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Pandemia muda cadeia de reciclagem no Brasil e catadores ganham protagonismo, revela estudo

Segundo a Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap), o advento da Covid-19 e a mudança no comportamento do consumidor redefiniram radicalmente a logística dos resíduos

Com o 'boom' do e-commerce, houve um aumento significativo do volume de resíduos recicláveis gerado em casas, especialmente embalagens que antes ficavam se concentravam em pontos comerciais (Emilija Manevska/Getty Images)

Com o 'boom' do e-commerce, houve um aumento significativo do volume de resíduos recicláveis gerado em casas, especialmente embalagens que antes ficavam se concentravam em pontos comerciais (Emilija Manevska/Getty Images)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 17 de julho de 2025 às 18h00.

Última atualização em 17 de julho de 2025 às 18h10.

A pandemia da Covid-19 impactou diretamente o comportamento do consumidor brasileiro e impactou os mais diversos setores, especialmente o da reciclagem de papel e plástico.

É o que revela um novo levantamento da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap): o modelo tradicional sofreu uma reviravolta e e precisou se adaptar a uma nova realidade marcada pela mudança na origem, volume e destino dos resíduos recicláveis.

Antes do advento da pandemia, os produtos seguiam um fluxo bem definido: da indústria para centros de distribuição e, em seguida, para pontos comerciais. Já as embalagens secundárias e terciárias se concentravam nesses estabelecimentos, facilitando a coleta pelos recicladores.

Com o avanço das compras online e de plataformas digitais como Mercado Livre, Amazon, iFood e Rappi, os produtos passaram a ser entregues diretamente nas residências. O modelo, conhecido como "Last Mile", representa a etapa final da logística onde a compra sai do centro de distribuição direto para o consumidor, sem passar por estabelecimentos comerciais.

A pesquisa mostra que esta descentralização trouxe consequências diretas para o setor de reciclagem. Houve um aumento significativo do volume de resíduos recicláveis gerado em casas, especialmente embalagens secundárias e terciárias que antes ficavam nos pontos comerciais.

"Isso dificultou a coleta e triagem desse material, já que os aparistas e recicladores de plásticos não conseguem operar de forma eficiente em áreas residenciais, onde o volume por ponto de coleta é baixo e disperso", explica João Paulo Sanfins, vice-presidente da Anap.

Dados também apontam que, cerca de 30% dos insumos obtidos pelos aparistas de papel vêm do comércio, enquanto outros 30% dos ferros velhos, 25% do pós-indústria e 15% de cooperativas e catadores. Com a mudança no padrão de consumo, essa distribuição tem se alterado, com o comércio perdendo participação como fonte de material reciclável.

Catadores assumem protagonismo

Nesse novo cenário, os catadores emergiram como peça-chave da reciclagem. Na logística reversa, eles representam o "First Mile" - a etapa inicial da cadeia, através da coleta domiciliar.

"Por outro lado, esses profissionais enfrentam grandes dificuldades estruturais: falta de equipamentos, ausência de financiamento e baixa eficiência operacional nas cooperativas", observa Sanfins.

O vice-presidente da Anap destaca que, conforme identificou a associação, "com a crescente demanda dos consumidores por pedidos nas residências, o comércio, principal fonte dos aparistas, perdeu espaço".

Em vez de caixas de papelão estarem disponíveis no comércio, as mesmas ficam nas residências, onde ainda não há uma cultura consolidada de reciclagem.

Escassez de material reciclável

Outro destaque é a maior escassez de material reciclável no mercado. Segundo a Anap, responsável por reciclar mensalmente milhares de toneladas de materiais recolhidos das ruas pelos catadores e entregue também pelo comércio varejista, atacadistas e indústria, o insumo gerado mudou de destino e está mais concentrado nas mãos dos catadores.

A nova realidade exige adaptações por parte de toda a cadeia produtiva do lixo, desde os aparistas até as indústrias que dependem desses materiais como matéria-prima. Além disso, recomenda que o setor desenvolva novas estratégias para acessar o reciclável que agora se encontra disperso nas residências brasileiras.

Outra necessidade está relacionada a adoção de políticas públicas que fortaleçam o papel dos catadores e das cooperativas, reforçou a Anap. "É preciso investir em capacitação, equipamentos e estrutura para atender à nova demanda gerada pela digitalização do comércio brasileiro", conclui.

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