ESG

Pacto Global: mercado deve conectar clima e lucro para evitar greenwashing

Em artigo, Sanda Ojiambo, CEO e diretora-executiva do Pacto Global da ONU, explica por que dar importância às metas de emissões líquidas zero

Sanda Ojiambo, CEO do Pacto Global da ONU: "As empresas precisam traçar planos de curto prazo para reduzir radicalmente suas emissões de carbono" (Pacto Global/Divulgação)

Sanda Ojiambo, CEO do Pacto Global da ONU: "As empresas precisam traçar planos de curto prazo para reduzir radicalmente suas emissões de carbono" (Pacto Global/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2021 às 10h50.

Última atualização em 31 de maio de 2021 às 11h00.

“Houston, nós temos um problema!” Muitas empresas prometem eliminar as suas emissões de carbono até 2050, mas sem especificar como chegarão lá. Para o público, isso cheira a greenwashing. Atitudes como essa são responsáveis por minar a confiança nos muitos esforços genuínos de descarbonização que estão em andamento.

Precisamos urgentemente de mais empresas atuando em conjunto na luta contra as mudanças climáticas, mas é preciso que suas promessas sejam confiáveis. As organizações não devem fazer promessas de longo prazo sem respaldá-las com planos e ações a curto prazo. Caso contrário, esses compromissos serão vazios e não levarão à transformação de que tanto precisamos.

A Exame Academy lançou um curso sobre ESG -- práticas ambientais, sociais e de governança. Conheça agora

As Nações Unidas alertam que em nossa trajetória atual os níveis de emissões de gases de efeito estufa que causam o aquecimento do planeta mal terão mudado até 2030, quando precisaremos reduzi-los em quase 50% para evitar mudanças climáticas irreversíveis e catastróficas. A menos que comecemos a eliminar as emissões de carbono agora, poderemos esquecer a meta estabelecida para 2050, quando os cientistas alertam que as emissões de gases de efeito estufa precisam cessar por completo.

As empresas precisam traçar planos de curto prazo para reduzir radicalmente suas emissões de carbono. Pense nisso como um plano de corte de custos para salvar a empresa da falência. Mas, que em vez da falência, o custo de não agir terá como consequência uma potencial aniquilação. Continuar com os negócios como estão nesse momento é conspirar para destruir a riqueza, em vez de preservá-la e criá-la. No entanto, uma pesquisa do NewClimate Institute revela que apenas 8% das empresas com metas líquidas de zero emissões também contam com planos de curto prazo.

Mas a falta de planos climáticos de curto prazo não é inteiramente culpa das empresas. Muitas precisam de orientação sobre as habilidades, processos e dados necessários para medir as suas emissões de carbono e avaliar os riscos climáticos. Para definir um destino, você precisa saber o seu ponto de partida. É por isso que precisamos dar às empresas as ferramentas que precisam para definir caminhos mensuráveis ​​para emissões zero.

Metas baseadas na ciência

Avaliar a sua pegada de carbono e definir metas com base na ciência é uma boa maneira para começar esse processo. Essas metas descrevem a rota de uma empresa para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e são consideradas “baseadas na ciência” se estiverem alinhadas com o que a ciência do clima considera necessária para cumprir os objetivos do Acordo de Paris - limitar o aquecimento global bem abaixo do aumento de 2°C nos níveis pré-industriais e buscar esforços para limitar o aquecimento a 1,5°C.

O Pacto Global da ONU, a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, está lançando um importante programa de educação para ajudar as empresas a definir metas de descarbonização com base científica e concretizar as suas metas climáticas. Por meio das Redes Locais do Pacto Global em todo o mundo, as empresas que participam do Climate Ambition Accelerator terão acesso às melhores práticas, oportunidades de aprendizagem mútua, sessões de capacitação e treinamento sob demanda sobre como gerenciar as suas emissões e delinear estratégias diferentes para cumprir metas climáticas ambiciosas.

O estabelecimento de metas com base na ciência permitiu, por exemplo, a empresa de energia dinamarquesa Ørsted transformar o risco climático em uma grande oportunidade de negócio. Entre 2008 e 2009, o serviço público - então conhecido como Dong Energy - identificou seus ativos de carvão, petróleo e gás como um risco climático (e, portanto, comercial). A companhia começou a desinvestir em atividades intensivas em carbono e a investir em energia renovável. A Ørsted vai parar de usar carvão em suas usinas, substituindo-o por biomassa sustentável, até 2023, quando a pegada de carbono de suas atividades de geração de energia será 96% menor do que em 2006.

Bom para o planeta e também para os lucros

As metas baseadas na ciência funcionam. Em 2023, Ørsted vai gerar eletricidade com 25 vezes menos emissões de carbono do que em uma central elétrica movida a carvão. A descarbonização também tem sido boa para os resultados financeiros: a empresa quase quadruplicou em valor desde seu lançamento na Bolsa de Valores em 2016.

Também temos evidências de que as empresas que adotam metas baseadas na ciência estão proporcionando redução de emissões em grande escala. A Ørsted afirma que tem sido responsável por metade da redução das emissões de carbono da Dinamarca desde 2006. Coletivamente, 338 empresas pioneiras com metas baseadas na ciência reduziram suas emissões anuais em 25% entre 2015 e 2019 - o equivalente às emissões anuais de 78 usinas movidas a carvão.

Mas para alcançar a transição para um futuro com emissões líquidas zero, precisamos do comprometimento de um número muito maior de empresas com as metas de descarbonização baseadas no clima, especialmente daquelas em setores de forte emissão.

Durante o Fórum Econômico Mundial realizado em janeiro, o Secretário-Geral da ONU António Guterres declarou: “Todos os países, cidades, instituições financeiras e empresas precisam adotar planos climáticos confiáveis ​​apoiados por metas intermediárias para a transição para emissões líquidas zero até 2050, e tomar medidas decisivas agora para se colocar no caminho certo. Cada setor deve fazer sua parte, desde aviação e agricultura até transporte, navegação e indústria”.

A descarbonização com base na ciência está no centro de estratégias confiáveis para emissões líquidas zero. A credibilidade vem com responsabilidade. O Pacto Global da ONU quer dar as ferramentas e habilidades que as empresas precisam para terem credibilidade e responsabilidade, colocando-as no caminho de uma descarbonização significativa e lucrativa.

Compromissos distantes e intenções elevadas simplesmente não vão funcionar mais. As empresas devem elaborar planos de descarbonização agora, definir metas ambiciosas e de curto prazo baseadas na ciência e relatar o seu progresso. O Pacto Global da ONU está aqui para ajudá-las a fazerem isso.

*Sanda Ojiambo é CEO e diretora-executiva do Pacto Global da ONU

Assine a EXAME e fique por dentro das principais notícias que afetam o seu bolso

Acompanhe tudo sobre:CarbonoMudanças climáticasONU

Mais de ESG

O que é adaptação climática e o fundo de perdas e danos?

Incêndios no Pantanal ameaçam cobra-d’água, único réptil exclusivo do bioma

Rio de Janeiro firma acordo para monitoramento da costa e mitigação de impactos climáticos

Executivos do petróleo marcam presença na COP29 e ONGs denunciam lobistas