Apoio:
Parceiro institucional:
Picape Ford F-150 (Ford/Divulgação)
Bloomberg Businessweek
Publicado em 23 de outubro de 2023 às 11h43.
Por Keith Naughton
Quando Amber Lombardi resolveu comprar um carro no ano passado, ela sabia que precisava de um veículo eficiente, capaz de transportar o grande trailer do seu consultório odontológico móvel. E seria ótimo se pudesse ajudar a fornecer eletricidade para alguns de seus equipamentos de bordo.
A picape Ford F-150 que escolheu tem bastante capacidade de reboque, e suas furadeiras e ferramentas para limpeza de dentes podem extrair energia de um gerador de 7,2 quilowatts embutido na carroceria do caminhão, alimentado pela mesma bateria que ajuda a impulsioná-lo na estrada.
A camionete de Lombardi não é uma das picapes elétricas F-150 Lightning mais vendidas da Ford Motor Co. É uma versão híbrida gasolina-elétrica do venerável F-150, que custa menos e ainda economiza muito no consumo de combustível. “Simplesmente não estava ao nosso alcance ter um veículo totalmente elétrico nesse momento”, diz Lombardi, CEO da Mainely Teeth em Portland, Maine. “Então, essa é a forma de satisfazer nossa necessidade.”
Há mais de um quarto de século, a Toyota lançou o Prius, um carro com uma nova tecnologia – um pequeno motor a gasolina combinado com uma bateria relativamente grande – que se tornaria um dos queridinhos do movimento verde. Mas, nos últimos anos, esses híbridos caíram em desuso à medida que os fabricantes de automóveis corriam para desenvolver veículos totalmente elétricos, o que capturou generosos incentivos governamentais e despertou a imaginação de condutores com visão de futuro. Agora, os híbridos estão de volta, à medida que os possíveis compradores de veículos elétricos ficam cada vez mais desanimados com os altos preços e a insatisfatória infraestrutura de carregamento.
As vendas de híbridos nos EUA mais que duplicaram desde 2020 e caminham para um aumento de 35% este ano, segundo a empresa de pesquisas, GlobalData. “A indústria automobilística não funciona de um modo em que basta apertar um botão e tudo fica diferente”, diz Jeff Schuster, vice-presidente executivo para o setor automotivo da GlobalData. Os híbridos são “uma forma de o mercado de massa começar a experimentar os veículos elétricos”.
Para conquistar alguns desses clientes, a Ford está duplicando a produção de seu híbrido F-150 de três anos de existência e reduzindo o preço em US$ 1.900 – tornando-o quase igual ao modelo totalmente a gasolina e quase 10% mais barato que aversão elétrica lançada em 2022.
A Ford pretende quadruplicar as vendas de híbridos nos próximos cinco anos e oferecer a tecnologia em toda a sua linha, ao mesmo tempo que restringe ambiciosos planos de produção para seus modelos totalmente elétricos. “Francamente, ficamos surpresos com a popularidade” dos híbridos, disse o CEO da Ford, Jim Farley, em uma teleconferência sobre lucros em julho passado.
Para motoristas que buscam atrelar grandes reboques, os híbridos são uma opção melhor do que as versões totalmente elétricas, porque cargas pesadas esgotam a bateria e reduzem o alcance de uma picape totalmente elétrica. O híbrido F-150 combina um motor elétrico com um motor V6 de 3,5 litros, proporcionando 430 cavalos de potência, um dos mais potentes da linha F-150. O modelo 2023 tem um rendimento de cerca de 25 milhas por galão, contra 21 milhas por galão de um F-150 convencional com o mesmo motor, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental.
A GlobalData espera que as vendas de híbridos da Toyota aumentem 7,5% este ano, para mais de 600.000 unidades. Cerca de um terço das vendas da Toyota nos EUA são híbridos, e alguns modelos estão disponíveis apenas como gas-elétrico, incluindo a minivan Sienna e o SUV Sequoia de tamanho normal.
A Sienna tem uma lista de espera de pelo menos oito meses, e a Toyota venderia mais híbridos como porcentagem de seu total – especialmente modelos plug-in – se houvesse mais motores disponíveis, diz Jack Hollis, chefe de vendas da Toyota nos EUA. “Quando se olha para os híbridos plug-in ver-se-á que eles estão crescendo rapidamente”, diz ele. “Poderíamos facilmente duplicar as nossas vendas de híbridos plug-in”.
Embora os híbridos plug-in – que vêm com uma porta de carregamento como um veículo totalmente elétrico – forneçam flexibilidade adicional, eles também acrescentam milhares de dólares ao preço de tabela. Hollis diz que muitos compradores americanos estão satisfeitos com os chamados híbridos mais baratos, médios ou recarregáveis especialmente quando os veículos são ajustados para gerar mais potência – mesmo às custas da economia de combustível.
