ESG

Por que investir em um fundo de crédito ESG, segundo a Plural Asset

Gestora afirma que os critérios têm espaço para crescer além do mercado de ações e prevê que, no futuro, todos os produtos da casa serão ESG

Gabriel Fidalgo (esquerda) e Rafael Zlot, da Plural Asset | Foto: Roman Synkevych/Divulgação (Plural Asset/Divulgação)

Gabriel Fidalgo (esquerda) e Rafael Zlot, da Plural Asset | Foto: Roman Synkevych/Divulgação (Plural Asset/Divulgação)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 1 de junho de 2021 às 06h00.

Mais comuns em fundos de ações, os critérios ESG podem ser bons aliados também para os produtos de crédito. É o que defende a Plural Asset, gestora especializada nesse tipo de fundo. A casa comemora nesta terça-feira, 1º de junho, seis meses do lançamento do seu primeiro produto de crédito que segue critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).  

Invista com o maior banco de investimentos da América Latina. Abra sua conta no BTG Pactual digital

Por enquanto, o Plural ESG Crédito Privado é o único veículo da asset a incorporar a sigla como ferramenta de análise. No futuro, no entanto, é possível que todos os produtos da gestora se tornem ESG, afirmou Rafael Zlot, sócio e CIO da Plural Asset, em entrevista à EXAME Invest.

“Esse fundo é o veículo certo para os investidores que, como nós, acreditam que essas práticas vão se mostrar mais rentáveis do que outras no futuro. Acreditamos, inclusive, que a diferença entre o que é ou não ESG vai acabar porque, no prazo de alguns anos, todas as empresas e produtos já terão incorporado esses conceitos”, defende.

O Plural ESG Crédito Privado conta hoje com 15 milhões de reais sob gestão e 859 cotistas – o aporte mínimo é de 10 reais. Assim como outros produtos de crédito da gestora, o fundo investe em títulos de crédito emitidos por empresas. A diferença é que existe uma seleção extra para identificar quais companhias podem ou não ter seus títulos selecionados. 

Entre os três critérios da sigla a serem analisados, o “G” é sem dúvidas o que está mais enraizado nas empresas. “Governança sempre foi um foco natural de análise porque estamos falando de tópicos como remuneração de acionistas e de como os conselhos se comportam. É algo que sempre esteve presente na análise de crédito”, afirma Gabriel Fidalgo, responsável pela análise ESG do fundo.

Na ponta oposta, o “E” e o “S” ainda estão caminhando para conquistar protagonismo dentro das organizações. Entre os dois, o aspecto social é o que traz mais desafios, por ser uma área ainda pouco acompanhada por investidores e analistas. 

A questão fica ainda mais complexa porque o critério social normalmente é tratado da porta para fora – no contato final com o cliente – sem que a empresa dê tanto cuidado para o trato com seus colaboradores. Pensando nisso, a Plural incluiu em seu fundo uma metodologia ainda pouco usada no mercado: um filtro que exclui automaticamente empresas que não conseguem manter os funcionários em seus quadros por ao menos de três anos. 

O mecanismo é visto pela gestora como um bom critério de “desempate” para grandes empresas que já estão buscando adotar os critérios ESG. “Isso porque a retenção de funcionários é algo que ainda foge do controle da companhia. Se ela consegue reter colaboradores, significa que está no caminho correto”, explica Fidalgo.

ESG na prática

Como ainda existem poucas emissões de dívida atreladas especificamente às metas ESG, o caminho adotado pela Plural foi classificar a atuação das empresas emissoras. Para isso, a asset desenvolveu uma metodologia proprietária em parceria com a Sitawi, consultoria referência para negócios de impacto no Brasil.

Para separar o joio do trigo, a metodologia envolve quatro fases. Primeiro, é feito um filtro negativo, que exclui companhias que adotam práticas consideradas incompatíveis com o bem da sociedade e do meio-ambiente. Como exemplos estão negócios que produzem e comercializam armas e munições, além de empresas que usam mais de 20% de energia de fontes termelétricas a carvão.

As informações são coletadas dos relatórios divulgados pelas empresas e servem de base para a construção de um ranking. “Os critérios ‘E’, ‘S’ e ‘G’ possuem pesos diferentes a depender da área de atuação da empresa. Uma companhia elétrica, por exemplo, tem um peso maior no setor ambiental que uma empresa financeira”, detalha Fidalgo.

Em seguida, o comitê de investimento discute os principais temas identificados na análise. Aqui a ideia é entender se a companhia está realmente colocando suas metas ESG em prática e também identificar possíveis controvérsias na sua atuação. 

“O mais importante é entender como a empresa respondeu a essas controvérsias. É um assunto ainda muito novo, que requer aprendizado”, defende. A partir de então, a função do fundo é acompanhar o desenvolvimento da agenda dentro dos negócios escolhidos.

A carteira é atualizada anualmente e conta hoje com 20 companhias. Aquelas com maior nota no ranking ESG são Natura (NTCO3), Copel (CPLE6) e AES Brasil (AESB3). Entre as empresas que compõem o portfólio, 45% são do setor elétrico. 

ESG versus rentabilidade

Rentabilidade segue sendo uma das maiores dúvidas dos investidores quanto a produtos com viés ESG. Zlot admite que a gama de opções para investir fica mais restrita com a adoção dos critérios, mas garante que isso não influencia a performance do fundo.

“O fundo fica mais restrito porque não são todas as empresas que têm capital para investir em ESG. Por outro lado, o veículo fica concentrado em companhias maiores, líderes dos seus setores. Com isso, é possível extrair valor correndo mais risco de mercado, trocando o indexador, comprando ativos com mais prêmio. Depende da criatividade do gestor”, afirma.

Ele reforça ainda que o ESG é uma etapa extra e que a análise de crédito mantém seu protagonismo. “Quem não se enquadra em ESG pode ser incluído em outros veículos da casa. Mas não existe nenhum ativo do fundo de ESG que não tenha um alto padrão de análise de crédito”, conclui. 

Vale lembrar que o Plural ESG Crédito Privado tem uma política de doação, mas nada disso sai do bolso do investidor. A gestora reverte 20% da taxa de administração – parte da remuneração da casa – para três iniciativas sociais: o Instituto Guga Kuerten e os projetos Amembras e Amazônia 4.0.

Esteja sempre informado sobre as notícias que movem o mercado. Assine a EXAME

Acompanhe tudo sobre:AESCopelCréditoEnergia elétricaFundos de investimentoNaturaSustentabilidade

Mais de ESG

"Apenas 1% do que é anunciado nas Cúpulas do Clima chega nos povos indígenas", diz Sonia Guajajara

Receita abre nesta sexta-feira consulta ao lote residual de restituição do IR

Indique Uma Preta: consultoria que nasceu no Facebook já impactou 27 mil profissionais negros

A COP29 está no limite e o fracasso não é uma opção, diz Guterres