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Thayná Leite: "Respeitar os direitos humanos deveria ser uma vantagem competitiva" (Flávio Ferreira/99jobs)
Repórter Exame IN
Publicado em 29 de novembro de 2023 às 18h24.
Última atualização em 29 de novembro de 2023 às 19h58.
A agenda de direitos humanos começa a ganhar robustez nos planos do setor privado, mas ainda faltam ações sistêmicas para tratar o tema, segundo a nova edição da "Trilha de Direitos Humanos 2023", pesquisa do Pacto Global das Nações Unidas no Brasil.
Os resultados de 2023 mostraram adesão maior das empresas. Na nova edição do estudo, com dados obtidos da ferramenta Termômetro de Direitos Humanos da Proactiva Results, uma consultoria especializada em ESG, sustentabilidade, finanças sustentáveis e direitos humanos, o número de empresas respondentes quase dobrou, indo de 107, em 2022, para 208 empresas em 2023.
De acordo com a head de direitos humanos do Pacto Global da ONU no Brasil, Thayná Leite, o avanço no número de respondentes mostra que o assunto começa a sensibilizar mais o setor privado. “Temos de ter um olhar de diálogo que possa mover os diferentes desafios e faça todo o possível para que não aconteçam os ‘social washings’. Respeitar os direitos humanos deveria ser uma vantagem competitiva”, argumenta.
“Empresas e direitos humanos são água e óleo? Começamos a misturar e ter algo positivo. Na liguagem corporativa nunca vai ter desempenho se não tiver uma linha de base, por isso criamos um termômetro, para trazer isso para a linguagem dos negócios”, diz Rafael Benke, da Proactiva Results.
Do total de 208 empresas respondentes em 2023, 11% afirmaram não possuir um compromisso público de respeitar os direitos humanos. Das 185 empresas que sinalizaram possuir compromisso público de respeitar os direitos humanos, apenas 26% expressam o compromisso em uma política específica sobre o tema.
Do total de empresas respondentes em 2023, 121 (58%) não possuem uma abordagem sistemática para identificar os fornecedores e as fornecedoras com maiores riscos, os quais devem ser priorizados para a implementação de medidas de prevenção e mitigação de riscos aos direitos humanos.
Um ano após parceria com o Pacto Global da ONU para ajudar fornecedores a monitorar temas de direitos humanos, a Petrobras já consegue informações de 135 fornecedores de porte médio. “Houve alguma dificuldade de mobilização por uma insegurança de ser mais uma cobrança, mas logo vai mudando para um processo de amadurecimento”, avalia José Maria Rangel, gerente executivo de responsabilidade social da petroleira.
A trilha é dividida em três eixos: gestão de direitos humanos nas operações próprias; gestão de direitos humanos na cadeia de suprimentos; e gestão de temas críticos de direitos humanos.
Foram avaliados os cinco temas críticos mais avançados na gestão de riscos e impactos das empresas: meio ambiente (92%), água (76%), saúde e segurança operacional (72%), trabalho forçado e análogo à escravidão (71%) e transparência e anticorrupção (59%).
Já medidas para promover a saúde mental de grupos vulneráveis receberam baixa adesão por parte das empresas (28%), mas registraram crescimento em relação ao ciclo de 2022 de 7%.
Por outro lado, campanhas e iniciativas para incentivar práticas culturais, esportivas, de nutrição, bem-estar, educação, entre outras, além de ações que aprimoram o equilíbrio trabalho-vida pessoal (como licença parental estendida, possibilidade de trabalho remoto, entre outras) apresentaram aderência de 75% por parte das empresas.
Dentre as medidas preventivas e mitigadoras de impactos ambientais, as que alcançaram maior média de aderência foram a gestão e redução de resíduos (95%) e a gestão do uso da água (90%). A medida menos adotada foi de avaliação e gestão de riscos relativos à poluição sonora e luminosa (79%).
O tema de impactos adversos a comunidades locais, povos indígenas e comunidades tradicionais registrou uma média de aderência de 38%, enquanto as medidas de redução do desmatamento legal receberam 87% de aderência por parte das empresas.