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<b>ESG: </b> mudanças climáticas e exigência de consumidores aumenta a procura por profissionais que saibam aliar lucro a desenvolvimento sustentável (Shutterstock/Divulgação)
Colunista
Publicado em 3 de novembro de 2023 às 08h23.
Ao longo da nossa história, transformações econômicas e sociais têm sido uma constante, moldando e redefinindo a maneira como nos organizamos em sociedade e nos negócios. A evolução é uma parte inevitável desse processo, e, em muitos casos, para que inovações emergentes floresçam, estruturas e práticas obsoletas precisam ser reformuladas ou até mesmo substituídas. É comum que diante do novo, emerja uma mobilização de resistência para que as velhas estruturas se mantenham.
Nesse cenário, observamos o surgimento e crescimento do movimento anti-ESG nos Estados Unidos. Convido você a refletir se o movimento anti-ESG representa um pensamento verdadeiramente inovador e disruptivo ou é apenas um reflexo desesperado de setores nocivos que estão perdendo sua relevância no mercado atual?
Muitos críticos argumentam que a agenda ESG (Environmental, Social and Governance) ameaça economias consolidadas, empregos e setores industriais tradicionais. No entanto, ao analisarmos com mais profundidade, fica claro que essa resistência ao ESG é, em grande parte, uma tentativa de manter vivos setores com uma pegada ambiental significativa e que são grandes contribuintes para as mudanças climáticas. Como bem pontuou Fabio Barbosa, CEO da Natura & Co., “seja por convicção, conveniência ou constrangimento, as empresas que não se ajustarem ao novo contexto de mundo se tornarão irrelevantes”.
Com base em minha trajetória tanto no mundo acadêmico quanto no executivo, posso assegurar que avaliações ESG rigorosas se destacam como um pilar fundamental para o crescimento sustentável e a valorização de uma empresa no mercado.
Para exemplificar, em um projeto que liderei junto à Humanizadas, ao avaliarmos mais de 270 empresas de 21 países diferentes, observamos que aquelas com práticas e cultura ESG robustas não apenas superam em rentabilidade, sendo 95% mais atrativas para os investidores, mas também têm uma volatilidade de ações 22% menor em relação ao mercado.
Estes dados apontam para uma menor exposição a riscos no médio e longo prazo e uma eficiência de retorno por volatilidade 150% mais elevada. Em resumo, uma empresa que prioriza a excelência em ESG está criando valor para diferentes stakeholders, enquanto aquelas com desempenho fraco em ESG estão destruindo ou reduzindo seu valor de mercado.
Em muitos casos, a resistência ao ESG parece ser uma posição ideológica ou uma reação defensiva de setores que percebem uma diminuição de sua relevância em uma economia global em constante transformação. Contudo, é imperativo compreender que o ESG não é uma mera "imposição de Wall Street" ou uma "ideologia progressista".
Trata-se, na verdade, de uma resposta pragmática e essencial aos desafios ambientais, sociais e de governança que enfrentamos globalmente. A resistência observada em estados como Flórida, Texas e Oklahoma, onde políticas foram estabelecidas para desestimular ou penalizar investimentos baseados em critérios ESG, é motivo de preocupação. Contudo, serve como um lembrete de que a transição para uma economia mais sustentável não é isenta de obstáculos.
Quando bem implementada, a agenda ESG vai além da simples proteção ao meio ambiente ou da defesa da justiça social. Ela se propõe a garantir que as empresas estejam alinhadas e preparadas para navegar e prosperar em um mundo globalizado e em constante transformação. Excelência em ESG se traduz em acesso a financiamentos sustentáveis, penetração em novos mercados, ampliação da participação de mercado, e maior engajamento de colaboradores e clientes. Assim, as empresas que adotam práticas ESG consistentes estão, na realidade, fortalecendo sua capacidade de adaptação e traçando um caminho para o sucesso duradouro.
Em vez de questionarmos se o ESG é benéfico ou não para os negócios, precisamos nos perguntar sobre qual é o papel de nossas empresas em um mundo tão dinâmico e complexo. Quem são os stakeholders que servimos e quais são suas reais demandas e necessidades? Como as necessidades desses stakeholders se alinham aos desafios e prioridades de nossa organização? Essas são as questões cruciais que guiarão meu próximo artigo. Na confluência das expectativas dos stakeholders e das prioridades do negócio, encontramos a verdadeira geração de valor para todos os envolvidos, evitando a destruição desse mesmo valor.
Quanto à resistência ao ESG, percebo o movimento anti-ESG como uma distração passageira, desprovida de embasamento técnico e científico, refletindo mais uma ideologia ou reação de certos grupos. Em vez de resistirmos à mudança, devemos acolher a oportunidade de moldar empresas e economias mais robustas, resilientes e, acima de tudo, sustentáveis. Esse é o verdadeiro espírito empreendedor: assumir a liderança e responsabilidade na geração de valor, ao invés de contribuir para sua destruição.