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Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS: com Escritórios Verdes, empresa encontrou uma maneira de regularizar a cadeia de fornecimento (Leandro Fonseca/Exame)
Editor ESG
Publicado em 11 de junho de 2023 às 18h00.
Última atualização em 13 de junho de 2023 às 14h16.
Quem já esteve em algum ponto da Rodovia Transamazônica sabe. É comum encontrar rebanhos sendo tocados pelo asfalto, em cenas que remetem ao passado. Não é segredo que esse gado, ou boa parte dele, está a caminho de ser “esquentado”. Animais criados ilegalmente, em fazendas que não deveriam existir, são misturados a rebanhos certificados, e depois vendidos a grandes empresas. O segredo da manobra é adicionar camadas de legalidade sobre o desmatamento, para driblar o controle das compradoras. Quanto mais longe do fornecedor direto, mais difícil é detectar a irregularidade.
Para as grandes produtoras de alimentos, monitorar essa cadeia é um desafio tão grande quanto o tamanho dos pastos que se estendem a perder de vista pelo interior do Brasil. Por mais que elas exijam de seus fornecedores o cumprimento de uma série de requisitos ambientais, os fornecedores deles podem estar com problemas, contaminando todo o processo. E tem os fornecedores dos fornecedores dos fornecedores — dá para visualizar o problema. O gado, afinal, não nasce pronto para o abate. Embora algumas fazendas se encarreguem de todo o ciclo de vida do animal, o mais comum é que cada criador tenha um nível de especialização, do bezerro ao boi gordo, gerando elos de fornecimento — e, como em qualquer corrente, a força é equivalente ao elo mais fraco.
Quando a maior produtora de proteína animal do mundo, a JBS, comandada por Gilberto Tomazoni, decidiu encarar o problema, a abordagem foi usar a tecnologia. Assim surgiu a Plataforma Pecuária Transparente (PPT), um portal gratuito, baseado em blockchain, pelo qual seus parceiros podem consultar a conformidade ambiental de seus fornecedores, evitando, assim, bloqueios futuros por problemas de terceiros. “Só bloquear essas fazendas, no entanto, deixou uma lacuna de oportunidade”, disse à EXAME Liège Correia, diretora de sustentabilidade da Friboi. O próximo passo, diz ela, foi oferecer a esse terceiro elo da cadeia auxílio para a regularização. Assim nasceram, em 2021, os Escritórios Verdes.
Esses escritórios passaram a auxiliar as fazendas na tarefa de regularizar seus passivos ambientais. A demanda superou as expectativas. “A ideia era ajudar os fornecedores indiretos, mas os diretos também pediram auxílio”, conta Correia. Até o momento, mais de 4.800 fazendas foram regularizadas pelo programa, o suficiente para recuperar 1 milhão de hectares de terras degradadas — o equivalente a 1 milhão de campos de futebol. “Vamos regularizar mais 4.000 até o final do ano”, prevê a diretora.
Em março, a companhia abriu mais três Escritórios Verdes, nas cidades de Araguaína (TO), Naviraí (MS) e Vilhena (RO), chegando a 18 unidades. Cada escritório conta com pelo menos três profissionais, geralmente engenheiros, que recebem os produtores embargados e analisam caso a caso. A maioria dos problemas diz respeito a questões ligadas a desmatamento, o que exige a elaboração de um plano de recuperação, além do pagamento das multas. Outras propriedades chegam com dificuldades para fazer o Cadastro Ambiental Rural (CAR), um processo simples, exigido pela JBS desde 2009. Segundo Correia, os casos de crimes ambientais mais severos são poucos.
Além dos analistas da própria companhia, os Escritórios Verdes contam com uma lista de consultorias habilitadas, que oferecem serviços mais específicos, como planos de reflorestamento. Atualmente, são 50 cadastradas.
As fazendas que recorrem aos escritórios também conseguem obter condições melhores de crédito. A JBS fechou com o Banco do Brasil e o Bradesco uma parceria para ajudar esses embargados a financiar infraestruturas necessárias para a regularização, como a construção de cercas e outras obras. Não é possível, no entanto, financiar o pagamento de multas ambientais.
Para Liège Correia, os resultados do programa provam que políticas meramente restritivas, focadas apenas no comando e no controle, não são o caminho para resolver os desafios ambientais brasileiros. Até o final do ano, mais dois Escritórios Verdes serão abertos. “Precisamos criar ações inclusivas”, diz a diretora. “Esse é o nosso grande case de sustentabilidade. E não é filantropia, é um projeto de negócios.”