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Em experimentos de laboratório, foi observado que os peixes formaram cardumes mais dispersos na presença de predadores, o que aumenta a vulnerabilidade dos indivíduos. (Wirestock/Freepik)
Repórter de ESG
Publicado em 15 de abril de 2025 às 17h40.
Última atualização em 16 de abril de 2025 às 12h04.
A poluição dos ecossistemas aquáticos, que já ameaçava a alimentação e habitat dos peixes, agora mostra impactos também na atividade neurológica dos animais. Um estudo recente publicado na revista científica Science descobriu que o descarte inadequado do clobazam, um ansiolítico comum utilizado no tratamento da ansiedade, está alterando o comportamento do salmão selvagem do Atlântico.
Pesquisadores da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas realizaram um experimento no Rio Dal, na Suécia, para estudar como o medicamento afeta a migração da espécie. Ao rastrear 279 salmões, eles observaram que os peixes expostos à substância migraram com mais rapidez, atravessando barreiras artificiais, como represas hidrelétricas, com mais velocidade do que os peixes não expostos.
Embora isso pareça um benefício, o estudo explica que pode gerar impactos ecológicos negativos a longo prazo.
A maior velocidade na migração dos salmões pode ser uma resposta a mudanças no comportamento dos peixes, que, ao se tornarem mais propensos a riscos, podem se expor mais facilmente a predadores e a outros perigos. De acordo com Jack Brand, líder do estudo, essas alterações podem afetar o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos, com consequências imprevisíveis para a biodiversidade.
Como funciona a inteligência artificial do Google que quer 'traduzir' o idioma dos golfinhosOutro dado importante do estudo foi o impacto do clobazam sobre o comportamento social dos salmões. Em experimentos de laboratório, foi observado que os peixes formaram cardumes mais dispersos na presença de predadores, o que aumenta a vulnerabilidade dos indivíduos. Esse comportamento pode resultar em uma maior exposição a ameaças e comprometer o sucesso da migração.
A presença de medicamentos nos rios tem se tornado uma grande ameaça para os ecossistemas aquáticos e a saúde humana. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de York em 2022, rios de países de baixo e médio porte são os mais afetados, devido a infraestruturas precárias de tratamento de águas residuais. O estudo analisou 1.052 locais ao redor do mundo.
A maior parte dos rios mais contaminados foi encontrada em regiões da África Subsaariana, sul da Ásia e América do Sul, áreas com infraestrutura de tratamento de águas ainda muito limitada. Além disso, o estudo aponta que a Europa também enfrenta o problema, embora em menor escala, com Madrid figurando entre as cidades mais poluídas, devido ao seu clima árido.
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O aumento de substâncias farmacêuticas nas águas também está vinculado ao desenvolvimento de bactérias resistentes, prejudicando a eficácia de medicamentos. Especialistas apontam que os métodos de tratamento de águas não são suficientes para remover esses compostos, e, por isso, ações mais rigorosas de regulamentação e alternativas como a "química verde", que visa o desenvolvimento de medicamentos biodegradáveis, são importantes para reduzir o impacto dessa poluição nos rios e ecossistemas aquáticos.