimos, grupos de escuta têm sido conduzidos pela ministra Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, que segue dialogando diretamente com as comunidades tradicionais no acolhimento das suas demandas.
Presidente da COP30, André Corrêa do Lago chega ao Parque da Cidade ao lado de Ana Toni, CEO da COP30, e caminha entre os manifestantes indígenas, entrando pela portaria principal de acesso à Blue Zone. (Ediago Quincó/Exame)
Nos bastidores das salas de negociação, os relatos são de que a intensidade só aumenta. Na noite desta quinta-feira, a presidência da COP declarou que alguns grupos demandaram que o horário permitido para salas de reuniões avançasse de 18h para as 21h.
O entrave segue concentrado sobretudo nas demandas do grupo africano, que insiste na proposta de criar um programa de trabalho de dois anos, bloqueando as discussões sobre indicadores que mediriam o progresso dos países em tornar populações, infraestrutura e economias mais resilientes a eventos climáticos extremos.
De acordo com Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, a negociação sobre adaptação "segue muito difícil". A especialista manifestou esperança de que outros grupos consigam destravar o impasse ainda nesta sexta-feira, 14.
A fase técnica se encerra oficialmente no sábado, quando uma plenária de balanço revelará quais temas avançam para os ministros. Os pares ministeriais que conduzirão negociações sobre adaptação, mitigação, transição justa e financiamento já estão definidos e começaram trabalhos informais.
O tema que deveria protagonizar a coletiva de imprensa ficou em segundo plano, mas ganhou algum destaque paralelo. Segundo Ana Toni, uma agenda ainda nesta sexta deve tratar dos combustíveis marítimos sustentáveis.
O Plano Belém para Combustíveis Sustentáveis, anunciado na pré-COP30, compromete 23 países a quadruplicar a produção e uso dessas fontes até 2035 - número que chega a 30 somando organizações e empresas parceiras.
Por meio da Aliança para Net-Zero em Utilities (UNEZA), o investimento anual acordado chega a US$ 148 bilhões. O montante será destinado na transferência de tecnologias, no apoio às cadeias de suprimentos sustentáveis e na colaboração entre países Sul Global com foco na descarbonização, especialmente para nações em desenvolvimento.
Alistair Phillips-Davies, presidente da UNEZA, afirmou que só em 2024, as organizações que integram a aliança conseguiram aumentar a capacidade de energia renovável em torno de 130 GW, gerando 14 mil quilômetros de novas redes de energia, o suficiente para conectar cabos de Belém até a Nova Zelândia.
“O investimento de US$ 148 bilhões é um dos maiores investimentos já realizados dentro dessa criação, que já supera US$ 1 trilhão. Isso significa transformar política em progresso”, explica.
Bruna Cerqueira, diretora da Agenda de Ação da COP30, indicou que mais iniciativas serão anunciadas na segunda semana.
"No distanciamento dos combustíveis fósseis, muitas iniciativas já foram anunciadas, e outras ainda serão na próxima semana. Queremos incentivar mais ações para acelerar a transformação."
Entre os signatários estão Alemanha, Brasil, Canadá, Chile, Índia, Itália, Japão, México, Países Baixos, Coreia do Sul e Emirados Árabes Unidos.
A próxima semana dirá se a energia política dos ministros conseguirá desatar os nós que a tecnocracia não resolveu.