ESG

O patinete elétrico morreu? Startup Davinci aposta em nova febre no país

Nova empresa de Eduardo Musa, um dos fundadores da Yellow, venderá modelos fabricados em Manaus diretamente ao consumidor, em um mercado que pode chegar a 100 mil unidades em cinco anos

Eduardo Musa, um dos fundadores da Davinci: aposta na fabricação de patinetes elétricas na Zona Franca de Manaus para venda direta ao consumidor | Foto: Lorenzo Scavone/Davinci/Divulgação (Lorenzo Scavone/Davinci/Divulgação)

Eduardo Musa, um dos fundadores da Davinci: aposta na fabricação de patinetes elétricas na Zona Franca de Manaus para venda direta ao consumidor | Foto: Lorenzo Scavone/Davinci/Divulgação (Lorenzo Scavone/Davinci/Divulgação)

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Marcelo Sakate

Publicado em 30 de setembro de 2021 às 06h53.

Última atualização em 30 de setembro de 2021 às 14h25.

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Com a pandemia cada vez mais sob controle em razão do avanço da vacinação, a circulação de pessoas nas ruas de São Paulo e de outras grandes cidades do país está voltando ao normal. Um sinal evidente é a volta gradual dos congestionamentos, que mostram que os desafios da mobilidade urbana continuam vivos.

É nesse contexto que o empreendedor Eduardo Musa acaba de lançar a sua nova empresa, a Davinci Micromobilidade. O negócio: a fabricação nacional de patinetes elétricos para a venda direta a consumidores e, futuramente, empresas. O nome tem como inspiração o italiano Leonardo da Vinci, um dos grandes inventores da humanidade.

"As pessoas voltaram a ter que se locomover, mas enfrentam desafios antigos, como o trânsito pesado, e novos, como as dificuldades relatadas com aplicativos e o medo de pegar transporte público por causa da aglomeração. É um momento propício para colaborar com a micromobilidade urbana", disse Musa à EXAME Invest.

O empreendedor aponta também como incentivos a preocupação crescente da sociedade com o meio ambiente e a necessidade de redução de gases de efeito estufa para tentar frear o aquecimento global e as mudanças geradas pela pandemia, como a flexibilidade da jornada de trabalho, que levou muitas famílias a dispensar a necessidade de um ou dois carros.

Musa é um entusiasta há mais de 20 anos e profundo conhecedor do tema da micromobilidade sustentável: foi presidente da Caloi e um dos fundadores em 2018 da Yellow, de compartilhamento de bicicletas, ao lado de Ariel Lambrecht e Renato Freitas, empreendedores que haviam fundado a 99 (ex-99 Táxis) alguns anos antes.

Ele diz que prefere afastar o rótulo de startup, citando a longa experiência dele e dos dois sócios, James Scavone e João Ludgero, ex-colegas no comando da Caloi, e o fato de que dispensaram qualquer aporte de fundos de venture capital: a Davinci chega ao mercado com recursos próprios dos fundadores.

Estão colocados à venda no e-commerce próprio inicialmente dois modelos: o DV1, com 250 watts de potência e autonomia de 20 km, custa 5.499 reais, e o DV2, com 350 watts e autonomia de 30 km, ao preço de 6.499 reais.

Os modelos são gerenciáveis por meio de aplicativo, com configuração de velocidade máxima, travamento das rotas e informações sobre a carga restante da bateria recarregável e a quilometragem total e da viagem.

O empreendedor afirma que a tendência de restrição à circulação de carros nas grandes cidades continua em marcha e cita medidas como a recente decisão de Paris de limitar a 30 km/h a velocidade de automóveis, sob a gestão da prefeita Anna Hidalgo. A decisão, que já se aplicava à maior parte da capital francesa, teve apoio da maioria da população.

"A Davinci chega para preencher uma lacuna", diz o empreendedor, que faz um paralelo com a popularização do serviço de compartilhamento de bicicletas para explicar a sua avaliação sobre esse mercado que estão atacando.

