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Tragédia ambiental: em diferentes partes do planeta, o que se viu neste ano foram os efeitos das mudanças climáticas (AFP/AFP Photo)
Jornalista
Publicado em 30 de novembro de 2023 às 10h26.
Última atualização em 30 de novembro de 2023 às 11h58.
O ano de 2023 deverá ser o mais quente já registrado na história. A confirmação veio do relatório preliminar do Estado Global do Clima, divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), nesta quinta-feira, 30, na COP28, em Dubai.
Dados da agência, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), compilados até ao final de outubro, mostram que o ano foi cerca de 1,40°C (com uma margem de incerteza de ±0,12°C) acima da linha de base pré-industrial de 1850-1900.
Para se ter uma ideia do tamanho da gravidade do momento, a OMM cita que, ao se comparar o ano de 2023 com 2016 e 2020, anteriormente classificados como os mais quentes, a diferença é tão grande que se tornou improvável uma alteração depois de serem incluídos os dois últimos meses do ano.
O estudo lembra que os últimos nove anos, de 2015 a 2023, foram os mais quentes já registrados. Várias cidades brasileiras, por exemplo, viram os termômetros alcançarem temperaturas inéditas.
Araçuaí (a 678 km de Belo Horizonte), teve em novembro o dia mais quente no registro histórico no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Com cerca de 30 mil habitantes, a cidade mineira, localizada no Vale do Jequitinhonha, chegou no dia 19 a uma temperatura de 44,8ºC. Até então, a maior temperatura já registrada no país tinha sido de 44,7°C em Bom Jesus (PI), em 2005.
Ainda segundo a OMM, o aquecimento provocado pelo fenômeno El Niño, iniciado durante a primavera do Hemisfério Norte de 2023, se desenvolveu rapidamente durante o verão. Espera-se por um calor ainda maior em 2024, já que o fenômeno costuma ter um maior impacto nas temperaturas globais após atingir o seu pico.
Secretário-Geral da OMM, Prof. Petteri Taalas, lembra que os níveis de gases com efeito de estufa (GEE) e as temperaturas globais são recorde, assim como a subida do nível do mar e do gelo marinho da Antártida, que atingiu uma proporção jamais vista. “É uma cacofonia ensurdecedora de recordes batidos", diz.
"Estas são mais do que meras estatísticas. Arriscamo-nos a perder a corrida para salvar os nossos glaciares e controlar a subida do nível do mar. Não podemos regressar ao clima do século XX, mas temos de agir agora para limitar os riscos de um clima cada vez mais inóspito neste e nos próximos séculos", alerta Taalas.
Como destaca o relatório, a taxa de subida do nível do mar entre 2013 e 2022 é mais do dobro da taxa da primeira década do registo por satélite (1993-2002), resultado do aquecimento contínuo dos oceanos e da fusão dos glaciares e dos mantos de gelo.
Já a extensão máxima de gelo marinho na Antártida durante o ano foi a mais baixa já registrada, com menos 1 milhão de km2 do que o recorde anterior, no final do inverno do hemisfério sul. A área é maior do que a dimensão da França e da Alemanha juntas. Apenas nos últimos dois anos os glaciares suíços perderam cerca de 10% do seu volume remanescente.
O representante da OMM cita ainda que as condições meteorológicas extremas têm destruído vidas e meios de subsistência todos os dias, o que reforça a urgência de se garantir que todos estejam protegidos por serviços de alerta precoce.
O relatório traz ainda o fato de os níveis de dióxido de carbono são 50% mais elevados do que na era pré-industrial. O resultado é a retenção do calor na atmosfera. O longo tempo de vida do CO2, aponta o levantamento, signifca que as temperaturas vão continuar a subir por muitos anos.
As altas temperaturas trazem muito mais problemas do que a sensação de calor. Impactos socioeconômicos, incluindo a segurança alimentar e a deslocação da população, também são potencializados.
O relatório combina os contributos dos Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais, dos centros climáticos regionais, dos parceiros da ONU e dos principais cientistas do clima. Os valores da temperatura são uma consolidação de seis importantes conjuntos de dados internacionais. A versão final, juntamente com os relatórios regionais, será publicada no primeiro semestre de 2024.
Não faltam exemplos de situações extremas em 2023, conforme cita o estudo da OMM. O ciclone tropical Freddy, em fevereiro e março, foi um dos mais duradouros do mundo, com grandes impactos em Madagáscar, Moçambique e Malawi. O ciclone tropical Mocha, em maio, foi um dos ciclones mais intensos jamais observados na Baía de Bengala.
As inundações associadas à precipitação extrema causada pelo ciclone mediterrâneo Daniel afetaram Grécia, Bulgária, Turquia e Líbia. O sul da Europa e o Norte da África registraram calor extremo, em particular na segunda quinzena de julho. As temperaturas em Itália atingiram 48,2 °C, Tunes chegou a 49,0 °C, Agadir a 50,4 °C e Argel a 49,2 °C.
Os incêndios florestais, como os vistos no Havaí e no Canadá, são outra face de um ano de altas temperaturas. A área total queimada em território canadense, até 15 de outubro, era de 18,5 milhões de hectares - mais de seis vezes a média de 10 anos (2013-2022).
O desempenho da agricultura também retrata o que mostram os termômetros. No norte da Argentina e no Uruguai, as chuvas de janeiro a agosto foi 20 a 50% inferior à média, o que levou a perdas de colheitas e a baixos níveis de armazenamento de água.