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Raquel Virgínia, CEO da Nhaí, em evento na ONU (Fabio Ura/99jobs/Reprodução)
Repórter de ESG
Publicado em 15 de março de 2024 às 13h02.
A abordagem sobre inclusão de profissionais LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho ainda é muito voltada para a sensação de pertencimento. Mas, diferente de outros grupos socialmente minorizados, pouco se mede a quantidade de empreendedores e funcionários nas empresas, especialmente a partir do argumento de que não se pode obrigar a autodeclaração de orientação sexual e gênero.
Em busca de promover um aprimoramento de práticas para LGBTQIAPN+, o Pacto Global da ONU - Rede Brasil, a startup de inclusão Nhaí e a agência AlmapBBDO lançam a primeira fase de um censo de inclusão produtiva LGBTQIAPN+, em busca de detalhamento do perfil de empregabilidade e empreendedorismo da comunidade no país.
Os dados iniciais se concentram em entrevistas qualitativas, feitas pelo Datafolha com oito especialistas em temas que afetam a situação produtiva do indivíduo, como saúde, educação, política e economia. Nomes como Neon Cunha (Ativista/Casa Neon Cunha), Reinaldo Bulgarelli (Fórum Empresas de Direitos LGBTI+), Maite Schneider (Integra Diversidade/ Somos Diversidade/ Trans Empregos), Pri Bertucci (Diversity BBox Consultoria) e Priscila Siqueira (Vale PcD) analisaram os maiores obstáculos que o Brasil impõe para que a comunidade LGBTQIAPN+ consiga se inserir no mercado de trabalho ou empreender.
"Conversamos com especialistas para entender quais são as perguntas essenciais para conhecermos a produtividade da população LGBTQIAPN+. Nossa intenção é entender quem está produzindo e como. E, se não está, por quais motivos. Ter esses dados pode mudar como as empresas e governos tratam o tema", diz Raquel Virgínia, CEO da Nhaí, à EXAME, durante evento paralelo à 68ª Sessão da Comissão da Situação da Mulher (CSW), na sede da ONU.
Questões como a não-aceitação da família, que gera expulsão de casa e evasão escolar afetam diretamente a empregabilidade das pessoas LGBTQIAP+. De acordo com os especialistas, é preciso preparação dos ambientes de trabalho e de garantia de aplicação de leis que protejam a comunidade. Ao mesmo tempo, o apoio familiar é destacado como um fator crucial que pode ajudar a compensar os desafios.
O documento traz uma análise das principais dificuldades encontradas no mercado de trabalho em três fases distintas: do processo seletivo, com barreiras invisíveis e visíveis, das dificuldades pós-contratação de convívio e carreira, além do caminho alternativo, o empreendedorismo, para os que não conseguem uma colocação.
Na fase do processo seletivo, por exemplo, a falta de um histórico acadêmico tradicional é impeditiva para que pessoas LGBTQIAP+ participem de processos seletivos para vagas de trabalho formal. Nesta mesma etapa, existe uma pressão para que indivíduos LGBTQIAP+ sejam passáveis, ou seja, capazes de emular certa heteronormatividade ou cisnormalidade para serem aceitos ou contratados.
O censo destaca ainda que as mulheres enfrentam desafios similares no mercado de trabalho, independentemente de sua identidade ou expressão de gênero. Os depoimentos dos especialistas reforçam problemas como desigualdade salarial, menor presença feminina em cargos de liderança e o preconceito sobre a capacidade profissional das mulheres.
"Isso mostra também que cada membro da comunidade LGBTQIAP+ vive experiências distintas, mas muitos encaram obstáculos semelhantes que tornam mais complexa a entrada e o avanço no mercado de trabalho. Um exemplo é a mulher trans, pobre e preta, que sofre preconceito de gênero, orientação sexual classe social e racial", diz Raquel Virgínia.
“Há várias interseccionalidades neste tema, o que o torna complexo, exigindo uma visão ampla para ações detalhadas sobre educação e mercado de trabalho. Conhecer essas particularidades e os diferentes traços de personalidade é necessário para preparar as mudanças necessárias na educação, no preparo profissional, nas práticas empresariais e na conscientização de todos sobre diversidade”, avalia Camila Valverde, COO do Pacto Global da ONU – Rede Brasil e diretora de Impacto.
O estudo traz ainda as principais reflexões e aponta soluções para cada um dos desafios apresentados. “Este estudo é uma evolução de uma série de pesquisas feitas em parceria com a Nhaí no último ano, que trazia um panorama sobre os desafios da comunidade LGBTQIAP+ no país. Nosso foco agora é ampliar esse mapeamento nacionalmente e investigando diferentes marcadores sociais, para entender qual é o real status da inclusão produtiva dessa comunidade, a partir de uma análise que se aprofunde para transformar dados em plano de trabalho”, destaca Fernanda Tedde.
Na próxima fase, os temas levantados serão aprofundados e quantificados em nível nacional, por meio de entrevistas com pessoas LGBTQIAP+ de diferentes classes, recortes sociais e realidades, como indígenas, PCD e moradores de áreas rurais, entre outras. A intenção é que um mapeamento preciso e completo dos problemas gere um plano de trabalho.