O número de modelos híbridos à venda no mercado dos EUA deverá crescer para 369 até 2026, mais que o dobro dos 164 à venda nos EUA em 2020, segundo a GlobalData. A Hyundai e a Honda também são grandes players híbridos que, combinados, deverão controlar 32% do mercado americano de modelos gas-elétricos este ano.
Os híbridos respondem por quase um quinto das vendas da Honda nos EUA. “Os híbridos estão realmente contribuindo para o sucesso de vendas que estamos vendo – tanto no lado Honda quanto no lado Acura do negócio”, diz Mamadou Diallo, chefe de vendas da Honda nos EUA. “O tipo de volume que estamos obtendo com os híbridos realmente dá o tom para nossos futuros VEs.”
A Honda atribui seu recente sucesso híbrido a um novo sistema de motor duplo que aumenta a potência e a economia de combustível, ao contrário de sua geração anterior de híbridos monomotores. A produção do novo híbrido CR-V começou há quase um ano e o novo híbrido Accord chegou às ruas em janeiro. Diallo disse que uma versão híbrida do compacto Civic está planejada para o próximo ano e que versões gas-elétricas de outros modelos estão em andamento.
A onda híbrida não se limita aos EUA. Globalmente, espera-se que as vendas de híbridos aumentem 20% este ano e cresçam 71% nos próximos cinco anos, prevê a GlobalData. A Ásia e a América do Norte liderarão o mercado, mas a Europa, onde as regulamentações favorecem veículos totalmente elétricos, ainda deverá ver um salto de 11% nas vendas de híbridos este ano, afirma a GlobalData.
Grupos ambientalistas atacaram a Toyota por aderir à tecnologia híbrida que ainda depende de combustíveis fósseis emissores de poluição, mas o ex-presidente, Akio Toyoda, insiste que muitos compradores não estão prontos para adotar totalmente os veículos elétricos.
Portanto, a Toyota está duplicando suas ofertas de híbridos, ao mesmo tempo em que aumenta os investimentos com veículos elétricos para US$ 50 bilhões e planeja lançar 10 modelos totalmente elétricos até 2026. “A Toyota é uma loja de departamentos com todos os tipos de motores”, disse Toyoda a repórteres em um evento de revendedores em Las Vegas no ano passado. “Não é certo que uma loja de departamentos diga “que este é o produto que você deve comprar’”.
Os híbridos continuam a vender mais que os veículos elétricos nos EUA, com vendas chegando a 1.4 milhões de veículos este ano, contra quase 1.2 milhões de veículos totalmente elétricos, de acordo com a GlobalData, que prevê que os híbridos controlarão 9% do mercado automobilístico americano em 2023, enquanto os totalmente elétricos sejam responsáveis por 8%.
Os americanos têm sido mais lentos a adotar veículos eléctricos do que os consumidores europeus e chineses devido à falta de infraestruturas de carregamento, bem como ao preço mais elevado dos veículos eléctricos, mesmo depois da Tesla ter repetidamente baixado seus preços. O preço médio de um VE nos EUA em agosto foi de US$ 59.752, em comparação com US$ 45.567 para modelos movidos a gasolina, de acordo com a empresa de pesquisa, Edmunds.
E com os empréstimos para automóveis atualmente em média de 7,4%, o financiamento acrescenta cerca de US$ 9.000 em juros ao longo dos 68 meses de um financiamento de US$ 40.000, de acordo com a Edmunds. “Há um elemento de pragmatismo nesse momento, em que as pessoas não optam por todos os recursos”, diz Jessica Caldwell, diretora executiva de insights da Edmunds, o que contribui para a desaceleração das vendas de veículos acima de US$ 50 mil. Isso ajuda a explicar por que mais consumidores estão recorrendo aos híbridos, que normalmente custam menos que a comparável versão totalmente elétrica de um determinado modelo.
A Ford tem lutado para acompanhar a demanda pela versão híbrida de sua pequena picape Maverick, que custa a partir de US$ 23.400. O híbrido Maverick responde por quase 60% das vendas do modelo. O CEO, Farley , disse que “foi muito além de nossas expectativas”.
É por isso que a Ford procurou eliminar o preço premium do híbrido F-150 2024, que foi apresentado no Salão do Automóvel de Detroit em 12 de setembro com novos estilos e recursos. A Ford espera agora que o híbrido F-150 responda por um quinto das vendas da camionete, o veículo mais vendido no mercado dos EUA nas últimas quatro décadas. Isso é o dobro da atual taxa de aquisição de híbridos e, à medida que a produção aumenta, a empresa oferecerá o híbrido F-150 com um preço inicial de US$ 55.000 – o mesmo que um modelo equivalente movido a gasolina.
– Com a assessoria de Chester Dawson. Tradução de Anna Maria Dalle Luche.