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Por que a demissão de uma diretora estudantil gerou uma onda de protestos na Escócia

A saída da filósofa Alison Duncan Kerr da Universidade de St. Andrews, na Escócia, levantou uma discussão sobre a sub-representação de mulheres na academia e nos estudos de gênero e identidade

Um homem lê um livro fora do St. Salvator's Hall, uma residência estudantil da Universidade de St. Andrews, em St. Andrews, Escócia, em 14 de julho de 2018. A Universidade de St. Andrews, na Escócia, foi criticada por não renovar o contrato da diretora feminina de seu Instituto de Estudos de Gênero
 (David Azia/The New York Times)

Um homem lê um livro fora do St. Salvator's Hall, uma residência estudantil da Universidade de St. Andrews, em St. Andrews, Escócia, em 14 de julho de 2018. A Universidade de St. Andrews, na Escócia, foi criticada por não renovar o contrato da diretora feminina de seu Instituto de Estudos de Gênero (David Azia/The New York Times)

Alunos, funcionários e acadêmicos de todo o mundo estão expressando sua indignação depois que a Universidade St. Andrews, na Escócia, não renovou o contrato da diretora de seu Instituto de Estudos de Gênero, parte do departamento de filosofia.

A mudança levantou questões sobre a sub-representação das mulheres na academia, particularmente em um campo de estudo focado em representação e identidade.

Alison Duncan Kerr, filósofa americana, trabalha para a prestigiada universidade desde 2017 com um contrato temporário. Em 2018, foi contratada para fundar o Instituto St. Andrews de Estudos de Gênero, e em 2020 criou um programa de mestrado em estudos de gênero na universidade. Projetou e desenvolveu o currículo e inicialmente lecionou nesse programa.

Em uma carta aberta, seus apoiadores declaram que Kerr tinha todos os motivos para acreditar que seu trabalho resultaria em uma posição permanente, mas na verdade a universidade vai dispensá-la em junho. Suas tarefas serão distribuídas a outros membros da equipe, "nenhum dos quais tem o gênero como interesse central de pesquisa", diz a carta.

Antes do trabalho de Kerr na universidade, não havia programa interdisciplinar de estudos de gênero na St. Andrews. Seus apoiadores afirmam que o trabalho dela uniu pessoas de toda a universidade para criar um programa inédito e valioso. Consta na carta que "Alison trabalhou muito além dos requisitos oficiais da universidade".

Em um comunicado, a universidade se recusou a comentar o caso de Kerr, mas observou que aqueles que têm contrato de prazo fixo estão "plenamente cientes de que ele pode ser encerrado".

A instituição observou que o programa de mestrado em estudos de gênero "está em boas mãos", e atualmente recruta alunos para o próximo ano letivo.

Os defensores de Kerr dizem que a universidade planejou ter dois homens, que não têm a mesma formação no campo dos estudos de gênero, para ministrar o curso e dirigir o instituto. A universidade afirmou que a informação era imprecisa. "Reportagens na mídia britânica afirmando que a diretora de estudos de gênero na St. Andrews foi 'substituída por homens' são imprecisas e incorretas", declarou um porta-voz. Kerr ainda está em seu posto e seu contrato vai até junho de 2021, mas não leciona mais no programa de mestrado.

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Esse programa está agora a cargo da Escola de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares da universidade; a instituição disse que os deveres de Kerr estão sendo cobertos por vários colegas, mulheres e homens, de disciplinas de toda a universidade.

Também observou que Morven Shearer, diretora da pós-graduação, está assumindo temporariamente a responsabilidade pelo programa de estudos de gênero, e que a nomeação de um novo diretor ainda estava sendo debatida.

Mas a declaração inicial sugeria que um funcionário do sexo masculino supervisionaria o programa de mestrado estabelecido por Kerr.

A carta aberta atraiu mais de 1.500 assinaturas de alunos, funcionários e outros apoiadores de Kerr, que dizem que a decisão de não a efetivar faz parte de uma questão mais ampla no departamento de filosofia, na universidade e no mundo acadêmico em geral.

A situação mostra as "múltiplas barreiras enfrentadas na academia ligadas a questões de gênero, raça, idade, homofobia etc.", as mesmas questões que o instituto que Kerr fundou ajudava a explorar, diz a carta.

Também desencadeou uma campanha nas redes sociais, #StAndWithAlison, que recebe grande apoio de colegas de trabalho e alunos.

"A St. Andrews continuará colhendo os frutos do trabalho da dra. Alison Duncan Kerr muito tempo depois de tê-la dispensado. Ela criou um centro vital para pesquisas inclusivas e diversas, e essa decisão é terrível", escreveu Zoe Shacklock, professora de estudos cinematográficos da universidade.

Arantza Asali, atualmente aluna do programa de mestrado, escreveu no Twitter: "Nunca imaginei que a St. Andrews ofereceria esse diploma, receberia os elogios e o dinheiro da matrícula, e então faria isso. O descaso com nossa educação e com o bem-estar da equipe é inaceitável."

Preocupações mais amplas com a sub-representação das mulheres no campo da filosofia em todo o mundo foram levantadas muitas vezes no passado. E aqueles que chamaram a atenção para a decisão da universidade de não renovar o contrato de Kerr apontam para questões mais amplas em seu departamento.

De acordo com a carta em seu apoio, desde fevereiro, dos 35 membros da equipe acadêmica e de pesquisa do departamento, apenas 12 são mulheres; destas, apenas cinco têm posto permanente (para uma delas, este é de meio período), duas são visitantes, três são professoras que não são empregadas principalmente pela universidade, e duas têm contratos temporários, incluindo Kerr.

Os 19 membros em tempo integral do departamento incluem apenas quatro mulheres, e nenhuma posição júnior permanente é ocupada por elas. Dos 57 alunos de doutorado do departamento, apenas 13 são mulheres.

Acadêmicos de todo o mundo expressaram apoio a Kerr nas redes sociais.

"Absolutamente vergonhoso, e parte de uma longa lista de dispensa de mulheres e estudiosos Bame nos últimos anos", postou no Twitter Camilla Mork Rostvik, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Leeds, usando um acrônimo em inglês (Bame) comum no Reino Unido para negros, asiáticos e "minorias étnicas".

"Essa é uma injustiça profunda e um erro inacreditável. O trabalho dela é exemplar, e não há ninguém com a devida experiência para substituí-la", escreveu Jonathan Ichikawa, professor associado de filosofia da Universidade da Colúmbia Britânica.

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