"Quando lançamos a Yellow, a bicicleta como meio de transporte não era novidade, mas, sim, o compartilhamento no modelo 'dockless', sem estações espalhadas pela cidade. Quando os aplicativos deixaram de oferecer o serviço no início da pandemia, as pessoas tinham ampla oferta e sabiam onde e como comprar todos os tipos de bicicletas", afirma.

"Com o patinete foi diferente. Primeiro, porque o conceito de enxergá-lo como meio de micromobilidade, para distâncias menores, não existia. Era visto como um brinquedo. Segundo: quando muitos aplicativos deixaram de oferecer o aluguel, os usuários não sabiam ou não tinham como comprar que não fosse importando, sem qualquer referência."

Tamanho de mercado

É um mercado que, segundo estudos e projeções dos sócios, pode ter como referência o de bicicletas elétricas, cujas vendas estão na casa de 50.000 a 60.000 mil unidades ao ano e crescem a um ritmo anual de 30% a 40%.

"Nós acreditamos que o mercado possa ser até maior por causa da vantagem da portabilidade: nossos modelos de patinetes são dobráveis e podem ser levados dentro de um carro ou no elevador para ficar no apartamento."

Segundo ele, em um prazo de cinco anos, o mercado pode chegar a 100 mil unidades ao ano, com 150 mil em um cenário otimista. Outra referência é o segmento de compartilhamento (sharing), em que as principais empresas de aplicativos importaram juntas mais de 100 mil patinetes elétricas em 2019, segundo estimativas.

Musa deixou a Yellow em janeiro de 2019, antes da fusão com a mexicana Grin, que alugava justamente patinetes elétricos. A empresa resultante, a Grow, entrou em crise mais tarde e pediu recuperação judicial em 2020.

Ecossistema do patinete

A operação da Davinci foi estruturada em cima da ampla experiência dos sócios com a fabricação na Zona Franca de Manaus com a Caloi. Os modelos foram escolhidos sob a perspectiva de seu uso intensivo nas grandes cidades e dentro das normas de trânsito do país. São patinetes com 35% de componentes nacionais.

A experiência prévia foi o que permitiu, segundo ele, que o projeto fosse desenvolvido e colocado de pé durante a pandemia, incluindo o período mais agudo em que viagens e visitas a fornecedores estavam suspensas.

Musa ressalta que o projeto da Davinci foi planejado para funcionar de maneira sustentável não só ambiental mas como produto para o cliente final. O modelo tem garantia de um ano e conta com assistência oficial.

"Planejamos um ecossistema para que as pessoas possam comprar o patinete sem ficar desassistidas, como ocorre hoje com modelos importados em que não há a quem recorrer em caso de quebras ou defeitos", afirma.

Por essa razão, as vendas e as entregas começam limitadas à região metropolitana de São Paulo, área em que os clientes serão atendidos por uma oficina da própria Davinci. Será um período de aprendizado das demandas que deve durar, segundo Musa, de três a seis meses antes que a nova empresa passe a atender todo o país.

Patinete elétrico da Davinci Micromobilidade

Patinete elétrico da Davinci Micromobilidade | Foto: Davinci/Instagram/Reprodução (Davinci/Instagram/Reprodução)

A startup começa atendendo o público final, no modelo de venda direta para o consumidor, mas Musa revela que será inevitável a venda para empresas como as de aplicativos de entregas em um segundo momento.

"Por que não vemos mais entregadores andando de patinetes? Faz todo o sentido dentro do conceito last mile (termo que define o trecho da entrega do e-commerce até a casa do cliente). Porque não há modelos disponíveis", afirma.

Seriam modelos desenvolvidos para essa finalidade, preparados, por exemplo, para suportar um uso mais intenso e cuja frota poderia ser gerenciada de forma centralizada. Outra possibilidade, enxerga Musa, seria a venda para empresas que necessitem de meios de deslocamento em grandes áreas internas.

Por fim, Musa diz acreditar na volta do compartilhamento de patinetes no futuro próximo. "Podemos vender para novas empresas de sharing ou nós mesmos lançarmos o serviço, porque nós temos o conhecimento necessário."

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