ESG

Para investidor, fala de Bolsonaro não melhora a credibilidade do Brasil

Fábio Alperowitch, fundador da Fama Investimentos, afirma que o discurso do presidente na Cúpula do Clima não convenceu e que, sem um plano de ação, mercado não vai confiar no país

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente Jair Bolsonaro durante a Cúpula do Clima organizada pelos EUA (Marcos Correa/Reuters)

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente Jair Bolsonaro durante a Cúpula do Clima organizada pelos EUA (Marcos Correa/Reuters)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 22 de abril de 2021 às 14h06.

Última atualização em 22 de abril de 2021 às 17h33.

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima organizada pelos Estados Unidos não deve mudar a desconfiança do mundo em relação ao Brasil. A opinião é de Fábio Alperowitch, fundador e gestor da Fama Investimentos, gestora que foi pioneira no país em investimentos ESG. “A fala dele foi péssima”, disse Alperowitch à EXAME. “Ele coloca metas lá na frente, mas não apresenta um plano de ação.”

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Em sua fala de 3 minutos, Bolsonaro adotou uma narrativa de defesa ao que considera ações positivas do Brasil em relação à proteção ambiental. Também solicitou recursos internacionais para a conservação ambiental no país sem, no entanto, citar cifras. "A comunidade internacional terá oportunidade de cooperar com nosso destino comum durante a Conferência do Clima", afirmou. O encontro deverá ser realizado na Escócia em novembro.

A mudança de postura, no entanto, carece de credibilidade, avalia Alperowitch. “Até ontem, o Brasil derrubava floresta. Não vai mudar da noite para o dia”, disse o investidor. Para conseguir algum resultado, diz ele, o presidente deveria ter apresentado, junto com o compromisso de atingir a neutralidade em carbono até 2050.

Oportunidade desperdiçada

Para Alperowitch, os compromissos anunciados pelo presidente americano, Joe Biden, apontam a direção que os investimentos irão tomar daqui por diante. Biden pretende cortar pela metade as emissões americanas até 2030. “Esse compromisso dos EUA, e também de outros países, mostram a seriedade com que o tema das mudanças climáticas está sendo tratado”, diz Alperowitch. “Teremos uma canalização cada vez maior de recursos para a economia de baixo carbono. Era para o Brasil ser protagonista nesse processo. Estamos perdendo uma oportunidade gigantesca.”

O analista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, também afirma que o Brasil deveria ser um dos protagonistas dos debates da Cúpula de Líderes sobre o Clima. "Não foi o que se viu. Apesar da postura mais efetiva do governo Bolsonaro, com a promessa de metas ambiciosas, o discurso do presidente brasileiro ficou no final da fila, desprestigiado pelos principais líderes mundiais. No mundo da diplomacia, deram o recado."

Para César, o presidente brasileiro seguiu o script esperado em sua fala ao citar a necessidade de apoio dos países ricos. "Bolsonaro falou em antecipar a neutralidade das emissões de gases, de 2060 para 2050, reduzindo em até 50% em 2030. Pura retórica que não encontra suporte na realidade. Um detalhe chamou a atenção: Biden havia se retirado da sala quando Bolsonaro falou, mais um sinal de pouco prestígio do titular do Planalto."

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