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Para a Suzano, é preciso deixar de encarar direitos humanos como risco e enxergar as oportunidades

Empresa acaba de anunciar parceria com OIT e Pacto Global para promover o salário digno e o direito de associação dos funcionários

Fernando Bertolucci, vice-presidente da Suzano: "É preciso partir de um lugar de humildade" (divulgação/Divulgação)

Fernando Bertolucci, vice-presidente da Suzano: "É preciso partir de um lugar de humildade" (divulgação/Divulgação)

Rodrigo Caetano
Rodrigo Caetano

Editor ESG

Publicado em 21 de setembro de 2024 às 13h00.

Última atualização em 23 de setembro de 2024 às 11h47.

Em painel realizado na sede da ONU, em Nova York, a Suzano, uma das maiores empresas de papel e celulose do mundo, anunciou uma parceria com a Organização Mundial do Trabalho (OIT) e o Pacto Global da ONU para promover o trabalho digno. A iniciativa pretende fortalecer a implementação da devida diligência em direitos humanos em toda a cadeia de valor, um desafio importante em um setor que historicamente carrega uma "herança maldita" de condições de trabalho precárias, como descreveu Fernando Bertolucci, vice-presidente de sustentabilidade e inovação da Suzano.

O anúncio foi feito durante o evento SDGs in Brazil, promovido pela Rede Brasil do Pacto Global. Nas operações diretas da empresa, destacou Bertolucci em entrevista à EXAME, há tempos não se registram situações problemáticas, porém, à medida que se afasta do centro da cadeia, em direção a fornecedores indiretos, os riscos aumentam. Com a parceria, a empresa busca uniformizar as condições de trabalho em todas as suas áreas de influência e, com isso, ganhar eficiência. “Temos uma meta pública, assumida em 2020, de retirar 200 mil pessoas da linha da pobreza até 2030”, disse o executivo. “Não é da miséria, é da pobreza, em que o desafio é maior.”

Transformação no setor florestal

Esse projeto é parte de uma série de ações para transformar as condições de trabalho no setor florestal e eliminar práticas que incluem salários baixos e jornadas exaustivas, especialmente nas regiões rurais mais distantes. Ele ressaltou a complexidade de lidar com uma cadeia produtiva extensa, que abrange mais de 200 municípios e 15 mil fornecedores.

Para a Suzano, a inclusão social e a busca por mais equidade têm um impacto direto na conservação ambiental. Bertolucci destacou que comunidades que têm suas condições de vida melhoradas são as primeiras a preservar o meio ambiente. Dessa forma, o foco no trabalho decente, com salários adequados, infraestrutura digna e acesso a educação, não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia para garantir a sustentabilidade a longo prazo. “É preciso deixar de encarar os direitos humanos como risco e passar a enxergar as oportunidades”, diz o vice-presidente.

Liderança em negócios sustentáveis

A Suzano vê a parceria com a OIT e o Pacto Global como uma forma de liderar o setor na criação de um modelo de negócios que seja ambientalmente responsável e socialmente inclusivo, impactando positivamente as comunidades em que atua e promovendo o desenvolvimento sustentável em escala global. “A gente tem que partir de um lugar de humildade, não somos donos da verdade. O desafio é grande, por isso temos de procurar os parceiros certos”, diz Bertolucci. “Agora, é possível fazer diferente? Sim, é possível fazer diferente.”

Entre os avanços já registrados nesse processo está a criação do projeto Nossa Voz Florestal, que busca ouvir diretamente os trabalhadores, incluindo aqueles que estão mais distantes na cadeia produtiva. Segundo Bertolucci, o objetivo é que as soluções sejam construídas com base no diálogo aberto com as comunidades locais e os trabalhadores, de forma que os novos padrões de trabalho e sustentabilidade sejam mais eficazes e justos.

Para fortalecer esse diálogo, a empresa também pretende incentivar a livre associação dos trabalhadores, ou seja, promover a sindicalização. “Temos uma área que cuida de relações sindicais, mas será que os trabalhadores lá na ponta estão devidamente informados de como eles podem acessar essas relações?”, questiona Giordano Automare, gerente geral de sustentabilidade. “É como as camadas de uma cebola, quanto mais distante da Suzano, mais difícil fica a comunicação.”

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