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Preconceito e falta de reconhecimento são os maiores desafios da neurodiversidade, diz pesquisa

Estudo apoiado pela Nestle mostra um cenário de falta de empatia e conhecimento sobre manifestações como autismo e TDAH

Lei definiu o girassol como símbolo de identificação das pessoas com deficiências ocultas  (Andreas Jones/Getty Images)

Lei definiu o girassol como símbolo de identificação das pessoas com deficiências ocultas (Andreas Jones/Getty Images)

Rodrigo Caetano
Rodrigo Caetano

Editor ESG

Publicado em 28 de julho de 2023 às 10h11.

Em julho, foi sancionada a Lei 14.624, que formaliza o uso da fita com desenho de girassóis como símbolo de identificação das pessoas com deficiências ocultas, que são categorizadas por não serem percebidas de imediato, como a surdez e as deficiências cognitivas, casos do autismo e do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). É uma medida simbólica, porém importante para quem precisa lidar com o preconceito e a falta de reconhecimento e informação.

Uma pesquisa realizada pela Play Pesquisa e Conhecimento, empresa de pesquisas, com apoio da suíça Nestle, mostra que essas são as maiores dificuldades enfrentadas por pais de crianças atípicas. O levantamento incluiu cerca de 1,4 mil crianças, e contou com o trabalho de 20 especialistas, entre professores, pediatras, psicólogos, entre outros. O estudo conclui que famílias neuroatípicas desejam um olhar empático da sociedade, que favoreça a inclusão.

Conhecendo as crianças atípicas

O conceito de neurodiversidade surgiu em 1998, a partir de uma tese defendida pela socióloga australiana Judy Singer, da Universidade de Sidney – Singer é portadora da Síndrome de Asperger. As manifestações mais conhecidas de neurodiversidade são o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Para a medicina, ambos são considerados transtornos de neurodesenvolvimento, condições que afetam o cérebro e trazem prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional.

Para a neurodiversidade, no entanto, ser neurodivergente não é considerado uma doença que precisa ser curada, mas uma manifestação da diferença humana. Pessoas atípicas pensam de maneira diferente dos neurotípicos, o que não é um problema em si. O movimento iniciado por Singer tem influenciado, inclusive, as políticas de contratação das empresas. Alguns setores, notadamente o de tecnologia, introduziram políticas de contratação de neurodivergentes por suas habilidades – o TEA e o TDAH, por exemplo, podem aumentar a capacidade de foco e a criatividade, habilidades valorizadas no ambiente corporativo.

O preconceito, no entanto, é o maior medo de pais de crianças atípicas, segundo o estudo da Play. Estereótipos e a falta de informação levam a sociedade a rotular os neurodivergentes, e suas condições se transformam em uma sentença.

O papel da sociedade

A pesquisa mostra que reconhecer as manifestações da neurodiversidade como uma deficiência é importante para 66% das famílias com crianças TDAH, 63% das famílias com crianças TEA e 74% das famílias com crianças com Transtorno Opositivo Desafiador, condição caracterizada por padrões de comportamento negativos ou hostis – o estudo abrange essas três manifestações.

Cerca de 60% das famílias participantes do estudo afirmam que a capacitação de funcionários em locais públicos pode ajudar na inclusão, e metade considera que as empresas devem oferecer ferramentas que eduquem sobre as diferenças e como lidar com elas.

A pesquisa também analisou o impacto da neurodiversidade no consumo das famílias. A estrutura física das lojas, por exemplo, é apontada como um desafio para a maioria das famílias. Ambientes com objetos soltos e mal encaixados, que podem ser derrubados pelas crianças, e desorganização podem gerar crises de ansiedade. E a falta de um local adequado para a autorregulação da criança pode inviabilizar a experiência de compra. Outra questão apontada é a poluição sonora. Música alta, ambientes sem tratamento acústico e barulhentos também são gatilhos para crises.

Na questão da alimentação, país de crianças atípicas enfrentam desafios, especialmente no caso do TEA. O estudo traz depoimento de uma mãe cujo filho não come nada que esteja cortado – o espaguete, por exemplo, precisa estar inteiro, e nenhum outro formato de macarrão é aceito pela criança. Para neurotípicos, pode parecer uma “frescura”, porém, neurodivergentes enxergam o mundo de maneira diferente, e certos comportamentos que podem não fazer sentido para a maioria, são inevitáveis.

A qualidade dos alimentos e a apresentação das informações nas embalagens são medidas que as empresas podem tomar e que ajudam as famílias. Crianças com TDAH, por exemplo, se beneficiam de uma dieta balanceada, já que a condição altera a produção de dopamina, neurotransmissor ligado às funções executivas do cérebro, como planejamento, gestão do tempo e tomada de decisões. Açúcar e cafeína, por exemplo, afetam diretamente a produção de dopamina.

De todas as medidas possíveis, no entanto, a que mais ajuda na inclusão dos neurodivergentes é, sem dúvida, a empatia. Reconhecer as diferenças e buscar a compreensão em vez do julgamento é algo que qualquer pessoa pode fazer para gerar impacto positivo. Essa não é, afinal, a base do ESG?

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