ESG

Pandemia aumenta descarte irregular de máscaras e polui oceanos

Para lidar com o problema, que preocupa ambientalistas, empresas criam produtos biodegradáveis feitos de papel, fibras de madeira e biomassa

Máscaras N95: dificuldade em encontrar insumos gerou risco de desabastecimento em hospitais no começo da pandemia (Amilcar Orfali/Getty Images)

Máscaras N95: dificuldade em encontrar insumos gerou risco de desabastecimento em hospitais no começo da pandemia (Amilcar Orfali/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 11 de julho de 2020 às 09h00.

A preocupação com o descarte dos equipamentos de proteção individual (EPIs), como as máscaras N95 usadas pelos médicos, está aumentando. Há um mês, na França, um grupo de mergulhadores associados à organização Operation Mer Propre (Operação Mar Limpo), que combate a poluição nos oceanos, soltou um alerta sobre a presença de máscaras junto ao lixo plástico que já lota o fundo do mar. 

O aviso dos mergulhadores acendeu uma luz amarela entre os ambientalistas. Por causa da pandemia, o uso de máscaras e outros EPIs tem sido intenso. Somente a França, importou cerca de 2 bilhões de equipamentos. A demanda foi tão grande que gerou uma crise internacional, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impedir a 3M, maior fabricante de máscaras do mundo, de exportar seus produtos. 

Diante da mesma preocupação, algumas empresas jogaram um olhar empreendedor para a questão. A ideia é desenvolver máscaras biodegradáveis que, mesmo se descartadas irregularmente, não deixem um rastro de poluição pelo planeta depois que a pandemia passar. 

A brasileira Suzano, fabricante de papel e celulose, desenvolveu uma linha de protetores faciais, aqueles grandes com visor de plástico, feitos em papelcartão. A ideia para o produto veio da Brasilgrafica, empresa do setor de embalagens. O produto ainda terá visor de polyester, material plástico que não é biodegradável. Mas, o restante da máscara, quando descartada na natureza, irá se decompor em alguns meses. 

Usualmente, as máscaras são feitas de materiais derivados do petróleo, como o polipropileno. Mesmo as menores, que parecem de papel, na realidade, são feitas de plástico, cuja degradação pode levar mais de 400 anos. 

Na Suíça, uma startup começou a produzir um tipo de máscara ainda mais amigável ao meio ambiente. Batizado de HelloMask, o equipamento de proteção é feito com uma membrana derivada de biomassa, que são sobras de material orgânico. Além de ser totalmente biodegradável, a máscara tem outro benefício: é transparente. Dessa forma, os médicos conseguem uma conexão maior com seus pacientes. 

Já no Canadá, pesquisadores da universidade de British Columbia estão desenvolvendo a Can-Mask, uma N95 feita de fibras de madeira. O objetivo dos pesquisadores era, não só criar um produto biodegradável, mas que também pudesse ser produzido a partir de matérias-primas canadenses. 

Ainda que as máscaras sejam feitas em diversas partes do mundo, a maioria dos materiais tem como origem a Ásia. Com a alta da demanda, os insumos se tornaram escassos e caros. 

No início da pandemia, a dificuldade em encontrar matéria-prima gerou o risco de desabastecimento em hospitais. Levantamento feito pelo marketplace de insumos hospitalares Bionexo, que conecta hospitais a mais de 10.000 fornecedores, apontou uma alta de 240% na procura pelo produto. O preço do equipamento, no final de março, havia quadruplicado, chegando a 12 reais. Seja pela falta, ou pelo excesso, as máscaras estão dando o que falar na crise do coronavírus.

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