ESG

O que tira o sono de Michael Bloomberg

Retrospectiva ESG 2022: “Estamos trabalhando com os governos para aumentar a produção de energia limpa, inclusive no Brasil”, diz Bloomberg em entrevista exclusiva para a EXAME

Michael Bloomberg: bilionário assumiu o cargo de enviado especial para ações climáticas dos EUA na gestão Biden (Pool / Equipe/Getty Images)

Michael Bloomberg: bilionário assumiu o cargo de enviado especial para ações climáticas dos EUA na gestão Biden (Pool / Equipe/Getty Images)

O bilionário, Michael Bloomberg, foi nomeado enviado especial para ações climáticas dos EUA no começo de 2021. Sua principal função no cargo é auxiliar negociações entre governos, empresas e instituições em prol da redução dos impactos das mudanças climáticas e, assim, apoiar o cumprimento das metas do Acordo de Paris. A decisão de Biden pela nomeação de Bloomberg é uma investida para tentar reposicionar os EUA em discussões ambientais importantes, após a gestão Trump. Mas o que será capaz de tirar o sono do bilionário?

O norte-americano, também foi prefeito de Nova Iorque e, hoje, é presidente e acionista  do grupo de mídia  Bloomberg L.P. Em 2020, o figurão esteve na lista de 20 maiores bilionários da Forbes. Além da sua vida pública, Michael é próximo da filantropia – a prova disso é que seu nome consta na lista dos 50 principais doadores a instituições de caridade e sem fins lucrativos, de acordo com a revista The Chronicle of Philanthropy. 

Não só de filantropia vive Michael Bloomberg. Assim como Bill Gates, o empresário é conhecido pela sua constante preocupação com a preservação ambiental, além de ter realizado grandes doações na área, o bilionário é presidente do conselho do C40 (Grupo de Grandes Cidades para Liderança do Clima), rede global com 97 grandes cidades associadas para traçar metas de redução de poluentes.

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Agora, como enviado especial, Bloomberg vive um novo capítulo em sua jornada. A sua inquietude com a questão parte de uma convicção do bilionário: que as mudanças climáticas não estão recebendo a atenção que mereciam. “A parte boa é que se você deixa de poluir em um lugar, o mundo todo se beneficia. A ruim é que se você polui, o mundo inteiro sofre”, afirma Bloomberg

Para Bloomberg, o problema é sistêmico. A questão funciona como uma moeda que tem duas faces. Se de um lado existe a necessidade de redução das emissões para evitar novos riscos climáticos, do outro, é preciso assegurar que os mais afetados não sejam os mais prejudicados pela transição econômica. Não é à toa que muitos especialistas e ativistas discutem a questão da justiça climática, para gerar um recorte justo, onde os países são responsabilizados de acordo com os impactos climáticos causados.  

Alcançar o equilíbrio nessa questão não é nada simples, como Michael Bloomberg pondera. Por esse motivo, é de extrema importância ter um olhar fresco e atento às inovações sociais e ambientais promovidas pela base da pirâmide, que passam – inúmeras e repetidas vezes – despercebidas pelo que poderia ser chamado de “mainstream econômico”.

Bloomberg e o Acordo de Paris

Um dos grandes objetivos do Acordo de Paris é permitir e fomentar a transição para uma economia de baixo carbono, ou seja, uma organização econômica que utilize baixos níveis de emissão de CO2. O Acordo ainda propõe que os países (ou a maioria deles) alcancem uma economia carbono zero até 2050, com algumas metas programadas para 2030. No entanto, o bilionário acredita que a transição energética está andando a passos lentos. Segundo ele, grande parte das soluções contra os riscos climáticos estão nas mãos dos países em desenvolvimento.  

Em entrevista exclusiva para a EXAME, Michael Bloomberg explica que, no contexto pós ECO-92, os governos nacionais eram os únicos agentes envolvidos em negociações climáticas. O que resultou em “pouco progresso em direção a um acordo global”, disse o enviado especial, “Em Nova Iorque, cortamos 13% das emissões em seis anos. Um número cada vez maior de cidades está agindo e, quando elas o fazem, mostram aos governos nacionais como o combate às mudanças climáticas e o crescimento econômico andam lado a lado. Mais e mais companhias também estão progredindo na redução das emissões. Elas entendem os incentivos de agir e os riscos de não agir. Quanto mais empoderarmos cidades, estados e empresas, mais rápido chegaremos a uma economia de energia limpa”.   

A importância brasileira na mitigação

Michael Bloomberg ainda comentou sobre a importância de existir sinergia entre grandes empresas e comunidades brasileiras para criação de soluções sociais inovadoras: “Outra maneira de apoiar a inovação do zero é por meio da colaboração. Todos os anos, sediamos o Bloomberg New Economy Forum, conferência voltada para a criação de parcerias entre fronteiras e os setores público e privado”, afirmou Bloomberg. 

“Um dos líderes destacados pelo fórum é Edu Lyra, CEO e cofundador da Gerando Falcões, organização focada no combate à pobreza no Brasil. Essa é uma oportunidade para apresentar o trabalho dele e de outros empreendedores e líderes do terceiro setor a uma audiência de líderes globais influentes”.

Segundo Bloomberg, a transição energética precisa acelerar e as empresas não estão progredindo tão rápido quanto poderiam. “Os riscos dessa lentidão aumentam a cada dia que passa”, observa. O bilionário também comentou durante a entrevista que defende um pacto global que enfrente os desafios incluindo os países mais afetados pelas mudanças climáticas e pelas externalidades da transição econômica. “Estamos trabalhando com os governos para aumentar a produção de energia limpa, inclusive no Brasil”. 

Além disso, Bloomberg ressalta algo que vem trazendo ao longo da sua fala: a importância da colaboração e inclusão dos países em desenvolvimento nessas pautas e discussões. “A pauta é global, mas em nenhum outro lugar encontra tanta relevância quanto no Brasil”, concluiu em entrevista exclusiva à EXAME

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