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Análise de casos corporativos revela nova arquitetura empresarial baseada em sustentabilidade operacional. (Freepik)
Editora ESG
Publicado em 27 de maio de 2025 às 15h44.
Última atualização em 28 de maio de 2025 às 10h55.
A competitividade das empresas brasileiras ainda será determinada pela capacidade de integrar governança sólida às estratégias ambientais e sociais, transformando sustentabilidade em diferencial operacional concreto.
Esta foi a conclusão unânime do encontro Risco climático, compliance e finanças sustentáveis, promovido pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), enfatizada no bate-papo em que executivos da Dexco e do Mercado Livre detalharam como o ESG está no centro da estratégia de crescimento de suas respectivas empresas.
Fabricante de material de construção com um portfólio que inclui as marcas Deca, Hydra e Portinari, a Dexco estabeleceu como meta manter balanço positivo de carbono entre 2020 e 2030.
A empresa possui florestas certificadas há três décadas e formalizou compromissos públicos com sustentabilidade desde 2016.
Para alcançar o objetivo, a companhia aposta no manejo de 175 mil hectares das florestas próprias, utilizadas para produção de painéis de MDF, que funcionam como sequestradoras naturais de carbono atmosférico.
"O que queremos é que ao somar todas as nossas emissões nesses dez anos, tenhamos removido mais carbono pelo manejo das nossas florestas ao final do período acumulado", explicou Lennon Neto, especialista em sustentabilidade da Dexco.
Recentemente, o Mercado Livre anunciou investimentos de R$ 34 bilhões em infraestrutura, incluindo iniciativas ambientais integradas à operação.
Com um crescimento de 30% no volume de vendas brutas (GMV) no primeiro trimestre, a organização pode ser considerada um exemplo de como práticas sustentáveis podem coexistir com expansão acelerada.
Em painel promovido pelo Ibef, Dexco e Mercado Livre falam sobre como a competitividade será determinada pela capacidade de integrar governança sólida às estratégias ambientais e sociais. (IBEF/Divulgação)
A estratégia ambiental da empresa concentra-se em três frentes principais.
Na mobilidade, opera com uma frota de mais de 2,2 mil veículos elétricos para entregas urbanas, complementada por 200 caminhões movidos a gás natural para transferências interestaduais.
A matriz energética renovável representa 70% do consumo total, combinando energia eólica e painéis solares.
E, em uma terceira frente que envolve circularidade de produtos, garante gestão especializada de resíduos e desenvolvimento de embalagens certificadas.
"Este é o resultado de tratar sustentabilidade não como um plano à parte, mas parte do plano. Está intrínseco na nossa cultura, porque inovar não é fácil quando se trabalha com escala", afirmou João Paulo Santin Lima, CFO do Mercado Livre.
Ambas as companhias adotaram modelos organizacionais que integram sustentabilidade diretamente às áreas de resultado.
Na Dexco, a estratégia ESG é aprovada pelo conselho de administração e implementada por meio de estrutura de governança que conecta decisões executivas aos resultados operacionais.
"Não adianta querer viver numa fantasia. Essas decisões custam. O desafio é equacionar demandas de curto prazo de resultado financeiro com compromissos de longo prazo", reconhece Lennon Neto.
O executivo ressaltou a resiliência da empresa durante a crise climática de 2024, quando apenas 0,3% de sua base florestal foi afetada por incêndios, enquanto o ativo biológico total soma R$ 2 bilhões.
No Mercado Livre, a estrutura ESG está dentro da área de finanças, reportando-se diretamente à diretoria executiva.
"Isso tem alavanca muito forte e transversal, principalmente numa estrutura matricial como a nossa", destaca Lima.
A integração permite ainda que métricas de sustentabilidade sejam mensuradas por meio de indicadores de negócio, incluindo produtividade logística, custos de combustível e aquisição de clientes.
Na percepção dos executivos, as mudanças regulatórias têm acelerado investimentos sustentáveis.
A Dexco beneficiou-se da preparação antecipada para regulamentação europeia sobre produtos de madeira, tendo implementado rastreabilidade de 100% dos fornecedores desde 2020.
No Mercado Livre, o marco foi a captação de US$ 400 milhões por meio de green bonds em 2021, metade destinada ao Brasil, financiando iniciativas ambientais e de inclusão financeira.
"Milhares de PMEs no Brasil tiveram primeiro acesso a crédito pelo Mercado Pago", exemplifica o CFO sobre os impactos sociais dos recursos.
Numa análise de novos desafios da atualidade, os impactos dos desastres naturais em 2024 foram sentidos e, em alguns aspectos, redefiniram estratégias de continuidade de negócio.
No Mercado Livre, foi preciso revisar contratos e planos de ação após as enchentes no Rio Grande do Sul afetarem operações regionais, enquanto a Dexco desenvolveu parcerias emergenciais com fornecedores durante a crise.
Já numa perspectiva de futuro, a realização da COP30 em Belém está em basicamente todos os radares corporativos. Contudo, tanto Lennon quanto João Paulo defendem que as empresas precisam planejar uma participação bem estratégica.
"As empresas que estão pensando em COP no Brasil precisam ter reflexão muito clara sobre o que esperam com isso", avalia Neto. "Só querer ir porque todo mundo está indo, ou ir para aprender e tentar influenciar as discussões?"
A Dexco sugere que o evento será a chance de posicionar o setor florestal brasileiro como solução climática global.
O Mercado Livre vê a conferência como oportunidade para expandir discussões sobre financiamento sustentável, área na qual já possui experiência consolidada.
As estratégias apresentadas por ambas as empresas indicam consolidação de modelo empresarial que integra sustentabilidade a resultados financeiros, superando abordagem de área marginal para tornar-se diferencial competitivo no mercado brasileiro.