Pneus de Fórmula 1 da Pirelli: mudança da matriz energética no setor de transporte demanda desenvolvimentos tecnológicos (Future Publishing / Colaborador/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 20 de julho de 2022 às 10h10.
Última atualização em 20 de julho de 2022 às 11h56.
Quem dirige um carro elétrico logo percebe que ele é igualzinho a um carro a combustão, exceto pelo fato de ser completamente diferente. A contradição se explica: para o consumidor, a experiência é a mesma, com algumas melhoras. Para a indústria, e toda a cadeia automotiva, é como comparar um elevador com uma escada rolante — com o agravante de que até os componentes que parecem iguais, são diferentes.
É o caso, por exemplo, dos pneus. “Continuarão a ser pretos e redondos, mas é só”, afirma Cesar Alarcon, CEO da fabricante italiana de pneus Pirelli no Brasil. “O veículo elétrico é mais pesado e mais rápido na aceleração, o que demanda um desempenho bem distinto”. Para Alarcon, a mudança da matriz energética do setor de transporte e mobilidade é apenas a ponta do iceberg de uma transformação mais profunda. “Há muito desenvolvimento que não se vê da superfície”, afirma.
A cadeia de valor da indústria automotiva sofre a influência, obviamente, das montadoras. Se o caminho estratégico definido pelas fabricantes de automóveis é o da eletrificação, é nessa direção que a Pirelli andará. Pelas projeções da companhia, até 2025, 60% dos pneus vendidos e homologados estarão equipando carros elétricos.
Por isso, grande parte do esforço de desenvolvimento está concentrada em melhorar dois aspectos do produto: a menor resistência ao rolamento, um aspecto fundamental para economizar energia e aumentar a autonomia do veículo, o calcanhar de aquiles dos elétricos; e o silêncio. “Ninguém quer, num carro que não tem barulho de motor, ficar escutando um pneu barulhento”, diz Alarcon.
A nova rota das montadoras, porém, não é o único motivo que leva a Pirelli a reformular por completo seus produtos, exceto pela cor e forma. “A eletrificação tem um grande objetivo, que é reduzir as emissões. Apesar da mudança da matriz energética não ser uma pauta exclusivamente ambiental, não podemos perder esse Norte”, diz o CEO. Essa compreensão leva a empresa a buscar novas matérias-primas e a reduzir o uso de componentes de origem fóssil, notadamente o petróleo.
No Brasil, onde está o segundo maior centro de inovação da companhia, menor apenas que o de Milão, estão sendo conduzidas experiências com casca de arroz e celulose, por exemplo. Um pneu é feito, principalmente, de borracha natural e sintética, fios de aço e componentes químicos. Nesses últimos componentes e na borracha sintética é onde ocorre o maior uso de material fóssil. Além, é claro, da energia utilizada na fabricação, que também vem sendo substituída por fontes renováveis.
Manter a conexão com o objetivo central da eletrificação ajuda, também, a compreender a velocidade desse processo em diferentes partes do mundo. Segundo Alarcon, a tendência é que a mudança da matriz demore mais a acontecer no Brasil do que na Europa ou na China. Isso se deve à disponibilidade de energia limpa. “A Europa e a China têm uma urgência muito maior de eletrificação, pois não contam com alternativas. No Brasil, há o etanol. Acredito que o carro elétrico irá chegar por aqui, mas deve levar alguns anos a mais”, define o executivo.