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Onda de calor levanta debate sobre um desafio ESG de vida ou morte: o ar-condicionado

O mundo está mais quente e as ondas de seca, mais frequentes. Neste cenário, o ar-condicionado é um alívio, e uma fonte crescente de preocupação

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 10 de setembro de 2024 às 12h09.

Última atualização em 10 de setembro de 2024 às 14h45.

Basta olhar pela janela para perceber que o Brasil vive dias difíceis. A combinação de fuligem das queimadas com ar quente e seco derrubou a qualidade de vida em quase todas as regiões do país.

Uma mancha gigante de ar seco se estende por mais de 3 mil quilômetros de norte a sul do país e levou a um alerta laranja de seca a 12 estados brasileiros. Nesta terça-feira a maior cidade brasileira, São Paulo, chegou ao segundo dia consecutivo como a metrópole com a pior qualidade de ar do planeta.

É uma combinação que fez as máscaras voltarem à paisagem urbana e reascendeu debates sobre se é seguro praticar exercícios físicos ou atividades ao ar livre. É também uma combinação que faz disparar o uso de ar condicionado, levantando novos debates sobre a sustentabilidade de uma sociedade que depende mais e mais de ambientes climatizados.

Em maio, o tema foi pauta de discussão no maior evento de tecnologia da Ásia, o Beyond Expo, acompanhado pela EXAME. Quando perguntados qual seria o próximo desafio ESG do planeta, três dos maiores empresários chineses não titubearam em responder "ar-condicionado".

"É um dos equipamentos, na soma, mais poluentes do mundo. Estar mais disponível a todos, com tecnologia mais limpa, é cada vez mais uma questão de saúde pública", disse Guo Guangchang, chairman da empresa de investimentos Fosun, cada vez mais focada em tecnologias verdes.

Reportagem desta semana da revista britânica Economist mostra que o uso de ar-condicionado pode triplicar até 2050, segundo algumas estimativas. É um cenário mais do que bem-vindo, reforça a publicação. Segundo o jornal científico The Lancet, o acesso a ar-condicionado evitou 200.000 mortes de pessoas acima dos 65 anos no ano de 2019, por exemplo.

O problema é que a energia necessária para fazer os aparelhos funcionar já responde por mais emissão de gás carbônico do que a indústria de aviação. Como a temperatura externa segue crescendo, a demanda de energia para manter ambientes internos controlados cresce junto, reforça a Economist.

A boa notícia é que novas tecnologias estão em estudo, por grandes empresas e por uma crescente leva de startups. Entre as maiores apostas estão inovações que reduzem a retirada de umidade do ar pelos aparelhos. Apenas esta alteração reduziria em um terço o consumo de energia e garantiria aos usuários um ar resfriado, mas mais úmido -- importante em momentos de seca extrema como o atual.

No Brasil, apenas 16,7% das casas têm ar-condicionado, segundo o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, com tendência de alta. Na África, o uso cai para 5% das residências. No continente africano, o aquecimento global ainda faz com que 18% da produção agrícola seja perdida por falta de armazenamento refrigerado, segundo outra reportagem desta semana da Economist.

As temperaturas globais estão em média 1.2 grau acima da época da Revolução Industrial. A média deve seguir crescendo e períodos extremos como o atual devem ser cada vez mais comuns. Neste cenário, o ar-condicionado é um alívio, e uma fonte crescente de preocupação.

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