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O valor da diversidade e a importância de caminhar junto

EXAME Plural | Ao rodar pelo Brasil, Salete da Hora, diretora de sustentabilidade da Eletrobras, percebe a importância do saber ancestral e o valor da diversidade

Salete da Hora: "Compartilhamos a mesma casa, a mesma história e o mesmo futuro. Somos diferentes, únicos e necessários" (//Divulgação)

Salete da Hora: "Compartilhamos a mesma casa, a mesma história e o mesmo futuro. Somos diferentes, únicos e necessários" (//Divulgação)

EXAME Plural
EXAME Plural

Plataforma feminina

Publicado em 12 de março de 2024 às 18h50.

Última atualização em 12 de março de 2024 às 19h20.

Por Salete da Hora

Em março de 2022 fiz minha primeira tatuagem. Levei 45 anos para encontrar algo que eu quisesse levar comigo, de forma definitiva e que valesse alguns minutos de dor. A imagem escolhida é parte de um conjunto de símbolos africanos, pertencentes aos povos Akan, localizados principalmente na região onde hoje fica Gana, chamados de Adinkras. Esses símbolos traduzem provérbios e ideias filosóficas. O Adinkra que se tornou mais conhecido é Sankofa, cuja imagem é um pássaro olhando para trás, lembrando-nos a importância de aprender com o passado para compreender o presente e transformar o futuro.

O que eu escolhi não tem um nome fácil de memorizar: Futumfunefu Denkyemfunefu. Ele apresenta a imagem de dois crocodilos siameses que se cruzam, ligados pelo estômago, formando uma espécie de mandala que simboliza a união pela diversidade e a ideia de que nossos destinos são compartilhados. Dois conceitos que compõem a minha visão de mundo, e que, a meu ver, são a chave para o desenvolvimento sustentável.

Eu estava no primeiro ano do ensino médio quando aconteceu a ECO-92. Meu professor de biologia usou o evento para discutir temas ambientais que ainda hoje são relevantes. Era a primeira vez que eu tinha contato com o pensamento ecológico e com a ideia de interdependência. Foi ali também que aprendi sobre a importância da biodiversidade para a construção de sistemas mais fortes e resilientes. Aos poucos, fui percebendo que essa ideia biológica se aplica a outros contextos, inclusive o empresarial, e fiz deles minha missão.

Estou há pouco mais de três meses trabalhando na Eletrobras. Um gigante verde, como queremos ser reconhecidos. Neste breve período de imersão, tenho vivenciado de forma muito impactante o sentido desses dois conceitos que trago na pele. Não consigo escapar do clichê de dizer que somos uma empresa de dimensões continentais. O fato é que estamos presentes em todos os estados do país, produzindo e transmitindo energia para milhões de pessoas. Essa geografia nos fortalece. Nossas reuniões são permeadas por uma deliciosa mistura de sotaques, culturas e experiências que me inspiram a querer conhecer cada dia um pouco mais da história que comecei a fazer parte.

Para isso, tenho o ambicioso plano de conhecer todas as nossas operações e projetos. Comecei com o pé direito, visitando a obra da linha de transmissão Manaus-Boa Vista. Um projeto fundamental do ponto de vista de sustentabilidade, que conectará o estado de Roraima — o único ainda não conectado — ao Sistema Interligado Nacional. Quando estiver concluída, essa linha de transmissão vai reduzir a geração de energia à base de combustíveis fósseis, aumentando a confiabilidade e segurança no atendimento à população local, diminuindo custos e as emissões de gases de efeito estufa. Uma contribuição tangível para a Agenda 2030.

Foi a minha primeira visita à Região Norte do Brasil. Além dos sabores amazônicos e a experiência única que é estar rodeada da beleza, os aromas e sons da floresta, fiquei encantada ao conhecer um pouco sobre o dia a dia da obra e a parceria que vêm sendo construídas com os Waimiri Atroari, comunidade indígena em cujo território a linha de transmissão passará. O cuidado com o canteiro é visível. O processo de supressão vegetal é cuidadoso e prevê o menor impacto possível. Ele é acompanhado e respeita as tradições dos kinja, como os Waimiri Atroari se autodenominam.

"Como toda grande obra, a linha de transmissão Manaus-Boa Vista tem seu cronograma minuciosamente planejado e seguido à risca. Ao ter contato com o plano, os kinja perceberam que, com a chegada das chuvas, o ritmo da obra teria impacto e atrasos pontuais seriam inevitáveis. Conhecedores da região e do ritmo da natureza, eles sugeriram uma mudança na programação para corrigir esses desvios"

Esse fato me chamou a atenção e é cheio de significado. Ele exprime o valor da diversidade e a importância de caminharmos juntos. Compartilhamos a mesma casa, a mesma história e o mesmo futuro. Somos diferentes, únicos e necessários. Não estamos em lados opostos e não queremos deixar ninguém para trás. Para mim, esse é o único mundo possível.

Salete da Hora é diretora de sustentabilidade da Eletrobras. 

A EXAME Plural é uma plataforma que reforça a cobertura de diversidade, com olhar mais profundo para mulheres. Neste mês de março, que marca mundialmente a luta por direitos femininos, mais de 20 lideranças femininas no ambiente corporativo, no empreendedorismo e na filantropia aceitaram compartilhar em suas vozes, histórias, visões, questionamentos, respostas, desafios e oportunidades percebidas ao longo de suas próprias jornadas.

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