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Indígenas durante protesto contra exploração de petróleo na Margem Equatorial, no Rio de Janeiro, em junho (Antonio Lacerda/EFE)
Agência de Notícias
Publicado em 28 de agosto de 2025 às 11h51.
Com a proximidade da cúpula do clima da ONU que será realizada em Belém, a COP30, os povos indígenas da Amazônia exigem ser ouvidos nas negociações em um momento em que projetos legislativos no Brasil ameaçam seus territórios, já pressionados por invasões, mineração ilegal, madeireiros e narcotráfico.
"A floresta só existe graças aos povos indígenas", afirmou a líder do povo Desana, Janete Alves, de São Gabriel da Cachoeira (AM).
Em entrevista à Agência EFE, ela explicou que as comunidades amazônicas estão se organizando em nível regional, nacional e internacional para chegar com uma posição unificada à COP30, em novembro, na capital paraense.
Após enfrentar no ano passado a pior seca e temporada de incêndios desde 2010 e sentir uma crescente pressão sobre suas terras, relacionadas a interesses econômicos, os povos originários reiteram a importância de seu papel para manter as florestas em pé.
"Estamos nos articulando com outros povos do Brasil e da Amazônia, porque não vai ser fácil. Queremos mostrar que estamos sendo assediados e que defender a floresta é defender a vida", destacou Alves.
As organizações indígenas advertem que sua participação não pode ser meramente simbólica, e, embora não tenham direito a voto nas discussões, exigem que suas propostas sejam consideradas nas decisões globais sobre o clima.
Dados da plataforma MapBiomas indicam que, entre 1985 e 2023, apenas 1,2% da vegetação nativa em territórios indígenas foi destruída, contra 19,9% registrados em áreas privadas.
Apesar dos esforços, os povos originários enfrentam a ameaça constante de garimpeiros ilegais, madeireiros e narcotraficantes que avançam sobre seus territórios, muitas vezes sem que o Estado consiga contê-los. A isso se somam disputas por terras com grandes fazendeiros devido à falta de regularização de uma boa parte dos territórios indígenas.
Segundo dados oficiais, existem 632 territórios indígenas no Brasil, dos quais 464 estão homologados e regularizados, mas 158 encontram-se apenas em processo de estudo — uma etapa que pode se estender por até 40 anos, de acordo com o Instituto Socioambiental (ISA).
Em âmbito legislativo, a pressão aumenta com projetos de lei que buscam abrir as terras indígenas à mineração e à exploração de gás, além de permitir a realização de obras de infraestrutura "de interesse nacional", entre elas usinas hidrelétricas.
Alves lembrou que já existem exemplos devastadores, como o do povo yanomami, em cujo território o mercúrio da mineração ilegal envenenou rios e solos, disseminando doenças, fome e morte.
A líder reiterou que falta apoio do governo para a defesa de seus territórios, já que na região do Rio Negro só são recebidos recursos de ONGs internacionais, usados em projetos.
"Esta é uma região grande, que precisa de cuidado, de presença. Não tem sido fácil", advertiu.
O trabalho dos povos originários na conservação da Amazônia é reconhecido por organizações que atuam na proteção do bioma.
A diretora adjunta do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Patricia Machado, atribui esse resultado ao modo de vida tradicional dessas comunidades.
"Eles vêem a floresta como algo que deve estar ali para as próximas gerações", explicou à EFE.
No entanto, Machado ressaltou que falta um reconhecimento mais amplo dos serviços ambientais que os indígenas prestam na Amazônia, já que "seu trabalho impacta a todos" e não apenas quem vive na floresta.
Entre os programas coordenados pela ONG brasileira fundada há 30 anos está o Origens Brasil, uma rede que promove "relações comerciais éticas" entre empresas e comunidades indígenas na Amazônia, e que em 2024 mobilizou mais de R$ 8,6 milhões em transações de produtos como castanha-do-parál, borracha, cumaru e peças de artesanato.
Atualmente, há 4.800 produtores registrados na rede, que representam 88 organizações e se relacionam com 41 empresas.
A gestão sustentável das florestas e a cooperação com comunidades locais será um dos temas centrais do III Fórum Latino-Americano de Economia Verde, organizado pela Agência EFE em São Paulo no próximo dia 4 de setembro.
O encontro reunirá autoridades e especialistas para debater sobre a crise climática e conta com o patrocínio da ApexBrasil, Norte Energia e Lots Group, assim como o apoio do IBMEC, Observatório do Clima e Imaflora.